Na pele de Edith, grande amor da vida de Raul Seixas, na série documental “Raul Seixas: Sou Eu”, da Globoplay, Amanda Grimaldi mergulhou fundo na história do cantor para compor a personagem, que foi parte importante da trajetória do músico baiano, apesar de ter sofrido com os vícios e adultérios cometidos pelo artista.
“Eu tive pouquíssimo material para compor a Edith, porque quando ela terminou com o Raul, ela terminou com tudo mesmo, com todos os vínculos. E isso quer dizer muita coisa, né? A sabedoria dela seria lançada muito através do olhar, dos gestos mínimos para comunicar a alegria, a admiração, a ironia, a revolta e a tristeza dela”, declara em entrevista à IstoÉ Gente.
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“Eu não quis fazer uma Edith musa e longe também de ser uma Edith sofredora. Eu acho que ela foi uma mulher vivendo aquele tempo trocando com aquele companheiro que era nada mais nada menos que Raul Seixas. Ela foi muito corajosa e firme de ir contra as origens da família, que era norte-americana de da igreja protestante.
Declínio do amor
Amanda acredita que o fim do romance de Edith e Raul Seixas foi uma junção de situações que motivaram isso.
“O declínio da relação está muito ligado às consequências desse sucesso, dos vícios, dos adultérios. Eu acho que teve uma grande mágoa ali, um sentimento de abandono, de revolta, de não ter uma condução da parte dele, o que eu entendo dessa história do Raul descuidado a isso… Ele traiu ela, e ela estava ali sempre de um alicerce”, justifica.
“A Edith deu o chão para as quedas dele. Ela ficou contornando isso, só que em algum momento as coisas poderiam romper. A Edith foi corajosa, por ser uma norte-americana, filha de um pastor protestante, mais conservador, que se apaixonou por um rockstar”, completa ela, que acredita que foi Raul o responsável pelo fim da relação.
“É ele quem escolhe esse fim. Ela fala ‘então é isso’, mas quem degringola, quem começa a não participar mais da construção dessa relação é o Raul, não é a Edith”, argumenta.

Edith (Amanda Grimaldi) – Ariela Bueno
A mulher na vida de um rockstar
Ao ser questionada a respeito do papel de uma mulher na vida de um rockstar, partindo de outros exemplos da vida real, nos quais a figura feminina geralmente é rotulada como uma parte sensível da relação com homens egocêntricos, que precisam estar sempre acompanhados de alguém que eles possam enganar ou decepcionar.
“É bem isso e é uma pena, mas estamos tentando caminhar. Raul Seixas, para mim, quanto artista, é maravilhoso. Ao mesmo tempo, a série me permitiu conhecer esses contrastes dele e da humanidade. [Antes de ser um rockstar] Raul era um homem, que também aproveitou dos seus privilégios e das suas liberdades – que não eram as mesmas das suas companheiras”, lamenta.
“Eu, como artista, compro o disco, mas eu jamais namoraria Raul Seixas. A mulher sempre tem uma figura masculina, um namorado, um pai que consegue tirar alguns brilhos, tem sempre uma crítica, e é difícil sair dessa reprodução do machismo que está aqui na gente”.

Raul Seixas (Ravel Andrade) – Ariela Bueno
Carreira de DJ
Não é apenas na ficção que Amanda Grimaldi tem de lidar com os desafios de uma cultura machista. A atriz também é DJ e nota diferenças entre as oportunidades de trabalho que surgem para homens e mulheres no mercado fonográfico.
“Os meus colegas ocupam mais espaço do que as minhas colegas, e eu sou uma delas. Mas feliz de fazer parte dessa cena, acho que a gente também está cada vez mais olhando para isso. Apesar disso, acho que quem precisa olhar mais para isso são os contratantes, quem está produzindo, e essas figuras são homens na maioria das vezes”, diz.
“A gente está mudando isso aos poucos para que as pessoas possam perceber que tem muita DJ mulher maravilhosa, e muitas até mais do que meus colegas homens”, ressalta a atriz, que encabeça o “Transpira” ao lado da também atriz Camilla Molica.
“Somos conhecidas por os nossos sets serem vibrantes e dramáticos. A trajetória da ‘Transpira’ sempre foi uma fronteira borrada com a coisa performática, teatral, então a gente sempre usou desses outros recursos no nosso set. Hoje, a coisa está mais intimista”, encerra.