Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) – O Brasil e seus pares da América Latina vêm registrando recuperação econômica acima do esperado, mas uma mudança de ventos no mundo, com alta de juros em economias avançadas, tende a reduzir o crescimento na região, disse nesta quinta-feira o diretor para o Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Ilan Goldfajn, ponderando que a desaceleração da atividade deve trazer alívio à inflação.

“Nossas preocupações à frente vão inverter, vamos ficar menos preocupados com a inflação e mais preocupados com o crescimento”, disse em evento promovido pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

No diagnóstico apresentado por Ilan, que antecedeu Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central, Brasil e outros países da América Latina tiveram recuperação forte dos efeitos da pandemia de Covid-19 e se beneficiaram da alta de preços das commodities após a guerra na Ucrânia. O cenário trouxe uma retomada da atividade, mas uma aceleração dos preços aos consumidores.

Ele destacou que os bancos centrais da região agiram rápido e conseguiram manter as expectativas para a inflação de longo prazo ancoradas, sem perda de controle.

Com o início do movimento de alta nos juros dos Estados Unidos e de outras economias avançadas, porém, o economista afirmou que a situação já começou a mudar. Nesse cenário, segundo ele, o dólar ganha valor e o fluxo de recursos para a América Latina tende a reduzir, também com impacto negativo sobre o PIB.

Em um ambiente de desaceleração no mundo, especialmente nos Estados Unidos e Europa, Goldfajn avaliou que deve ser observado um recuo nas cotações das commodities, o que piora os termos de troca do Brasil e de seus pares –embora ajude a conter a inflação.

“Todas as vezes que há aperto das condições monetárias no mundo, a região sofre”, disse, ressaltando que projeções de crescimento para países da América Latina em 2023 estão sendo revistas para baixo.

Na avaliação de Ilan, Brasil e região precisam viabilizar uma estabilidade econômica ao mesmo tempo em que buscam sustentabilidade social.

“Governos terão que gerar superávit, mas de maneira progressiva, defendendo os mais vulneráveis, aqueles que estão precisando. Isso não é fácil de conseguir”, disse.

Para ele, a única maneira de atingir esse objetivo a médio prazo é sair da estagnação do PIB per capita observada na região, com ganhos de produtividade e educação.

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