Quase dois anos após o fim do “BBB23“, Amanda Meirellesvencedora do reality, ainda colhe os frutos da fama — mas a tentativa é ir para além do meio artístico. Em suas redes sociais, onde conta com 2,8 milhões de seguidores, a médica tem investido na produção de conteúdos informativos sobre saúde, e almeja alcançar a televisão informando pessoas sobre temas de importância pública.

Em entrevista ao site IstoÉ Gente, Amanda falou sobre sua atuação profissional como médica e influenciadora depois do Big Brother Brasil, além de abrir o coração sobre seu diagnóstico de mielite, inflamação na medula espinhal sem cura. Acompanhe:

 IstoÉ Gente: Como tem sido a vida após a fama?

Amanda Meirelles: A fama, para mim, veio como uma consequência. Ela nunca foi algo que eu desejei antes de entrar no “BBB”. O meu interesse lá realmente era financeiro. Junto com a fama, vieram pessoas extraordinárias, que até hoje continuam me impulsionando nos meus projetos.

A gente sai [do reality] realmente perdido, parece que a gente viveu em outro universo, parece que houve uma vida quando a gente estava lá dentro e uma outra vida acontecendo aqui fora. Depois que eu saí do programa, tem um período de certa adaptação e de certo susto, mas eu acredito que eu lido com isso da melhor forma.

Eu tenho uma rede de apoio na internet, de fãs, de seguidores que me estimulam a ser cada vez melhor, que consumem, compartilham os meus conhecimentos da área da saúde. Não é que eu não goste de ser conhecida como ex-BBB, mas eu falo que eu quero que as pessoas saibam que, além do programa, eu tenho uma outra história também, a minha trajetória.

Tenho tentado, cada vez mais, mostrar para as pessoas que, além de ter vencido o “BBB23”, eu sou médica, produzo conteúdos para a área da saúde e posso utilizar meu papel na internet para atingir mais pessoas e falar o que eu quero. O meu propósito que é cuidar de pessoas.

IstoÉ Gente: Você tem vontade de expandir sua atuação das redes sociais para a televisão?

AM: Eu tenho. Eu falo que, hoje, o meu maior sonho é ter uma oportunidade. Eu participei algumas vezes como convidada do Bem Estar e outros programas em rede aberta. Hoje, o meu sonho mesmo é ter um quadro ou participar de algum programa informando sobre saúde.

Informação e saúde são libertadoras. Eu já peguei as pessoas em UTI por falta de conhecimento! Muitas vezes, um diagnóstico precoce ou uma informaçãozinha que o paciente tivesse se atentado ou sabido antes, teriam mudado todo o curso de uma história.

Hoje, consigo trazer também a minha prática profissional no que acredito ser interessante para as pessoas, e quando elas devem procurar um profissional, que profissional, ao que elas devem se atentar. Eu produzo conteúdos assim e tenho feedback maravilhoso. As pessoas me mandam no Instagram, ‘Eu tive tal coisa, dá uma olhada nesse exame para mim’. Descobrem um diagnóstico e me mandam. Eu tento ser esse meio de campo que consegue levar a informação de uma forma que as pessoas consigam assimilar.

IstoÉ Gente: Como foi, para você, receber o diagnóstico de uma doença incurável (mielite)?

AM: Eu tive um diagnóstico de melite transversa na época da faculdade e tratei. Tem um tratamento que é um pulso de corticoide, eu me internei e tratei. Uma das principais hipóteses diagnósticas, na época, era esclerose múltipla, mas foi descartada em mim. Já fiz vários exames, não tenho lesões novas. Mas, como a medicina avançou bastante, eu sempre quero saber se tenho alguma doença neurodegenerativa ou outra coisa.

No momento, eu não estou com nenhum sintoma. A doença não me impede de nada, mas eu faço exames por precaução. Eu acho que quem está nessa posição de cuidadora acaba deixando um pouquinho a própria saúde de lado. E tento ser muito transparente nas minhas redes sociais, de mostrar que a vida não é perfeita. Por trás daquela tela também existe uma pessoa, e essa pessoa também passa por problemas de saúde.

IstoÉ Gente: Você já desabafou sobre transtorno de imagem e comparações nas redes sociais. Como você lida com o fato de que é um exemplo para suas seguidoras?

AM: Eu penso que a gente vai aprendendo juntas. Hoje, eu tenho muitas pessoas que se importam comigo e que se reconhecem e se identificam com muitas coisas que eu passo. É por isso que eu gosto muito de ser sincera com as pessoas que me seguem, não vendo a vida perfeita no Instagram.

Eu comecei a fazer atividade física não porque eu gosto, mas porque faz bem para a saúde. Não romantizo as coisas, vou para a academia falando: ‘Não queria ter vindo, está doendo a minha perna…’ E a gente vai se impulsionando juntas. Hoje, eu sou uma certa “ferramenta de busca” para minhas seguidoras, porque elas sempre me mandam dúvidas. Quando os artistas têm alguma doença, também me mandam para que eu possa explicar.

É muito bacana ser reconhecida por algo que você estudou a sua vida inteira. Então, eu sou muito grata por ser reconhecida, mas também tento dizer que não é porque eu sou médica que eu também tenho uma vida perfeita. A questão do distúrbio de imagem foi algo muito difícil de ser falado, porque é muito difícil de reconhecer.

Se você me perguntar assim: ‘Amanda, está tudo bem? Você lida tranquilamente com isso?’ Eu respondo que não, eu lido diariamente. E as pessoas que estão comigo e me acompanham sabem que isso é um processo. Tem dia que eu estou me achando a pessoa mais linda do mundo. Tem dia que eu não estou me achando.

A questão da dismorfia corporal é um assunto delicado, mas que eu senti necessidade de expor. E eu não tinha ideia de quantas pessoas também passavam por isso e não se sentiam vistas, não se sentiam representadas.

Muitas vezes, nas redes sociais ou nas campanhas publicitárias, a gente tem mulheres com o corpo considerado belo, cheio de Photoshop, e as pessoas começam a não se reconhecer, não se sentir parte. E o amor próprio, ele sempre começa pelo espelho, a gente se olhar, se enxergar e se amar. É uma construção para mim e para as pessoas que me acompanham. Então eu me sinto muito privilegiada de ter esse reconhecimento, tanto da parte médica quanto da parte de mulher.

IstoÉ Gente: Você pode compartilhar como foi ser voluntária médica no Rio Grande do Sul, na época das enchentes?

AM: Eu falo que essa não foi uma experiência, e sim uma vivência. Foi perceber que eu realmente nasci para cuidar de pessoas, que eu estava no lugar certo e que eu sou uma pessoa privilegiada por poder exercer minha profissão em um momento em que precisavam de mim, sem pensar na parte de remuneração, sabe? Eu acho que meu sonho sempre foi exercer a medicina por vocação e eu consegui fazer isso nesse trabalho voluntário que fiz no Rio Grande do Sul. E foi muito gratificante, porque eu senti que eu nasci para fazer isso, para cuidar de pessoas, seja na internet ou seja em campo.

Isso me faz bem, ser importante na vida das pessoas. Eu trabalhei durante a pandemia, e, naquela época, estar em casa era estar seguro. No Rio Grande do Sul, a gente não tinha casa para estar seguro. Tivemos que aprender a lidar com as emoções dos outros, com as situações de vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, ter empatia e realizar nosso trabalho.

Eu vou carregando os pedaços das pessoas que passam pela minha vida, e o Rio Grande do Sul tem um lugar muito especial nela. Isso modificou a pessoa que eu sou, e eu falo que também foi uma nova chance de as pessoas verem quem é a Amanda, para além dos recortes da internet.

IstoÉ Gente: Você ainda tem contato com seus amigos do ‘BBB23’? 

AM: Tudo o que a gente vive no programa é muito intenso. Pode parecer clichê, mas as emoções lá realmente são muito afloradas, é muito intenso e verdadeiro. Eu falo que nada do que eu vivi no programa foi falso, sempre foi tudo muito verdadeiro eu fui Amanda 100% do tempo. Mas, quando você sai do programa, cada um tem a sua vida, seus objetivos, suas metas. Cada um mora em um lugar, as agendas não batem tanto. Então tem pessoas com quem eu convivo e tem pessoas com quem eu já não convivo mais, com quem eu não tenho mais contato porque os caminhos foram mudando.

Hoje, eu tenho muito próximas a mim a Larissa [Santos] e a Aline [Wirley]. A pessoa com quem eu mais convivo é a Larissa. A gente já fez trabalho juntas, já viajou juntas também.

IstoÉ Gente: O que você gostaria que todos soubessem sobre você?

AM: Hoje, eu invisto também em saúde. Eu tenho uma startup, que é ConectaDoc, e tento fazer tudo muito alinhado com quem eu sou, além de mostrar que, além da médica, eu sou uma pessoa real. Quando eu saí do programa, as pessoas quiseram me colocar em “caixinhas”. “Ela é só médica, ela não pode postar uma foto bebendo”. Não, eu posso, porque além de ser médica, eu vivo. Eu tento muito humanizar a medicina, humanizar o que as pessoas estão vendo.

As pessoas têm uma imagem do médico como uma pessoa inacessível, e eu tento justamente mostrar que eu sou uma pessoa como qualquer outra, e que as informações também podem ser acessíveis.