No dia 10 de março deste ano, irá ocorrer a 96ª cerimônia do Oscar, e concorrendo a 5 prêmios — incluindo melhor filme, direção, roteiro original, e atriz — temos o instigante Anatomia de uma Queda (2023).

Esqueça o fato que Greta Gerwig e Margot Robbie não foram indicadas — mesmo que o blockbuster juvenil Barbie tenha sido indicado à melhor filme ­­— pois Triet e Sandra são as mulheres que desafiam o estereótipo de como a sociedade patriarcal julga as mulheres — com maestria, e para adultos. É uma pena que a França (por politicagem) não tenha indicado o filme para concorrer na categoria ‘Melhor Filme Internacional’, pois seria uma vitória certa.

A diretora francesa Justine Triet (Sibyl,Two Ships) tece uma trama bilíngue — em francês e inglês — envolvente de mistério e introspecção, onde a escritora alemã Sandra (interpretada impecavelmente por Sandra Hüller) se vê no epicentro de uma tempestade emocional. Vivendo nos Alpes com seu marido francês Samuel (Samuel Theis) e o filho deficiente visual, de 11 anos, Daniel (Milo Machado Graner), a vida da família é abruptamente despedaçada quando Samuel é encontrado morto — desencadeando uma investigação complexa — não apenas sobre a morte, mas sobre as expectativas da sociedade sobre as mulheres.

Sandra é confrontada não apenas com as acusações de homicídio — apesar da causa da morte de seu marido não estar clara — as opções são homicídio, acidental e suicídio — mas também com as fissuras latentes em seu relacionamento. O tribunal se torna o palco onde as feridas do casamento são escancaradas e dilaceradas, revelando a tensão entre aspirações individuais e compromissos conjugais — e deixando o jovem Daniel confuso sobre em que acreditar.

A obra é um mergulho nas dinâmicas de poder subjacentes, destacando o desconforto da sociedade diante de uma mulher bem-sucedida que recusa desculpas por buscar o que deseja.

As expectativas sociais sobre mulheres ao abordar não apenas as acusações de homicídio — mas também a resistência de Sandra às normas tradicionais, e sua priorização da carreira — destaca o preconceito enfrentado por mulheres que buscam seus objetivos, que ainda ocorrem no século XXI.

Anatomia de uma Queda é um suspense judicial intrigante — e uma obra-prima que transcende gêneros — deixando o espectador com a ressonante incerteza da verdade, uma contemplação profunda sobre a natureza volátil das relações humanas, e sobre o papel que a sociedade patriarcal decidiu que as mulheres devem exercer: Um questionamento à estereótipos retrógrados.

Apesar da aparente liberdade, a sociedade misógina persiste em criticar mulheres independentes — convenientemente esquecendo que o lugar de uma mulher é onde ela quiser.