Ainda que não represente um retorno imediato da violência na Colômbia, a derrota neste domingo do referendo sobre um acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) provocou comentários cautelosos de alguns analistas sobre o quadro local. Na avaliação da consultoria Capital Economics, o resultado representa “um revés significativo para as perspectivas de médio prazo” do país sul-americano, embora não altere radicalmente as projeções para o curto prazo.

A Capital Economics ressalta que a rejeição do acordo de paz aumenta os riscos políticos. “Parece que a maioria dos colombianos pensou que o acordo era muito leniente com as Farc”, diz relatório da consultoria. O presidente Juan Manuel Santos era um ferrenho defensor do acordo e saiu enfraquecido das urnas.

“As próximas eleições presidenciais não ocorrem até 2018, mas é possível que Santos tenha agora mais dificuldade para governar”, avalia a Capital Economics. Ela destaca que um risco é que uma importante proposta de reforma tributária que seria introduzida no Legislativo neste mês agora possa ser atrasada ou desidratada. “Isso levaria a sérias preocupações sobre a posição fiscal do governo, que tem ficado cada vez mais pressionado pelos preços mais baixos do petróleo e pela desaceleração econômica”, alerta.

Já o banco japonês Nomura nota que ainda é cedo para captar totalmente as consequências do resultado. Além de destacar o enfraquecimento da figura de Santos, a instituição vê um quadro de incerteza política no país, com “implicações diretas para a economia por meio das reformas fiscais que devem ser apresentadas ao Congresso nos próximos dias”. Ainda assim, o Nomura acredita que o governo cumprirá o compromisso de apresentar o pacote de reformas até o dia 10, “principalmente porque quaisquer atrasos ameaçam levar a um rebaixamento imediato pelas agências de rating”.

O relatório do Nomura, elaborado por Mario Castro, diz que o ambiente político “deve pesar sobre o escopo das reformas que podem ser aprovadas”. O analista lembra que, durante os últimos anos, os mercados financeiros permaneceram indiferentes ao destino do processo da paz, em grande medida pela percepção de que não deveria haver grandes riscos para cima ou para baixo em termos econômicos. Agora, porém, “nós esperamos turbulência pela frente, diante das consequências diretas sobre a reforma fiscal”, diz. “Em particular, a maior incerteza política e o que isso significa para as reformas fiscais devem se refletir em uma curva de juros mais inclinada para os bônus soberanos locais e os swaps”, afirma o texto.