Já se foi a época em que nos debates eleitorais se colocavam propostas à frente de ataques. Claro, tinha alguns enfrentamento diretos com calúnias, mas nada que tomasse um protagonismo maior que o próprio debate.

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Quem não lembra de Lionel Brizola, em 1989, chamando Paulo Maluf de “filhotinho da ditadura”, enquanto o ex-governo rebatia ao chamar o gaúcho de “desequilibrado”. Ou a troca de “cala bocas” entre Marta Suplicy e Maluf no debate da Band pela prefeitura de São Paulo em 2000.

Passados 24 anos, o cenário é completamente diferente. Ao invés de se atacar por meio de propostas e, em poucas perguntas, “puxar a capivara” do adversário, os candidatos têm partido para ataques diretos, acusações graves e até cadeiradas no estúdio.

Em São Paulo, todos os debates até aqui tiveram algum barraco. Desde “cheirador de cocaína” até uma agressão, foram pelo menos quatro debates com baixaria. Mas, ao que parece, essa estratégia estão com os dias contados.

O debate promovido pela RedeTV!/UOL nesta terça-feira, 17, deu indícios de que as baixarias podem ser reduzidas nos próximos enfrentamentos na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Os candidatos ignoraram as estratégias de ataques, evitando os famosos cortes nas redes sociais.

O caso à parte foi Pablo Marçal (PRTB) e Ricardo Nunes (MDB), que protagonizou um barraco logo no início do debate. Marçal usou a mesma estratégia de todos os outros debates e já partiu para o ataque na primeira fala. Disse que José Luiz Datena (PSDB) cometeu uma tentativa de homicídio ao lhe dar uma cadeirada e disse que Nunes roubou dinheiro de merendas de creches.

As acusações tomaram rumos maiores quando Marçal citou a esposa de Nunes e disse que o prefeito deveria estar na cadeia. Nesse momento, Nunes e o ex-coach bateram boca no estúdio, ignorando as regras, as interferências da mediadora, Amanda Klein, e os 9,3 milhões de eleitores da capital paulista.

Com ânimos controlados, o candidato do PRTB investia em ataques a Datena, Guilherme Boulos (PSOL) e Nunes. Os três candidatos passaram a ignorar as investidas e minando as chances de Marçal de aparecer. Durante o resto do debate, o ex-coach, que tinha sido protagonista na maioria, sucumbiu ao cargo de coadjuvante.

As provocações de Marçal nos outros debates só conseguiram surtir efeito com o elemento surpresa. Quando o jogo do ex-coach foi compreendido pelos candidatos, as tentativas de afetar os adversários foram em vão. Marçal também ficou enfraquecido por não poder usar os apelidos como “bananinha”, “Dapena” e “Boules”. A sensação é que o candidato do PRTB se perdeu ao não poder usar os termos para atacar os demais postulantes ao Edifício Matarazzo.

Outra que mirou ataques diretos foi Marina Helena. A candidata do Novo acusou Tabata Amaral (PSB) de usar jatinhos para visitar o namorado, João Campos (prefeito de Recife). Aos jornalistas, Marina disse que recebeu informações sobre as denúncias, mas se recusou a apontar provas.

Tabata apontou que as declarações são mentirosas e, durante seu tempo de fala, ignorou Marina Helena para começar a falar de propostas para a educação. Apenas após o debate, a deputada se pronunciou e disse que entrará com processo contra a ex-secretária de Paulo Guedes caso ela não se retrate.

Outro ponto de atenção é que as emissoras já sacaram a estratégia de Marçal e tem se adaptado a ela para evitar os cortes. No debate desta terça, por exemplo, os câmeras cortaram a imagem do candidato quando tentava fazer suas marcas ou até quando ironizava o adversário.

Por fim, o debate da RedeTV! seguiu o mesmo da TV Cultura. Mesmo com barracos pontuais (e uma agressão ao vivo), o nível parece ter aumentado, os candidatos têm se mostrado adeptos à modalidade tradicional e percebido que os ataques podem causar um “efeito Marçal”, aumentando a rejeição do eleitorado.