O concorrido mercado mundial de serviços de streaming de vídeo pela internet ficou ainda mais disputado na quarta-feira 14. Na ocasião, a gigante do varejo online Amazon confirmou que passaria a oferecer o Amazon Prime Video em mais de 200 países, incluindo o Brasil. Por aqui, durante os primeiros seis meses de funcionamento da novidade, a mensalidade do serviço será de US$ 2,99, ou R$ 10. Depois, o valor subirá para US$ 5,99, cerca de R$ 20. Não à toa, o valor se equipara ao cobrado pela Netflix, que oferece produto praticamente idêntico há cinco anos e é líder de mercado. Ao desembarcar no Brasil e em mais de uma centena de países em um único dia com uma agressiva estratégia de preço para angariar novos assinantes, a Amazon deu seu recado: chegou para incomodar o líder e sacudir o mercado mundial de streaming de vídeos.

O consumidor só tem a ganhar. Nos Estados Unidos, foi graças à concorrência entre Netflix e Amazon Prime Video que ambas as empresas passaram a produzir filmes, séries e documentários próprios. A disputa pelo assinante aumentou investimentos a ponto de viabilizar superproduções com atores premiados e roteiristas de cinema. A Netflix criou sucessos como as séries “House of Cards”, que estrela o vencedor do Oscar de melhor ator Kevin Spacey, e “Narcos”, com o também premiado Wagner Moura. Já o Amazon Prime Video produziu a série “Mozart in the Jungle”, que tem o argentino Gael García Bernal como protagonista, e “Transparent”, que caminha para a quarta temporada em 2017 e contou com a participação especial de Anjelica Huston, vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante.

TV DE QUALIDADE

Os programas feitos para streaming não devem, em nada, aos produzidos pelas grandes redes de televisão como Fox, CBS e ABC. O mercado já percebeu isso e tem premiado as criações desse novo ramo televisivo. Em 2017, só o Amazon Prime Video e a Netflix vão disputar 17 prêmios Globo de Ouro, um dos mais prestigiosos do segmento. Isso quer dizer que, em 40% das disputas por prêmios nas principais categorias da noite, pelo menos um concorrente será uma produção de um desses dois serviços de streaming. Mais: se forem incluídas as indicações conquistadas pelo HBO – canal de TV paga que disponibiliza todo seu conteúdo para streaming nos Estados Unidos por meio do HBO Go – essa proporção salta para incríveis 70%.

De olho na crescente migração de telespectadores dos canais de televisão aberta e fechada (paga) para as plataformas de streaming, gigantes do ramo da comunicação e até de infraestrutura de telecomunicação têm se movimentado. A americana AT&T anunciou, no final de outubro, a intenção de comprar o grupo de mídia Time Warner, dono do HBO, por US$ 85,4 bilhões, ou R$ 287 bilhões. Entre os planos do atual presidente da AT&T para a compra estaria o de transformar o HBO Go em uma plataforma de distribuição, por streaming, da programação de canais de TV do grupo Time Warner, como CNN, TNT, Warner e Cartoon Network, entre outros.

No Brasil, gigantes da comunicação também perceberam movimento no mesmo sentido e têm se mexido. O Grupo Globo, à frente da TV Globo e da Globosat, que controla os canais pagos da empresa, abriu frente para distribuir vídeo por streaming com o lançamento dos aplicativos GloboPlay e Globosat Play para celular, tablet e smart TV. No primeiro ano de existência, só o GloboPlay foi baixado 10 milhões de vezes e, por meio dele, foram consumidos 6,3 bilhões de minutos de conteúdo televisivo.

Com assinatura mensal de R$ 14,90, o aplicativo ainda não funciona como um serviço de streaming clássico, nos moldes da Netflix e do Amazon Prime Video. Todos os programas, com exceção das séries, só ficam disponíveis para streaming depois da transmissão na TV aberta. Em última instância, ainda trata-se de um serviço que funciona a reboque do canal de TV. Mas isso não deve continuar quando as mudanças hoje em curso no comportamento do telespectador se consolidarem.

Até lá, Jeff Bezos, fundador da Amazon e homem à frente das decisões estratégicas da empresa, terá garantido o lugar de sua companhia na distribuição de vídeo por streaming em mais de 200 países. Será mais uma empresa para competir pela atenção dos telespectadores e melhorar a programação televisiva que informa e entretém.

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