SÃO PAULO, 10 NOV (ANSA) – A vice-ministra das Relações Exteriores da Itália, Marina Sereni, disse que a Amazônia é uma “responsabilidade de todos”, mas destacou que a União Europeia e seu país estão prontos a ajudar o Brasil a conciliar respeito ao meio ambiente e crescimento econômico.   

No país para uma série de encontros institucionais, Sereni, da legenda de centro-esquerda Partido Democrático (PD), falou com exclusividade à ANSA na tarde desta segunda-feira (9), durante passagem por São Paulo.   

Em sua visita à capital paulista, a vice-chanceler se reuniu com os membros do Comitê dos Italianos no Exterior (Comites) e do Conselho-Geral dos Italianos no Exterior (Cgie), foi recebida no Palácio dos Bandeirantes pelo vice-governador Rodrigo Garcia (DEM) e foi à Escola Italiana Eugenio Montale.   

“Atribuímos uma importância especial a São Paulo, que é a capital econômica do país e o lugar onde a presença italiana é mais significativa”, disse Sereni. Já nesta terça (10), a vice-ministra teve compromissos em Brasília e se reuniu com o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), o mandatário do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, e o secretário-geral do Itamaraty, Otávio Brandelli.   

Confira abaixo a entrevista, na qual Sereni também fala sobre as crises na América Latina, o acordo comercial UE-Mercosul e a amizade entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro Matteo Salvini.   

Qual foi o objetivo da reunião da senhora com o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia? O Brasil é muito importante sob muitos pontos de vista, e atribuímos uma importância especial a São Paulo, que é a capital econômica do país e o lugar onde a presença italiana é mais significativa. Temos empresas com muito interesse em termos de investimento, por exemplo, em infraestrutura, metrô, transporte.   

Há empresas italianas interessadas em participar de projetos do metrô de São Paulo? Sim, interessa muito a algumas empresas italianas, obviamente no âmbito de uma competição livre entre projetos diversos. Algumas empresas italianas têm o know how e a experiência para realizar projetos importantes para o estado, seria uma cooperação ganha-ganha. Há empresas italianas importantes que podem produzir, criar trabalho, inovar, e estamos abertos, obviamente, às realidades econômicas brasileiras que queiram fazer o mesmo em nosso país.   

O Brasil esteve sob os holofotes nos últimos meses por causa da crise na Amazônia. Como a Itália pode colaborar com o Brasil na questão ambiental? O acordo UE-Mercosul tem um ponto qualificante em relação ao Acordo de Paris e uma referência explícita ao desmatamento, então faz parte desse acordo uma atenção ao tema ambiental, à crise climática e à questão amazônica. Nós sentimos que a Amazônia é uma responsabilidade de todos. Obviamente, dos países que têm a floresta amazônica dentro de suas fronteiras, mas de toda a comunidade internacional. A União Europeia pretende, com a presidente [Ursula] Von der Leyen, antecipar algumas medidas dos objetivos de desenvolvimento da Agenda 2030 da ONU, e faremos nossa parte. Isso inclui ajudar os países emergentes, como o Brasil, a respeitar os compromissos e crescer contemporaneamente. Não estamos pedindo aos emergentes que renunciem ao crescimento, estamos pedindo para construirmos juntos caminhos mais inovadores, mais respeitosos ao ambiente, porque o planeta é um bem de todos. A prosperidade também deve ser compartilhada com as gerações futuras. Devemos estar atentos para não destruir o planeta.   

Qual é a posição do governo italiano sobre as crises na Bolívia e na Venezuela? Sobre a Bolívia, compartilhamos a declaração e as posições da União Europeia, que tentaram reabrir o diálogo entre as partes.   

É preciso fazer o processo eleitoral que foi decidido por unanimidade pelo Parlamento, e acreditamos ser necessário que a comunidade internacional apoie o esforço para se chegar o quanto antes a eleições livres e transparentes. Queremos que a violência seja evitada e que seja respeitada a liberdade pessoal de quem foi mais exposto politicamente, inclusive no governo de Evo Morales. A Venezuela tem uma crise muito longa, que condiciona um pouco a estabilidade da região. Há mais de 4 milhões de venezuelanos que buscaram refúgio nos países vizinhos. A comunidade italiana na Venezuela sofre por essa condição. Pedimos que o diálogo seja retomado, estamos frente a uma tensão muito forte, na qual nenhuma parte é capaz de, digamos assim, vencer as outras. É preciso estabelecer um processo político, então estamos trabalhando com a União Europeia e o Grupo de Contato para que haja uma desescalada da tensão, para que se dê prioridade à crise humanitária. E depois é preciso encontrar um percurso politicamente compartilhado, o que talvez exija um passo atrás de ambos os principais protagonistas. (Continua)