Se o clima pesado nas eleições municipais em São Paulo no primeiro turno já não fosse suficiente, os candidatos à Prefeitura parecem sentir saudades dos tempos em que os debates eram repletos de ataques. O debate da Record/Estadão, realizado neste sábado, 19, exemplificou bem esse retorno aos embates agressivos.

Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) passaram o debate inteiro trocando acusações e deixaram as propostas de lado desde a primeira pergunta. Ataques e trocas de farpas foram os protagonistas do evento.

Logo no início, Nunes partiu para o ataque e afirmou que Boulos “defende a bandidagem”. O candidato do PSOL rebateu prontamente, dizendo que defende apenas a igualdade de tratamento entre os moradores de bairros de classe alta e baixa.

O prefeito deixou clara sua estratégia: acenar para o eleitor evangélico e, principalmente, para os bolsonaristas. Usou pautas ideológicas para pressionar Boulos de todos os lados, mencionando temas como aborto, fim da Polícia Militar e liberação das drogas.

Guilherme Boulos conseguiu driblar as acusações e aproveitou para atacar Nunes, citando as investigações sobre a Máfia das Creches e um incidente em que o prefeito teria disparado um tiro em uma balada em São Paulo. Em dado momento, o psolista chamou Nunes de “bandido” e afirmou que ele não deveria estar no debate.

O candidato do PSOL manteve a estratégia de pedir que Nunes abrisse seu sigilo bancário. Nunes rebateu, dizendo que Boulos não tem moral para fazer tal pedido, afirmando ainda que tem uma vida limpa e que o processo relacionado à Máfia das Creches foi arquivado — o que não é verdade.

As falas de Boulos claramente irritaram Nunes, que respondeu com uma série de ataques. Acusou o psolista de ser invasor de terras, responsabilizou o PSOL e o governo pelo atraso em projetos na segurança pública, mencionou pautas nas quais o deputado votou contra e o acusou de pedir ajuda do pai para pagar uma indenização após um acidente de carro. O site IstoÉ teve acesso ao processo, que confirma a fala do prefeito.

Esse foi o tom de todo o debate. As propostas ficaram restritas a dois breves momentos de confronto entre os candidatos. Até nas perguntas dos jornalistas, ambos preferiram usar o tempo para atacar a imagem do adversário.

E, claro, como em todo debate, houve fuga de perguntas. Questionado se andaria na Praça da Sé às 23 horas, Nunes titubeou e afirmou que viu crianças brincando em uma das praças mais perigosas da cidade nesse horário.

O debate da Record/Estadão foi o penúltimo do segundo turno das eleições municipais deste ano em São Paulo. O próximo será na sexta-feira, 25, na TV Globo.