08/11/2019 - 7:30
O presidente Jair Bolsonaro nomeou nesta quinta-feira (7) o dramaturgo Roberto Alvim para o cargo de secretário especial de Cultura, o mais alto da pasta, e disse que ele terá “porteira fechada”. O jargão político usado por Jair Bolsonaro significa que o escolhido contará com carta branca para definir sua equipe.
“A classe artística deve ficar feliz. Lei Rouanet, vem muita coisa boa por aí!”, afirmou o presidente, em uma referência a possíveis mudanças em uma das principais políticas de financiamento do setor.
Alvim provocou revolta no meio artístico, no fim de setembro, ao chamar a atriz Fernanda Montenegro de “intocável” e “mentirosa”. O diretor de teatro é discípulo do escritor Olavo de Carvalho e defende o engajamento de artistas conservadores em pautas do governo. Ele se aproximou de Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018, quando declarou apoio ao então candidato do PSL ao Palácio do Planalto.
O dramaturgo atuava como diretor do Centro de Artes Cênicas (Ceacen) da Fundação Nacional das Artes (Funarte). O Estado antecipou que o nome dele era avaliado para o cargo de secretário.
A nomeação ocorreu no mesmo dia em que a Secretaria Especial de Cultura foi transferida para ficar sob o guarda-chuva do Ministério do Turismo. Antes, a pasta estava subordinada ao Ministério da Cidadania, ocupado pelo ministro Osmar Terra.
Tetos diferentes
A troca de ministérios retira das mãos de Terra uma área que lhe rendia críticas tanto da classe artística como de pessoas do governo. Além disso, ainda permite que Alvim e o ministro não convivam sob o mesmo teto. A relação de ambos sofreu desgastes recentes e é vista como turbulenta, segundo pessoas do governo. Além do tom irônico ao declarar que artistas ficariam satisfeitos com a indicação de Alvim, Bolsonaro também indicou ontem que mudanças serão feitas na Funarte e Agência Nacional do Cinema (Ancine).
Nesta semana, o pianista Miguel Proença foi exonerado da presidência da Funarte. A articulação pela queda foi atribuída a Alvim. Ao Estado, Proença disse que defender a atriz Fernanda Montenegro foi fator decisivo para a sua saída.
Alvim é o terceiro nome no comando da Cultura em menos de três meses. O economista Ricardo Braga deixou a pasta na última quarta-feira, após 60 dias no cargo, sem deixar qualquer ação de destaque. Em setembro, a saída de Henrique Pires da Secretaria já havia escancarado a crise na área. Pires disse que deixava o governo por se opor à suspensão do edital que selecionava obras sobre a temática LGBT para exibição em TVs públicas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.