Cientista político e coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio (LAV-Uerj), João Trajano Sento-Sé vê a morte da menina Agatha Félix, de 8 anos, baleada em operação policial no Complexo do Alemão, no Rio, como “sintoma trágico do que estamos vivendo”. “Não é que vai haver um desastre, o desastre já está em curso. Cada dia que as coisas não se revertem é uma perda acumulada”, diz.

O desastre, diz ele, decorre da opção abertamente belicista na segurança pública e partidária da ação armada das forças policiais. “Há um estímulo quando o governador diz que vai usar sniper e mirar na cabecinha. É um tratamento desrespeitoso que não afeta só as vítimas das abordagens, mas todos os agentes de segurança que lidam com a sua atividade de forma profissional. É a radicalização do arcaico.”

O coronel José Vicente, da reserva da PM de São Paulo e consultor em segurança, aponta que as circunstâncias nas quais policiais disparam contra pessoas são ligadas exclusivamente com casos de legítima defesa, onde o agente ou uma terceira pessoa está sob risco de morte ou grave ameaça. “Não é para atirar, por exemplo, em uma pessoa que está fugindo, como parece ter sido o caso. Isso não se faz e é algo reconhecido mundialmente.” No Rio, ele vê um controle frágil da letalidade, seja por falha no treinamento dos novos agentes ou falta de supervisão adequada do que acontece na rua.

O coronel também faz ponderações quanto à relação entre a queda de indicadores e as sucessivas operações policiais. “Essa sucessão pode até levar à queda nos índices, mas não se consegue sustentar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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