“Estamos nos preparando para o pior”, afirmou Janay Clanton, moradora de Minneapolis, onde nesta segunda-feira (19) as forças de segurança fazem patrulha e as lojas estão fechadas enquanto aguardam o veredicto do julgamento pela morte do afro-americano George Floyd.

“Tudo vai explodir”, prevê esta mulher de 62 anos, se o policial branco Derek Chauvin não for considerado culpado de assassinato.

Clanton não é a única preocupada: depois da morte de Floyd no momento em que era preso por Chauvin em maio passado, as emoções têm estado à flor da pele nesta metrópole do norte dos Estados Unidos, que se tornou espaço de grandes protestos contra a injustiça racial e a violência policial.

Minneapolis, uma cidade típica do meio-oeste, tem mais de 400.000 residentes.

Arranha-céus cercam o tribunal onde o julgamento do policial branco está chegando ao fim. Cada uma dessas torres de escritórios decidiu se proteger atrás de enormes placas de madeira, com vários metros de altura.

Uma loja da rede Target, localizada a algumas centenas de metros do tribunal, ainda está aberta aos clientes, mas está tão protegida que lembra um prédio abandonado.

“Eu moro no centro da cidade e estamos todos muito preocupados com o resultado do julgamento”, lamenta Clanton.

Em torno do tribunal, veículos do exército, atrás de blocos de concreto e portões de 3 metros de altura, atestam a sensibilidade referente a esse julgamento, que entrou em sua fase final, com os argumentos finais, antes do júri se retirar para deliberar.

Qualquer decisão que não seja um veredicto de culpa pode transformar a cidade, onde ainda caem alguns flocos de neve, em palco de novas manifestações.

Se for esse o caso, “acho que haverá tumultos e as pessoas ficarão muito bravas”, observa Pouya Hemmati, uma cirurgiã de 31 anos.

Para ela, Chauvin deve ser condenada pelo que considera ser um “assassinato” e um caso de “brutalidade policial” contra Floyd.

“Todos o viram colocar o joelho no pescoço [de Floyd] por 9 minutos e meio”, explica.

Como exemplo da tensão existente, a polícia anunciou que na manhã de domingo dois membros da Guarda Nacional foram atacados a tiros a partir de um carro em movimento.

Nenhum foi atingido pelas balas e tiveram apenas ferimentos superficiais, principalmente por causa do vidro quebrado.

Maxine Waters, uma congressista democrata negra da Califórnia que viajou para Minnesota, foi acusada por funcionários republicanos de colocar lenha na fogueira neste fim de semana.

“Devemos ficar nas ruas, devemos ser mais ativos, devemos ser mais agressivos”, defendeu a octogenária, que disse esperar a condenação de Chauvin.

– “Desencadeie uma mudança” –

 

Para alguns moradores, diante dos histórico do tribunal de Minnesota, quando se trata de casos envolvendo policiais, há maior probabilidade para um veredicto que inocente o acusado.

“A única vez que vimos (um policial) ser condenado ele era uma pessoa negra. Portanto, como uma pessoa negra, não espero que o resultado seja – entre aspas – favorável a mim”, ressalta Ashley Commodore.

“Não acho que ele será condenado, e acho que a cidade está se preparando para isso”, acrescenta a cantora de 33 anos, citando a presença da Guarda Nacional.

A jovem prevê “revoltas e confrontos” que se “duplicarão ou até triplicarão” de intensidade em relação ao ano passado.

Porém, se Chauvin for considerado culpado, Commodore espera que o caso “realmente desencadeie uma mudança” na forma como a polícia de Minnesota atua.

Clanton prefere ser otimista. “Só espero que tudo corra bem, que todos estejam satisfeitos e que nossa cidade continue de pé”, argumenta.