Amanda Mirásci fala sobre seu 1º monólogo, ‘A Autoestima do Homem Hétero’

Atriz se divertiu ao relembrar o processo de criação da peça e revelou novos projetos que destacam a força feminina

Divulgação/Julia Lego.
Amanda Mirásci. Foto: Divulgação/Julia Lego.

Festejando 30 anos de carreira, Amanda Mirásci fez uma temporada de 4 meses de sucesso nos palcos de SP com seu primeiro monólogo, “A Autoestima do Homem Hétero”, no Teatro Uol. A obra, idealizada e escrita pela artista, conta a história de Carina, uma farmacêutica que desenvolveu um medicamento revolucionário: a autoestima do homem hétero em cápsulas. No lançamento do produto, ela apresenta ao público os componentes da fórmula, relembrando cenas hilárias e dando vida aos tipos masculinos que serviram de matéria-prima para sua pesquisa. Entre humor, crítica e vulnerabilidades pessoais, ela revela suas próprias inseguranças e decide experimentar o medicamento que promete revolucionar o mundo.

Mas esse não é seu primeiro projeto criado para o teatro. Com 42 anos e formada em Interpretação Cênica pela Faculdade Estácio de Sá e pela Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), ambas no Rio de Janeiro, Amanda também já idealizou “Uma Vida Boa”, que lhe rendeu indicações ao Prêmio Cesgranrio e ao APTR de Melhor Atriz, e “Mansa”.

A atriz fez participação na novela “A lei do amor” (2016) e no recente sucesso “Garota do momento” (2014), ambas na Globo. Ela ainda integrou o elenco do sucesso “Cara e Coragem” (2022), da mesma emissora, e da série “Ringue” (2021), do Canal Brasil. Nos Palcos, a carioca atuou em “Inútil a Chuva”, “O Branco dos Seus Olhos” e “Isso Vai Funcionar de Alguma Forma”. Já no cinema, fez o longa “Todo Clichê de Amor” (2018).

Em bate-papo para IstoÉ Gente, Amanda Mirásci se divertiu ao relembrar o processo de criação do monólogo e falou sobre novos projetos que destacam a força feminina.

Você acabou de encerrar a temporada de quatro meses de sucesso em São Paulo da peça “A Autoestima do Homem Hétero”, que marca sua estreia como autora e também como protagonista de um monólogo. Como surgiu a ideia do projeto? Já pensa em novos trabalhos autorais?

A ideia nasceu junto com o crescimento do debate sobre a autoestima do homem hétero, que ganhou força nos últimos anos, inclusive nas redes, com frases como “A autoestima do homem hétero devia ser encapsulada”. Na época, eu estava há quatro anos solteira, colecionando situações risíveis (e outras bem dolorosas) com homens.

Até que, em um encontro, um cara sacou um violão e disse que queria me mostrar uma música composta por ele. A letra rimava brothers, mothers e fathers. No fim, ele me olhou e perguntou: “Genial, né?”. Pronto! Ali nascia a primeira cena da peça. (Risos)

Eu queria expor essa diferença tão absurda: enquanto mulheres incríveis vivem se sentindo insuficientes, tem homem que mal sabe cantar e se acha o Jack Johnson. Mas quis fazer isso com humor, olhando para o machismo pelo seu lado mais cotidiano e, justamente por isso, mais reconhecível. Peguei carona no clamor das redes sociais e decidi vender a pílula de autoestima do homem hétero no teatro.

A personagem Carina, farmacêutica criadora da fórmula, tem muito de mim e de muitas mulheres: essa busca por aprovação, a autocrítica constante, o desejo de ser suficiente. Ela tenta alcançar aquela autoconfiança delirante que vê nos homens, mas acaba descobrindo que o verdadeiro poder está em reconhecer as próprias vulnerabilidades.

E sim, já estou mergulhada em novos projetos. Tenho um infantil sobre bruxaria, que busca resgatar a força e a sabedoria dessa figura feminina tão deturpada ao longo da história. Também desenvolvo um argumento de filme sobre autismo e inclusão, e um novo espetáculo idealizado por Pablo Sanábio, com direção de Matheus Malafaia — dois grandes parceiros de vida. Depois que você descobre a onda que é idealizar e realizar um projeto, não quer mais parar.

Já havia cogitado escrever algo antes? Como foi esse processo de estrear como autora?

Sim! Eu já tinha experimentado a escrita quando dava aulas de teatro. Escrevia as peças de fim de ano dos alunos e sempre amei esse processo. Com o tempo, acabei focando mais na carreira de atriz e me afastei da escrita. Sempre tive desejo, mas no fundo eu tinha medo.

Durante a minha trajetória, conheci dramaturgos que escrevem o mundo com tanta poesia e profundidade que achava que nunca conseguiria. Até entender que existe um jeito que é o meu. E que ele também pode gerar identificação nas pessoas. Quando tirei o peso do “ter que acertar”, ganhei coragem para assumir esse desafio.

O empurrão final veio da minha diretora, Martha Nowill. Depois de me ver buscando um parceiro para a dramaturgia, ela me disse: “Amanda, escreve o seu texto.” E eu escrevi. Com a colaboração da própria Martha e da Bruna Trindade, o processo foi um grande exercício de confiança. Testar minha autoconfiança enquanto escrevia um texto sobre autoestima masculina foi difícil, mas também divertido e revelador. Eu brinco que precisei tomar uma “pílula de autoestima do homem hétero” pra conseguir (risos).

Cada vez mais vemos artistas criando seus próprios projetos e estrelando monólogos. Como é tomar as rédeas dos trabalhos que você faz? Como enxerga essa liberdade criativa que o teatro e as novas plataformas estão trazendo para os artistas? E como isso tem impactado sua carreira?

Não há nada mais satisfatório pra mim do que contar a história que eu quero e acredito, fazer o personagem que tenho vontade e trabalhar ao lado de pessoas que admiro. Tomar as rédeas do trabalho é encontrar uma autoralidade. Você deixa um pouco do que você acredita no mundo.

O ator, muitas vezes, fica refém de uma dramaturgia e direção, sem poder participar de forma efetiva das escolhas que levam ao resultado final. Criar e realizar os próprios projetos é uma forma de existir artisticamente com mais autonomia. E, num mercado tão escasso de oportunidades, essa autonomia pode ser determinante.

Claro que também é um grande desafio. É muita responsabilidade e exige coragem. Realizar um projeto sem patrocínio não é fácil, mas pode ser profundamente recompensador.

Na minha carreira, isso tem sido transformador. Produzo meus projetos desde 2013, quando fiz Uma Vida Boa, que foi um grande sucesso e marcou uma virada. Não só profissional, mas pessoal. Foi quando percebi que o meu trabalho mais especial tinha sido aquele que eu mesma fiz acontecer. E que eu não precisava esperar ninguém pra colocar minhas ideias no mundo e fazer o que mais amo: trabalhar.

Seu último trabalho na TV foi uma participação em “Garota do Momento”. Você acha que ainda é relevante, em pleno 2025, um ator fazer televisão?

Acho que sim, absolutamente. A TV continua sendo uma ferramenta potente de comunicação, com um alcance enorme. Fora que é muito divertido! Meus últimos trabalhos — “Garota do Momento”, “Cara e Coragem” e “Falas Femininas” — foram um presente. Me diverti demais, contracenando com Flávia Reis, Kiko Mascarenhas, Rodrigo Fagundes, Marisa Orth… gigantes do humor e extremamente generosos.

O jogo na TV é diferente do teatro, mas, com as parcerias certas, pode ser de uma satisfação imensa. O audiovisual me encanta cada vez mais, e quero explorar esse universo com mais profundidade. Cada linguagem tem seu jeito de contar histórias e de se conectar com o público. E eu quero continuar transitando entre todas elas.