A nova temporada da Fórmula 1 já está em andamento, mas a ação dentro das pistas tem sido ofuscada pela preocupação com os possíveis desdobramentos que o Brexit terá na categoria, na qual boa parte das equipes têm sede no Reino Unido.

Sete das dez escuderias que participaram do Grande Prêmio da Austrália, em 17 de março, primeira corrida do ano, têm base em território britânico e a temporada conta com nove provas na Europa, o que torna um possível Brexit em um verdadeiro quebra-cabeça, até para uma disciplina tão globalizada como a F1.

Várias equipes alertam que uma saída do Reino Unido da União Europeia, especialmente se um acordo não for alcançado entre as duas partes, criaria graves problemas logísticos para esta industria que conta com funcionários do mundo todo e que move bens materiais por todo o planeta.

Contudo, as opiniões sobre o impacto real do Brexit não são coincidentes.

O chefe de equipe da Mercedes, Toto Wolff, garantiu que um divórcio sem acordo seria “a mãe de todas as bagunças”, enquanto que para um dos principais responsáveis pela organização da F1, Ross Brawn, o Brexit não seria tão dramático.

A Mercedes, com sede em Northamtponshire, no centro da Inglaterra, ganhou os últimos cinco campeonatos, tanto o de pilotos como o de construtores. O britânico Lewis Hamilton venceu quatro destes títulos individuais.

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“O Brexit é uma grande preocupação para todos nós que vivemos no Reino Unido e que trabalhamos fora”, declarou Wolff no circuito de Montmeló, perto de Barcelona, durante a pré-temporada da F1, em fevereiro.

“As equipes da F1 viajam pelo menos 21 vezes ao ano, nos movimentamos dentro e fora do Reino Unido, as pessoas que trabalham para nós entram e saem do Reino Unido”, insistiu o chefão da Mercedes sobre os eventuais problemas que provocaria a aprovação do Brexit.

“Nós adquirimos peças e serviços no último minuto do Reino Unido, e qualquer grande perturbação na área da fronteira ou nas tarifas alfandegárias seria um grande golpe para a indústria da Fórmula 1”, continuou o dirigente alemão.

As equipes também se mostram preocupadas com a obtenção de vistos de trabalho no Reino Unido para quem não for britânico.

David Richards, presidente da Motorsport UK, entidade que rege o esporte a motor no Reino Unido, liderou em fevereiro o coro de vozes que alertavam que uma escuderia como a Mercedes deveria reconsiderar seu futuro na F1 caso o Brexit se concretize sem acordo.

Por outro lado, Brawn se mostrou menos preocupado, garantindo que já foram tomadas medidas e que as equipes são engenhosas e flexíveis.

“As equipes de F1 são bastante nômadas e, de qualquer maneira, já operamos em países fora da União Europeia e não vejo isso como algo catastrófico para o Reino Unido”, declarou em Londres, no início do mês.

“Estou convencido de que haverá algumas pessoas irritadas e coisas que danificam a F1, mas as equipes são muito boas para superar problemas, então não acredito que seja um problema”, completou.

Em Melbourne, o chefe de equipe da Red Bull, Christian Horner, também se mostrou tranquilo, apesar da confusão criada pelo Brexit: “Esperemos que o Brexit chegue para ver o que acontecerá e resolveremos, mas é claro que tentaremos ter todos os cenários possíveis em mente para proteger o funcionamento do negócio”.

– Cenário apocalíptico –

McLaren, Williams, Renault, Racing Point e Red Bull também têm sedes no Reino Unido, assim como a Haas, embora está última também tenha a maior parte de sua estrutura nos Estados Unidos.


O chefão da Racing Point, Otmar Szafnauer, não perde o sono com um possível cenário apocalíptico, embora admita que tudo depende do tipo de acordo que se alcance… ou não.

Szafnauer reconhece que o Brexit supõe um desafio logístico no transporte de peças e completa que a equipe está comprando atualmente o combustível de uma companhia americana sem grandes problemas.

“É claro que seria mais fácil se não houvesse um Brexit severo. Tudo depende de como será o Brexit. Há problemas, mas não acredito que sejam insuperáveis. É a primeira vez que temos que lidar com esse problema e com nosso calendário tão apertado pode ser impactante”.

Para o chefe da Renault, Cyril Abiteboul, o Reino Unido teve um papel decisivo na evolução da equipe desde que a marca francesa voltou a competir na F1, em 2016.

“Fomos muito rápidos nos últimos anos e isso foi possível em parte graças às facilidades oferecidas pelo Reino Unido, que atrai os jovens, as pessoas que saem da escola. Não queremos que isso mude”, disse Abiteboul.

Com sua sede principal na Carolina do Norte, o patrão da Haas, Gunther Steiner, admitiu que não hesitaria em deixar o Reino Unido se o Brexit se tornar um problema.

“Não tomamos decisões irracionais. As grandes equipes têm maiores investimentos que nós. E não foi decidido o que acontecerá”, declarou.

“Somos uma escuderia pequena. Se alguém pode reagir rapidamente, somos nós. Só temos que subir no nosso ônibus e mudar de país”, concluiu.

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Renault


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