Diz o provérbio português que “quando o navio afunda, os ratos são os primeiros a abandoná-lo”. As críticas feitas pelo ex-astrólogo Olavo de Carvalho a Jair Bolsonaro desencadearam uma guerra entre as facções do bolsonarismo. Ao afirmar que foi usado pelo presidente como “poster boy”, expressão que significa “garoto propaganda”, o ex-guru tenta desvencilhar sua imagem de um governo que afunda em sua própria incompetência. “Minha influência sobre Bolsonaro é zero. Ele me usou para se promover, para se eleger. Depois disso, não só esqueceu tudo o que dizia, como até meus amigos que estavam no governo ele tirou”, reclamou o ideólogo de 74 anos, que vive dos seus cada vez mais esvaziados cursos online nos EUA.

Como toda crise que envolve o governo federal, a arena usada pelos ataques foi o ambiente virtual. É o mundo paralelo que restou a essas criaturas e o único lugar em que ainda têm alguma relevância, pelo número de seguidores – inflados por dezenas de milhares de robôs, obviamente. Desta vez entraram no ringue das redes sociais o blogueiro Allan dos Santos, alvo de um pedido de prisão feito pela Polícia Federal em 16 de setembro, uma vez que ele “prossegue praticando crimes” mesmo depois de deixar o Brasil. Allan está nos EUA e é suspeito de ter usado seus canais nas redes sociais para lavagem de dinheiro.

Do outro lado do ringue está Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares, responsável por destruir a credibilidade de uma instituição que, originalmente, tinha como objetivo promover a cultura negra. Em 23 de dezembro, em resposta à mensagem de Olavo com críticas a Bolsonaro, Sérgio Camargo fez um post no Twitter defendendo o presidente, alegando que ele jamais precisará de um “professor”, entre aspas, ironizando o tom usado por Olavo, que se autoconsidera alguém com algo a ensinar: “Jair Bolsonaro seria um autêntico conservador ainda que absolutamente nenhum intelectual jamais tivesse escrito um único parágrafo sobre conservadorismo”, escreveu Camargo.

Olavo reagiu: “essa é a coisa MAIS CRETINA que um bolsonarista já escreveu”. Na sequência foi defendido por Allan dos Santos, no Telegram: “O Brasil pariu uma horda de analfabetos que se não estivessem na política não seriam capazes de ensinar uma única e mísera coisa sequer. Vivem do salário que recebem do Estado e assim que dele sair não serão capazes de organizar um grêmio estudantil. Esse Sérgio Camargo é um deles.”

Camargo, mais uma vez, retrucou: “O brasileiro é, majoritariamente, conservador, e nunca leu Olavo de Carvalho. Nem assistiu ao Terça Livre. Quem fala de ‘carguinho’ sofre de inveja e interesse contrariado. É um oportunista fracassado”. Allan dos Santos respondeu com sua habitual elegância: “você tem uma longa estrada para falar de mim e do Olavo, seu moleque de merda”. Os ataques de ambos os lados seguiram, sempre virulentos e mantendo o baixo nível que já é característico das figuras envolvidas.

A única coisa interessante sobre essa briga é que ela demonstra o desespero das hordas bolsonaristas com o possível fim da mamata que terá início assim que o presidente for escorraçado nas urnas. Outra curiosidade é constatar que, pela primeira vez na vida, Olavo de Carvalho, Allan dos Santos e Sérgio Camargo têm razão: são analfabetos, oportunistas fracassados e têm uma única coisa a ensinar: o jeito mais rápido de abandonar um navio.