Em alguns dias, Jair Bolsonaro (PL) deve ser condenado no STF (Supremo Tribunal Federal) por tentar um golpe de Estado depois de perder as eleições de 2022. Para situar Tarcísio de Freitas (Republicanos) na política brasileira, é preciso começar por aí.
Enquanto o ex-presidente acompanhava, da prisão domiciliar, seus advogados o defenderem diante dos ministros da Primeira Turma, o governador de São Paulo se reunia com deputados e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para pressionar o Congresso em direção a um projeto de anistia que livre Bolsonaro da cadeia, mas mantenha-o inelegível até 2030.
A articulação move Tarcísio em dois caminhos. De um lado, responde à desconfiança do bolsonarismo, vocalizada em especial pelo filho do ex-presidente, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e pelo pastor Silas Malafaia, que consideram o governador pouco empenhado em demonstrar lealdade ao ex-chefe e defendê-lo do cerco do Judiciário.

Tarcísio de Freitas abraça Bolsonaro: governador de São Paulo foi ministro do ex-presidente
Se a anistia for aprovada nos moldes desejados por ele, Tarcísio poderá ostentar o discurso de que, enquanto Eduardo bagunçava as relações comerciais do Brasil com os Estados Unidos e Malafaia atacava o ministro Alexandre de Moraes, sua operação junto ao sistema político, em Brasília, tirou o ex-presidente do caminho da prisão.
Do outro, não devolve a Bolsonaro o direito de ter o nome nas urnas em 2026, mas amarra sua gratidão para abençoá-lo como seu representante na iminente disputa contra o presidente Lula (PT), que já trata o ex-ministro como oponente a sua tentativa de reeleição.
Não só Lula. Representado por PP e União Brasil e distante do governo, o “centrão” explicitou a boa vontade com a ideia. Habituado à discrição, o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, admitiu o desejo de encampar uma candidatura ao Palácio do Planalto pela primeira vez. Até Valdemar Costa Neto convidou Tarcísio para o PL.
A fileira que se forma diante da provável condenação de Bolsonaro reflete, ao mesmo tempo, a tomada de consciência sobre a rejeição ao sobrenome — o que afasta Eduardo e atrasa Michelle, a ex-primeira-dama, na corrida eleitoral — e a percepção de que anistiar sem mexer nos direitos políticos é mais palatável aos caminhos institucionais. Mesmo o presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, disse que, depois da sentença, a anistia é “matéria para o Congresso”.
Com isso, Tarcísio acelera rumo à candidatura presidencial que nega pretender. Como escreveu Creomar de Souza, CEO da consultoria Dharma, o pedágio pago foi “declarar que não confia na justiça, articular a anistia e prometer o indulto”. Para vestir a faixa, no entanto, a história é outra. “Só com o bolsonarismo faltam votos. O risco é não convencer como moderado e não emplacar como radical”, concluiu o cientista político.