Apesar de ter acabado há quase oito décadas, o maior conflito da história nunca rendeu tantas histórias como agora. A Segunda Guerra Mundial continua sendo uma das maiores fontes de inspiração para criadores de filmes e séries — uma nova leva de boas produções apenas confirma que ainda há muitas tramas a serem contadas sobre o período e que o tema se mantém atraente.

Steven Spielberg nunca teve dúvida disso. O cineasta lança agora a terceira parte da trilogia que assina ao lado do ator Tom Hanks sobre o confronto — os primeiros foram o filme O Resgate do Soldado Ryan e a série Band of Brothers (Irmãos de Guerra).

Os nove episódios de Mestres do Ar (AppleTV+) são baseados no livro homônimo do historiador Donald I. Miller, lançado no País pela editora Record.

A obra conta a história do lendário 100º esquadrão de bombardeiros aéreos, liderados pelos majores Gale Gleven (Austin Butler) e John Egan (Callum Turner). O regimento, famoso por sua coragem, também ficou conhecido pelo alto número de óbitos e aviões abatidos.

Em pouco mais de dois anos, perderam 732 pilotos e 177 aeronaves. Assim como nos outros dois capítulos da trilogia, a série, com direção primorosa de Cary Joji Fukunaga (True Detective), foca nas incríveis cenas de batalhas aéreas, nas relações de amizade entre os combatentes e no companheirismo entre os soldados.

Como excelente contador de histórias que é, Spielberg sempre soube que a Segunda Guerra era um terreno fértil. Após o sucesso com Tubarão e Contatos Imediatos do Terceiro Grau, o cineasta norte-americano dirigiu em 1979 o filme 1941 —Uma Guerra Muito Louca, comédia sobre a fictícia invasão japonesa à Califórnia após o ataque de Pearl Harbor.

Spielberg constatou ali que o tema não rendia boas piadas, e o filme foi um fracasso. Aguardou catorze anos para voltar ao assunto e, com ele, obteve seu primeiro Oscar, com A Lista de Schindler, em 1993 (o segundo foi justamente com O Resgate do Soldado Ryan, em 1998).

Amizade, banalidade e amor dão o tom de novas séries sobre a II Guerra
‘Toda a Luz que não Podemos Ver’: o amor tenta resistir aos bombardeios (Crédito:Divulgação )

A tragédia do Holocausto volta à cena em Zona de Interesse, de Jonathan Glazer. Seu filme, no entanto, apresenta uma abordagem oposta em relação à Lista de Schindler, por exemplo. Ao contrário de expor as crueldades das câmaras de gás de Auschwitz, Glazer opta por retratar o cotidiano de um oficial alemão que mora ao lado do campo de concentração.

As referências ao assassinato de judeus são exibidas apenas em detalhes furtivos, o pó que suja as botas do oficial ou a sirene que anuncia ao longe as execuções.

De resto, o oficial e sua família vivem tranquilamente, recebendo amigos e desfrutando de atividades normais. O filme de Glazer incomoda mais pelo que não mostra do que pelo que exibe na tela. Destaque para Sandra Hüller, esposa do oficial, representação perfeita da “banalidade do mal” formulada anos mais tarde pela pensadora Hannah Arendt.

Amizade, banalidade e amor dão o tom de novas séries sobre a II Guerra
‘Zona de Interesse’, de Jonathan Glazer: vida normal ao lado de Auschwitz (Crédito:Divulgação )

Outra boa prova de que a Segunda Guerra ainda rende tramas surpreendentes é a minissérie Toda a Luz que não Podemos Ver (Netflix), baseada no romance de Anthony Doerr. Conta a vida de uma família que apoia à Resistência durante a ocupação nazista da França.

Dois jovens, uma francesa e um alemão, se conhecem graças às ondas do rádio. Ela transmite mensagens contra a invasão; ele é um radioamador com a missão de descobrir e interceptar as transmissões dos rebeldes. Entre tantos dramas humanos, a série mostra que a Segunda Guerra tem espaço até para as histórias de amor.