Após o caos que foi a pandemia do novo coronavírus, no começo de 2020, em relação a crise sanitária – gerada pela má gestão do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), alguns artistas resolveram se posicionar politicamente, seja em suas redes sociais ou ao dar entrevistas, algo que não era muito comum no passado.

Nomes como Anitta, Amado Batista, Ivete Sangalo, Gilberto Gil, Zezé Di Carmargo, entre outras personalidades, deram a cara a tapa e se posicionaram. Alguns escolheram um lado político, como Lula x Bolsonaro, já outros preferem manter o voto secreto, mas sempre expressando que não concordam com a atual gestão e a anterior.

A IstoÉ Gente conversou com Higor Gonçalves, jornalista especializado em gestão estratégica de imagem e marca pessoal (personal branding), que fez uma análise sobre o assunto e explicou porque cada vez mais os famosos têm falado abertamente sobre política, sem ter medo de perder seguidores, contratos de trabalho e ficar mal com o público.

“Diversos fatores levam artistas, celebridades e famosos em geral a se posicionarem, a fazerem oposição ou a permanecerem publicamente isentos quando se trata de política: afinidades ideológicas, estratégias de visibilidade, impulsionamento de carreiras, cobranças do público ou receio da perda de patrocinadores, dentre vários outros motivos”, começou Higor.

“Do ponto de vista do marketing, existem prós e contras em posicionar-se politicamente. Quando um artista apoia uma ideologia, por exemplo, ele associa sua imagem àquela visão de mundo. Essa chancela pode trazer benefícios ou prejuízos à reputação no curto prazo, e, em última instância, ao próprio legado no longo prazo. A História está repleta de casos de artistas que comprometeram suas biografias ao expressarem apoio público a regimes, governantes ou a doutrinas político-partidárias. Por outro lado, deixar de se manifestar abertamente sobre as próprias convicções transmite a impressão de falta de transparência. Embora ninguém seja obrigado a posicionar-se publicamente sobre política ou qualquer outro assunto, é esperado que artistas o façam, justamente por serem pessoas públicas, que vivem da própria imagem e têm o poder de influenciar e mobilizar as demais”.

“No Brasil, com o crescimento da polarização política e da pressão pública impulsionada pelas mídias sociais nos últimos anos, os artistas se viram cobrados, “intimados” a tomar partidos sobre os mais diversos assuntos. Existem riscos e oportunidades: a manifestação sobre qualquer tema só faz sentido quando a relação do artista com o assunto está enraizada em valores e princípios que ele acredita e pratica. Coerência é a palavra-chave. O público sabe distinguir o que é um ato legítimo ou uma ação oportunista”.

“Tomar partido acarreta riscos. Mas, não se posicionar, dependendo do cenário, também pode ser uma péssima estratégia. O que fazer, então? Avaliar o contexto e ponderar os riscos, considerando que, toda e qualquer opção trará consequências”, finalizou o especialista em gestão estratégica de imagem e marca pessoal.