Nada dói mais dentro do coração do que ver um filho sofrer. Nada. Na semana passada, o desabafo da americana Jessica Medinger sobre o duro cotidiano vivido ao lado do filho Drake, dez anos, em luta contra o câncer, emocionou o mundo ao mostrar, mais uma vez, que dor e amor não têm tamanho numa relação pais e filhos. Sofrimento e ternura são infinitos. Em sua página do Facebook, Jessica publicou um post no qual descreve a realidade impiedosa imposta pela doença, que obriga um menino, apenas um menino, perguntar a ela se quando ele morrer conseguirá chegar ao paraíso ou se irá reencontrar-se com o pai. Uma doença que leva Drake para sua cama à noite porque ele tem medo de ficar sozinho e de que algo aconteça. Por algo, ele quer dizer morrer. “Isto é sobre seu filho na cama à noite com você porque ele tem medo de algo acontecer e ele estiver sozinho, e por algo significa morrer. Isto é ter conversas no meio da noite com um menino de dez anos perguntando se, se ele morrer, vai para o paraíso e se verá o pai e se será capaz de brincar e de jogar com ele”50

Junto com o texto, Jessica publicou uma foto do filho no banheiro, chorando, de fralda, pele e osso. “A foto é de hoje de manhã, e antes de você gritar e chorar ‘por que ela postou uma foto dele de fralda, uma indecência’, bem… não mostra mais do que uma sunga. Porque a vida não é sempre politicamente correta e bonita, é real. A vida não é bonita, e o câncer destrói a pessoa.”
O post viralizou e em poucos dias alcançou mais de cem mil compartilhamentos. Os mais críticos podem dizer que Jessica errou ao expor tanto o filho. Mas ela própria tratou de explicar logo no início do seu texto que desejava relatar que a guerra é dura, feia, muitas vezes as pessoas se sentem sós e sem força e que isso precisa ser dividido também. “Para todos que estão na batalha contra o câncer ou enfrentando uma quimioterapia. Para todos que estão passando por essa doença horrível. Isto é sobre realidade, dura realidade”, avisou.

Drake trava sua guerra particular contra a leucemia desde setembro de 2012. Em março do ano passado, entrou em remissão, o termo médico usado para designar que não há atividade da doença. A boa notícia veio em março. Em abril, o menino já jogava bola com os amigos. A vida parecia ter voltado ao trilho normal. Seis meses depois, no entanto, mãe e filho receberam a notícia do diagnóstico de um tumor de testículo. Drake voltou à rotina de exames, hospitais, quimioterapia.
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Desde então, a vida tem castigado Jessica e o filho. No post, um pouco do dia a dia avassalador. “Isto é pele e osso porque eu tenho que implorar para que ele coma um grão de feijão ou beba um copo de água durante todo o dia… Isto é sobre ele estar tão fraco para se levantar da cama ou caminhar que precisa ser carregado ou levado em uma cadeira de rodas. Isto é sobre ele adormecer quando alguém fala com ele porque está exausto”, escreveu.

A dificuldade até para ajudar o menino a tomar seus remédios também foi relatada por Jessica. “Isto é ele vomitando todo medicamento que dou a ele e ele seco, magro, porque seu estômago está vazio, exceto pela colher de iogurte que acabei de dar a ele junto com as pílulas. Isto é ter que tomar 44 comprimidos na semana passada em apenas 24 horas.”

O desabafo escancara ainda aquelas situações pelas quais nenhuma criança e nenhum pai deveriam passar. Sofrimentos que simplesmente não deveriam existir. “Isto é ele falando para mim ‘mamãe, eu não vou conseguir. Isto é ele não querendo ser tocado, porque dói demais, e usar morfina durante todo o dia. Isto é sobre ele me dizer que está com medo de não conseguir comemorar seu aniversário de onze anos. Isto é ele e eu dizendo a ele que continuarei a lutar por ele quando ele não puder mais. Isto é ele, eu e nosso mundo.”49

A vida crua, bruta, descrita por Jessica em seu texto é a realidade dos pacientes em luta contra o câncer. Ao contar isso de forma tão direta, a mãe de Drake consegue algo precioso para quem vive a mesma tragédia, a empatia, e extrai de quem tem a sorte de não passar por isso uma solidariedade ímpar. Ela recebeu centenas de mensagens de apoio. Mais do que isso, a narração da mãe americana lembra a todos o que é ser humano, o que é ter medo, se sentir frágil, se sentir cansado, e o que é, ao mesmo tempo, ter dentro de si um amor tão grande que nos faz seguir em frente. No fim de sua declaração de amor infinito pelo filho Drake, as palavras de Jessica são definitivas. “Isto é ele, Drake, meu mundo inteiro. Do momento em que eu me descobri grávida até o futuro adiante, ele tem sido minha razão de viver. Ele é meu sorriso, meu amor, meu batimento cardíaco. Ele é também minhas lágrimas, a dor do meu coração, minha preocupação. Ele é minha vida.”

“Isto é ele falando para mim `mamãe, eu não vou conseguir. Isto é ele não querendo ser tocado, porque dói demais”