Decorar aquela parede branca com uma pintura de um artista renomado não é mais um sonho distante para apaixonados por arte sem tantos recursos. O serviço de aluguel de quadros e esculturas avança no Brasil, após se difundir na Europa e Estados Unidos. O conceito fisga apreciadores com o mote de que não é preciso gastar uma fortuna em um único quadro, pois é possível locar vários a um custo muito menor. Essa foi a conta que o empresário Bruno Beloch, de 45 anos, fez para ornamentar as mais de dez unidades da sua empresa, o Hub Coworking, no Rio de Janeiro. “Meu objetivo era tornar nossos espaços atraentes e desejados pelos clientes”, conta. Para isso, ele encontrou a Renttartt, plataforma de locação de obras de arte, com quem tem contrato de dois anos para os cerca de 40 quadros dispostos em seus escritórios. “Nós investimos em média R$ 15 mil por mês nisso. Vale muito a pena, pois temos artistas de primeira linha e colocamos nossos clientes em contato com excelentes nomes contemporâneos”.

INTERNACIONAL Thais Marin trabalha com artistas novatos do mundo inteiro em sua a apArt Private Gallery: aluguel a R$ 100 mensais (Crédito:Divulgação)

A tendência de alugar obras de arte conquista quem deseja o acesso ao mundo artístico, ou seja, democratiza o que muitos consideram inacessível. Essa foi a principal motivação do colecionador Fabio Szwarcwald e da advogada Tatiana Zukerman, fundadores da Renttartt, que tem Beloch como cliente. Como ex-diretor do Museu de Arte Moderna do Rio e da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Szwarcwald tem mais de 300 composições em sua galeria, a Z42. Ele tem trabalhos de criadores consagrados como Anna Bella Geiger, Carla Chaim, Carlos Vergara, Denilson Baniwa, José Bechara, Luiz Zerbini, Marcos Chaves, Maxwell Alexandre e Vicente de Mello. Todos garimpados ao longo de anos na área. Tatiana, sua mulher, tem um ateliê e se interessou pelas expressões artísticas justamente por causa do marido. A ideia de colocar tudo para alugar, aliás, foi dela. “Todo dia eu via aquele acervo parado e estocado. Por que não botar para circular? Assim como eu, uma pessoa pode ter uma experiência da arte dentro de casa ou no trabalho”, conta. Na Renttartt, o cliente paga por mês o correspondente a 2% do valor do produto, sendo o mínimo de R$ 1.500 por mês. É possível escolher entre pinturas, gravuras, fotografias e esculturas. O trabalho de curadoria está incluído, com montagem e composição assinadas por Szwarcwald. Ao final do contrato, há ainda a possibilidade da aquisição. “É vantajoso porque dá acesso a obras de R$ 100 mil a R$ 200 mil por um preço parcelado, por meio de um leasing com opção de compra no final. O total pago durante o período de locação é abatido do valor da obra a ser adquirida”, explica o locador. A intenção da dupla também é fomentar o mercado e atingir novos públicos. Dessa forma, conquista quem deseja decorar suas casas e empresas. “Nos lugares corporativos, os sócios não querem gastar R$ 300 mil em obras de arte. Além disso, cada um tem um gosto diferente. Com o aluguel, se a pessoa não gostar do quadro, pode trocar. E isso a um custo barato. Além disso, a arte cria um ambiente melhor, criativo, acolhedor e interessante”, diz Szwarcwald.

O setor se impulsiona com o formato. A apArt Private Gallery trabalha com a modalidade desde 2013 e vê o interesse na prática crescer, a começar pelos talentos. A galeria oferta criações do mundo inteiro, pois opera em São Paulo, Bogotá, Nova York e Los Angeles. O diferencial do empreendimento é ter nomes em ascensão. “Galerias convencionais acabam buscando artistas conceituados. Nós damos oportunidades aos novos”, conta a fundadora Thais Marin. Por ter novatos em seu catálogo, a empresária consegue ofertar unidades ainda mais acessíveis. “Tenho obras de R$ 1 mil a R$ 60 mil reais. Para algo com valor baixo, a taxa de aluguel é 10%. Se o item tem preço elevado, cobro 5%”, explica. Com base nessa lógica, é possível ser o locatário de uma peça a R$ 100 por mês, o que satisfaz a todos. “É equilibrado, pois é bom para a galeria, o artista, o colecionador e o apreciador. A locação democratiza a arte de forma interessante”.

DECORAÇÃO O empresário Bruno Beloch aluga mais de 30 quadros para as unidades de sua coworking, no Rio de Janeiro: arte melhora o ambiente (Crédito:Divulgação)

O pensamento de inovar o mercado das artes também é a proposta de Marisa Melo, curadora artística e fundadora da UP Time Art Gallery, galeria itinerante que reúne profissionais do Brasil e da Europa. No negócio, o custo do aluguel varia de 10% a 15% do valor da aquisição da obra. Hoje, a produção mais acessível do catálogo sai por R$ 340 por mês. “A iniciativa é incentivar o brasileiro a consumir arte, deixando de lado o conceito elitista de que não é possível para todos”, finaliza Marisa.