Casados na vida real, os atores Lázaro Ramos e Taís Araújo já dividiram a cena em trabalhos como a peça O Topo da Montanha e a série Mister Brau. Agora, por causa da pandemia, eles voltam a interpretar um par na ficção. Explica-se: eles são protagonistas de um dos quatro episódios da nova produção da quarentena da Globo, a série Amor e Sorte, que estreia nesta terça, 8, após Fina Estampa – e, assim como outros produtos do isolamento, foi realizada a toque de caixa como um retrato do que o mundo está vivendo hoje. No caso, o recorte escolhido pelo criador da série, Jorge Furtado, foi o dos relacionamentos em tempos de pandemia, e como a convivência forçada de 24 horas por dia entre casais ou pais e filhos coloca à prova essas relações.

Foram escalados atores que estão confinados juntos: além de Lázaro e Taís, fazem parte do elenco outros dois casais, formados por Caio Blat e Luisa Arraes, e Emilio Dantas e Fabiula Nascimento; e também mãe e filha, Fernanda Montenegro e Fernanda Torres. Cada dupla estrela um episódio, que vai ao ar toda terça. São histórias independentes: três delas foram gravadas remotamente, com direção artística de Patricia Pedrosa; e a outra, protagonizada pelas Fernandas (e que vai ao ar nesta terça, 8), rodada in loco, com direção artística de Andrucha Waddington, marido de Fernanda Torres.

O episódio Linha de Raciocínio, com Lázaro Ramos e Taís Araújo, será exibido no dia 15, com texto de Alexandre Machado e direção de Lázaro. Eles vivem Cadu e Tabata, que reagem de forma divergente a um panelaço, transformando uma crise política em uma crise no casamento. “Eles vão tirando toda a mágoa guardada na pandemia e jogando um na cara do outro”, descreve Taís, em entrevista ao Estadão, por Zoom, da casa deles, no Rio, ao lado de Lázaro, que emenda: “Sabe quando você está na pandemia, você não fala nada e, de repente, o copo está fora do lugar, fala do copo e acaba falando da vida sexual (risos)”.

Assim, os novos personagens de Lázaro e Taís entram para o rol dos casais cunhados por Alexandre Machado, autor de séries como Os Normais e Separação?!, cujos textos foram assinados em parceria com sua mulher, Fernanda Young, que morreu em 2019. “Acho que ele é um dos caras que, na comédia brasileira, melhor escreveram histórias de casais. Os Normais está na nossa memória afetiva até hoje. Acho que essa é uma das qualidades do episódio: é mais um desses casais com o texto desse grande autor que é o Alexandre Machado”, diz Lázaro.

Na vida real, Taís e Lázaro enfrentam os próprios altos e baixos do confinamento, no dia a dia ao lado dos dois filhos, João Vicente, de 9 anos, e Maria Antônia, de 5. “No começo, era tudo bem angustiante. Eu particularmente me sentia incapaz de lidar, estava seguindo como um trator nos cuidados com casa, com filhos, com família, com os parentes que estão distantes, mas todo final de dia eu pensava: ‘Será que vou dar conta disso tudo, será que tenho repertório para lidar com isso tudo?’”, comenta o ator.

“Você não dormia…”, lembra Taís. “Nas primeiras noites, eu não conseguia dormir”, concorda ele. “A gente estava muito desestabilizado emocionalmente. Ao contrário do Lázaro, eu passava o dia muito instável emocionalmente, chorava e ria, e à noite eu dormia bem tranquilamente (risos)”, comenta Taís. “Ele segurou muito a minha onda, porque eu estava muito instável emocionalmente e, coitado, ele não dormia de noite.”

Daí a importância de ter surgido o convite, feito por Jorge Furtado, para eles participarem de Amor e Sorte, ressaltam os dois. Mesmo com o susto que eles tomaram com a rapidez com que o projeto foi realizado. “Teve uma coisa que foi muito importante, bonita para a gente que foi a gravação da série. Acho que, no meio do caos que a gente estava vivendo, a gente gravar, exercer nosso ofício, o que a gente gosta… Foi muito difícil gravar, porque a equipe remotamente e a gente trabalhando em casa, às vezes, tinha esforço físico e mental, e ainda o desejo de fazer bem-feito e dois filhos”, diz Lázaro. “Não é que estávamos em casa com dois filhos adolescentes, são duas crianças pequenas”, observa Taís. “Isso dava um cansaço, mas, ao mesmo tempo, foi o que mudou o clima dentro da nossa casa. Para a gente, por estar trabalhando, foi um refresco. A gente começou a ter mais humor”, afirma Lázaro.

É como se a rotina no set dos Estúdios Globo fosse transferida para dentro da casa deles, com direito a uma grade de horários a ser cumprida, incluindo o momento camarim e a pausa para o jantar. Com a diferença, entretanto, de que tudo foi decidido, e feito, a distância. Todo o equipamento para as gravações, e também peças de figurinos, de cenografia, entre outros objetos foram enviados, higienizados, à casa do casal. “Antes, eu estava pensando que ia ser tudo artesanalzinho, tanto é que comecei a testar coisas. Só que eles (a emissora) foram além: inventaram uma mala, que é de muito fácil operação, onde tem operação de som, de câmera através da internet. A equipe fica remotamente de casa. É uma coisa que comprova como a gente pode se reinventar nas situações mais difíceis, porque um equipamento desse ocuparia um caminhão, e um ou dois caminhões se tornaram uma mala”, conta Lázaro.

No caso deles, as gravações eram noturnas. “Tinha uma coisa que era muito engraçada: dava 5 horas da tarde, parecia que a gente estava dentro dos Estúdios Globo, uma voz falava: ‘Boa tarde, Taís’, ‘boa tarde, Lázaro’. Era tudo organizado. Isso também era curioso, divertido. Uma nova maneira de a gente realizar nosso trabalho”, diz a atriz. “A gente pensava: Só nós dois? E os outros profissionais que são absolutamente necessários?’. E eles continuam sendo absolutamente necessários, eles também se reinventaram. A gente precisa deles e eles estavam lá para a gente”, completa ela, referindo-se aos profissionais que trabalham nos bastidores das produções, como figurinistas e equipe de arte, e que seguiram atuando de forma remota.

Lázaro disse recentemente a Ingrid Guimarães, no programa Além da Conta: Novo (A)Normal, do GNT, que pensava que ia se separar de Taís nesta quarentena, por causa dos desafios de trabalhar juntos, e cuidar da casa e dos filhos. Foi mesmo? “Não é tanto assim, isso é mais o superlativo da comédia, porque não vou largar a minha mulher por causa de uma pandemia, porque ela não é mais forte que a gente (risos)?”, responde o ator. “Apesar do desejo (risos)”, diverte-se Taís. “Não… A gente vivia brincando: quem passar por essa pandemia casado não separa nunca mais. A pandemia é um teste. Cada notícia de separação de amigo ou que o fulano brigou, a gente falava: não sobrará casal sobre pedra. Mas também é o que traz toda a dificuldade: ou você desiste ou você fortalece. Estou contando com esse fortalecimento aí.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.