Alguns anos atrás, Emily Gardner, que se identifica como “mais feminina do que não”, instruiu seus familiares sobre uma nova preferência a ser chamada pelo pronome “they” (que em inglês é usado tanto para “eles” como “elas”) em vez de por “ela”.

A jovem de 23 anos representa uma tendência crescente entre os americanos progressistas, que reivindicam o direito de escolher seu próprio pronome, independentemente do sexo de nascimento.

É uma batalha que se desenvolve em cartões de visita, assinaturas de e-mail e redes sociais, onde muitas pessoas estão identificando seu pronome preferido.

E o “they” está ganhando terreno como pronome de escolha por pessoas “não binárias” que não se identificam nem como homens nem como mulheres.

A livraria da Filadélfia que emprega Gardner apoia esse movimento, com uma placa colada no balcão que diz: “Por favor, não pressuponha os pronomes dos funcionários, pergunte”.

– ‘Não é algo novo’ –

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“Pessoas não binárias existem desde sempre. Não é algo novo, não é uma tendência, é apenas quem somos”, disse Pidgeon Pagonis, um artista de Chicago que prefere ser chamado pelo pronome “they”.

“Quando as pessoas não respeitam meus pronomes, eu me enrolo por dentro, não me sinto bem”, disse Pagonis, que lançou a marca de roupas “Too Cute To Be Binary” (Fofo demais para ser binário).

Pronomes neutros quanto ao gênero, há muito confinados à comunidade LGBTQ, “estão se tornando cada vez mais populares, inclusive além das grandes cidades”, disse a socióloga Carla Pfeffer.

“O surgimento das mídias sociais significa que as transformações culturais podem acontecer mais rapidamente e se disseminar mais amplamente do que nas épocas anteriores”, disse Pfeffer.

Também ajuda que pessoas não binárias desfrutem de uma maior representação na televisão e na cultura pop, como o artista britânico Sam Smith, que recentemente revelou uma preferência pelos pronomes neutros “they/them” depois de “uma vida inteira em guerra com meu gênero”.

No entanto, o uso do “they” também gera críticas de que seria um exagero do politicamente correto.

“Estive no Starbucks esta manhã e os baristas tiveram seus pronomes de gênero aprovados”, tuitou recentemente o ativista conservador pró-Trump Charlie Kirk. “Estamos criando uma sociedade de pessoas esperando para ser ofendidas”, disse.

– ‘Isso me deixa irritado’ –

Mallory Cross, cujo cabelo é cortado curto, disse: “Acho que tenho consciência de como aparento e de como as pessoas me leem, sou muito masculina”.

“Quando faço um esforço para parecer assim e as pessoas me chamam de ‘senhora’ ou seguram a porta, fico com raiva”, disse Cross.

Em Nova York, uma loja de roupas “neutra em termos de gênero” chamada The Phluid Project vende saias, bonés e sapatos de salto alto, incentivando os clientes a “ir além dos binários”.


A capital financeira dos EUA, em particular, adotou essa mentalidade, oferecendo uma nova categoria neutra que as pessoas podem usar para alterar o gênero em suas certidões de nascimento desde janeiro.

Enquanto isso, o dicionário Merriam-Webster recentemente adicionou a palavra “they” como um pronome não binário que pode se referir a apenas uma pessoa. E a Apple adicionou emojis “neutros” que não distinguem os sexos na versão mais recente do seu sistema operacional.

À medida que a tendência avança, um número crescente de pessoas binárias está exibindo os pronomes “ela” ou “ele” nas contas das redes sociais e em outros lugares como um sinal de solidariedade.

Elizabeth Warren, uma das candidatas às primárias democratas em 2020, tornou-se no mês passado a sexta candidata a adicionar seu pronome, que corresponde ao sexo de nascimento, em suas mídias sociais.

“Toda pessoa merece ser tratada com dignidade e respeito, e isso começa com o uso de pronomes corretos. Eu sou Elizabeth. Meus pronomes são ela/dela/a”, escreveu no Twitter.

O candidato Pete Buttigieg, que é gay, especificou que é um “ele/dele” e os candidatos heterossexuais Julian Castro, Cory Booker, Kamala Harris e Tom Steyer também indicaram seus pronomes.


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