Trazer os amazônidas para o centro do debate internacional da região, eliminando as fronteiras físicas e construindo pontes para participação e construção coletiva com representantes de diversos segmentos são alguns dos objetivos da Casa Amazônia, O encontro acontece no dia 22 de setembro, na Lightbox, com início às 10hs (NYC). A Casa Amazônia é uma realização que resulta da colaboração entre a Columbia Global Center, Sustainable Development Solutions Network (SDSN) e Ser Amazônia, e conta com o apoio do Brazil Talk, Governo do Estado do Pará, RAC e Talentos da Amazônia.

Com o mundo atingindo picos de temperatura e constantes desastres naturais, os olhos do mundo se voltam para a Amazônia. Autoridades do mundo todo têm se reunido para pensar coletivamente em soluções para salvar o planeta, e o maior bioma do mundo não passa despercebido.

Quando não se há tempo a perder é necessário ouvir quem atua no território há centenas de anos e honrar a biodiversidade presente na Pan-Amazônia com seus vários povos, realidades, necessidades, lideranças, alimentos e produtores. Pensando nisso, Ana Claudia Cunha idealizou a Casa Amazônia como primeiro passo para dar visibilidade aos atores locais nas discussões internacionais sobre a região amazônica.

Escutar e valorizar com deferência a pluralidade de vozes, de potências, visões amazônidas para abordar a complexidade presente na região é uma das missões do movimento Ahú e Casa Amazônia, como explica a idealizadora do evento e Mestranda em administração pública na Columbia University Ana Claudia Cunha: “Por muito tempo as políticas de desenvolvimento da região amazônica foram pensadas a partir do olhar externo, que por vezes impunham mudanças drásticas ao nosso modo de vida e relação com a natureza. Para não repetirmos os erros do passado é importante que os amazônidas, em toda a sua pluralidade, estejam presentes nas discussões. A Casa Amazônia vem pra falar que a gente quer integrar este debate regional, nacional e internacionalmente e que temos muito a contribuir. Queremos unir esforços com todos os que já estão colocando muita energia no tema, mas queremos ser respeitados como quem tem a visão única advinda da experiência no território”.

O encontro faz parte do Movimento Ahú, um movimento artístico e cultural de reposicionamento da marca amazônia no imaginário coletivo e que seguirá tendo ações a chegada da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30), evento que reúne lideranças mundiais para debater soluções para conter o aquecimento global e criar alternativas sustentáveis para o planeta Terra. “A COP é um momento onde isso fica mais claro pra todo mundo, então a ideia é que não seja somente um evento, mas um marco na mudança de mentalidade do amazônida. Com a Amazônia em pauta novamente, as discussões ficam mais próximas da gente, a partir disso a gente começa a entender que elas não estão falando sobre nada que a gente não consiga opinar, se posicionar. a gente tem muito aquela visão de que não temos condições de discutir determinados assuntos, mas esses são assuntos que discutimos a vida inteira, porque fala sobre como é que a gente enxerga a Amazônia”, complementa Ana.

Os futuros da Amazônia: Bioeconomia e Justiça climática

Para discutir a Amazônia sustentável é necessário pensar em modelos de economia baseados em uma relação equilibrada com o meio ambiente. Atuar de forma economicamente viável e ambientalmente saudável precisa estar entre as prioridades de atores fundamentais no desenvolvimento regional. O Governador do Estado do Pará Helder Barbalho explica a diversidade de projetos pensados para um novo modelo econômico na Amazônia: “A Amazônia tem um papel central na transição para um modelo econômico de baixo carbono, e no Pará estamos trabalhando essa centralidade para produzir resultados na transformação dos modos de produção, para que sejam mais sustentáveis. Somente em bioeconomia, onde o Pará foi pioneiro ao lançar um Plano de Bioeconomia para estimular os ativos florestais e o desenvolvimento de bioprodutos, temos um potencial de alcançar cerca de 120 bilhões de dólares por ano com a exportação de produtos de origem florestal. Além disso, ainda estamos prestes a lançar um plano de restauração das nossas florestas, que será lançado na COP deste ano, em Dubai. Estes são alguns exemplos do nosso esforço que busca conciliar desenvolvimento e conservação, agregação de valor e respeito à terra, crescimento econômico e valorização das pessoas”, esclarece.

Falar de justiça climática é reconhecer que esse fenômeno afeta de forma desmedida o mundo todo, não à toa estamos presenciando tragédias em decorrência do desequilíbrio no planeta. Quando se fala de Amazônia, entretanto, vale ressaltar que os mais prejudicados acabam sendo as comunidades mais vulneráveis e marginalizadas, incluindo as comunidades indígenas e povos tradicionais.

Por isso, a presença de representantes destas comunidades é imprescindível para que todo debate seja feito com respeito e propriedade. Na Casa Amazônia, a conservação ambiental e a importância da presença ativa de povos amazônicos nesta construção também estará entre os temas trazidos pela Casa Amazônia, com participação de Puyr Tembé (Secretária de Povos Indígenas do Pará e co-fundadora da ANMIGA) e Angela Mendes (Presidente do Comitê Chico Mendes) para uma discussão sobre a necessidade de ações colaborativas em respeito a uma economia baseada na floresta em pé.

A multiplicidade dos amazônidas é representada também pela peruana Aída Gamboa, coordenadora de projetos no Direito, Ambiente e Recursos Naturais (DAR), que aponta a importância do protagonismo indígena em parcerias com entidades governamentais através de programas voltados para a justiça climática. “Para falar de financiamento e projetos de carbono na Amazônia, é preciso garantir a segurança territorial dos povos indígenas. Caso contrário, isso se torna um mecanismo perverso que incentiva a desapropriação dos benefícios da conservação do território. É preciso que os governos, sobretudo o Peruano, disponham de ferramentas para o monitoramento e supervisão do financiamento climático e mercados de carbono, de forma conjunta a mecanismos de vigilância e controle comunitários próprios dos povos indígena, para que eles representem um ponto focal de atenção e suporte suporte à revisão de propostas de regulamentação desses projetos”, contesta.

O financiamento climático é um tema urgente e precisa ser tratado de forma global. A Casa Amazônia traz para este debate a pesquisadora, professora e procuradora federal Lise Tupiassu e a Ana Euller, diretora executiva de negócios da EMBRAPA.

Lise Tupiassu é especialista em Financiamento Climático e aponta a importância do evento: “Esse momento é crucial para marcar a presença de amazônidas nesse debate, e ressaltar os valores intrínsecos da região a partir de uma perspectiva interna. Além disso, é importante envolver os amazônidas em um movimento de posicionamento estratégico no cenário de discussões internacionais sobre o clima e sobre a justiça climática.”

Uma imersão na arte amazônida

A mesa artística conta com a presença da artista visual paraense Roberta Carvalho e de Edvan Guajajara, diretor do filme “Guardiões da floresta” e co-fundador Mídia Indígena. Segundo Roberta, eventos como a Casa Amazônia são fundamentais para a disseminação de conhecimentos amazônicos sobre a região, haja vista que culturalmente a história é contada por outras vozes e olhares: “é fundamental propor este protagonismo, falar de Amazônia em primeira pessoa, com curadoria amazônida, isso reflete uma visão de dentro, uma visão muito mais real do que é a Amazônia”, completa.

O fazer artístico amazônida também vem ganhando espaço no mundo, e para o diretor Edivan, é preciso honrar a diversidade de povos existentes na Pan-Amazônia: “No Brasil tem mais de 250 povos, eles desempenham um papel fundamental na preservação das tradições indígenas e na conscientização sobre questões ambientais cruciais, como o desmatamento. No mundo, a arte e a cultura amazônicas têm o potencial de sensibilizar as pessoas para a importância da preservação da floresta tropical e da diversidade cultural da região, contribuindo assim para um diálogo global sobre essas questões críticas”, explica.

Serviço:

Local: Lightbox (248 W 37th St, NY 10018, próximo à Times Square)

Quando: 22 de setembro em New York, NY

Horário: 10 am – 9 pm

Inscrições abertas ao público: Eventbrite