s recentes altas nas taxas de juros feitas pelo Banco Central obrigou as famílias brasileiras a readequar seus orçamentos e planejar o pagamento das dívidas e a aquisição de novos financiamentos. Afinal, a taxa Selic subiu e mais do que dobrou em um ano, saltando de 2%, em agosto de 2020, para os atuais 5,25%. E a previsão dos analistas é de que ela suba ainda mais e possa chegar a 7% em dezembro.

O nome Selic vem da sigla Sistema Especial de Liquidação e de Custódia. Controlada pelo Banco Central, ela influencia todas as taxas de juros do país, como financiamentos e aplicações financeiras. O rendimento da caderneta de poupança, por exemplo, tem como base a taxa Selic.

Quando a pessoa financia um imóvel, o reajuste das prestações que a pessoa vai pagar, conforme o contrato de financiamento, também é calculado de acordo com a Selic. Ou seja, a Selic está muito presente na vida financeira das pessoas e suas oscilações interferem diretamente no bolso das pessoas – para mais e para menos, principalmente no pagamento das dívidas.

“Com a alta da Selic, uma parte maior do rendimento das pessoas deverá ser direcionado para as despesas com financiamentos, por causa dos juros, e uma parte menor sobra para consumo e investimento”, explica Rui Cabral, sócio-líder de Risco e Finanças para Setor Financeiro da EY.

Diante disso, é bom se planejar. O primeiro passo, segundo Cabral, é a pessoa identificar quais financiamentos e despesas serão impactados com a alta dos juros. Despesas com juros do cartão de crédito e cheque especial, por exemplo, tendem a se elevar muito e merecem cuidado especial na hora de serem utilizados.

No caso de financiamentos imobiliários, é possível, desde que conste no contrato, a possibilidade de portabilidade do financiamento para outro plano ou mesmo outro banco com taxas menores. “Os clientes vão sentir a alta dos juros no momento de pagar a prestação do imóvel. Esses clientes podem chegar na sua instituição financeira, ou mesmo em outra instituição, e encontrar soluções mais adequadas ao seu orçamento”, diz Cabral.

No caso de contrair novos financiamentos ou empréstimos, o consultor da EY alerta para a necessidade de calcular o valor da prestação com uma folga de garantia no orçamento familiar, para mais ou para menos. Assim, a pessoa sente menos os impactos no dia a dia quando a prestação subir em decorrência. Por exemplo: se o orçamento permite assumir um financiamento de R$ 1 mil por mês, é melhor já estar preparado para ter de pagar uma prestação de R$ 1,2 mil.

Na outra ponta dos efeitos da taxa de juros, quando sobra algum dinheiro para investir, é hora de pensar como aplicar esse dinheiro. Até alguns anos atrás, a clássica caderneta de poupança era praticamente o único destino das economias. A poupança continua popular, mas hoje em dia, além de haver outras opções mais rentáveis, o rendimento da poupança chega a perder para a inflação, já que a remuneração básica é 70% da Selic. Alguns Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), que são tão seguros quanto a poupança rendem muito mais do que isso.

“A caderneta de poupança é um produto que o brasileiro assimilou bem. Mas hoje em dia há muitas outras alternativas, desde o Tesouro Direto, que tem a garantia da União e oferece taxas interessantes, até outras mais complexas, como a renda variável”, explica o consultor da EY. “Por isso que observamos um aumento das corretoras para ajudar as pessoas a tomar as melhores decisões para o dinheiro delas”, completa Cabral.