Alta de infecções no fim do ano pode estar ligada a preparos na cozinha

Em meio à correria para colocar o peru no forno, acertar o ponto do bacalhau e finalizar a salada de maionese, o preparo das refeições das festas de fim de ano esconde um perigo que passa despercebido: a mistura de alimentos crus e cozidos, aliada à higiene inadequada, cria condições perfeitas para a proliferação de bactérias capazes de causar de intoxicação alimentar a infecção urinária.

É justamente nessa rotina acelerada que surgem os descuidos: a tábua usada para cortar o frango cru reaparece na hora de fatiar a salada, a pia fica tomada por respingos da lavagem das aves e os pratos frios aguardam tempo demais à temperatura ambiente. Somados, esses hábitos abrem caminho para bactérias resistentes e capazes de desencadear infecções que vão muito além de um simples mal-estar após a ceia.

“As pessoas assumem comportamentos de risco inconscientemente. O maior cuidado que se deve tomar é quando se compra o animal inteiro, algo comum nessa época”, alerta o infectologista David Lewi, do Einstein Hospital Israelita. Um cuidado básico é: não se deve lavar carnes cruas — seja de boi, porco, peixe e, principalmente, frango. Micro-organismos presentes nas aves estão entre as principais causas de contaminação cruzada na cozinha.

Isso acontece quando, ao lavar o frango, por exemplo, superfícies, utensílios ou outros alimentos acabam contaminados. “Os utensílios que forem usados na carne crua, incluindo a tábua, não devem ser os mesmos que vamos cortar o animal já preparado”, ensina Lewi. “E claro, tudo deve ser acondicionado na temperatura correta e em potes bem fechados para garantir a segurança do alimento.”

Atenção aos sintomas

Não se deve normalizar a ideia de que “faz parte” passar mal em festas de fim de ano. Como o período é marcado por uma alimentação excessiva, muita gente demora a procurar atendimento quando está diante de sintomas como diarreia, náuseas, vômitos e dores abdominais. “É importante levar em consideração que infecções gastrointestinais nem sempre são problemas simples e que se resolvem sozinhas, como muita gente minimiza. Elas podem exigir tratamentos intensos, com vários dias de internação, e até levar a óbito”, frisa o infectologista.

Os riscos ligados ao preparo de alimentos não se restringem a infecções gastrointestinais. A contaminação pode se refletir até em um aumento de casos de infecção urinária, segundo aponta um estudo publicado na revista mBio em outubro. A investigação detalha o elo entre o manuseio de alimentos mal-higienizados e os danos causados por agentes infecciosos no trato urinário. De acordo com a pesquisa, 18% das infecções nessa parte do corpo são causadas por bactérias Escherichia coli presentes em alimentos.

Embora a E. coli seja transmitida por via fecal-oral, cerca de 85% dos casos de infecção urinária são causados por ela. O cenário pode ser ainda pior para mulheres que vivem em áreas sem saneamento básico — de acordo com o estudo, elas têm risco 60% maior de desenvolver infecção urinária em razão de contaminações na cozinha.

Os autores apontam que as aves são as maiores contaminantes, principalmente o peru, cujas bactérias foram encontradas no trato urinário feminino no estudo. “Há dois fatores que podem elucidar essa relação da E. coli com a infecção urinária. O primeiro é a proximidade anatômica que mulheres têm do ânus ao canal urinário, o que facilita a transmissão da maioria das infecções. Entretanto, também são as mulheres que culturalmente mais preparam os alimentos e, ao manusear algum ingrediente contaminado, elas podem acabar levando essas bactérias pelo toque até o trato urinário”, explica o médico do Einstein.

Como evitar infecções?

Qualquer alimento cozido a temperaturas acima de 75°C já tem suas bactérias eliminadas, incluindo a E. coli. Exceto preparos crus que precisam ser mantidos refrigerados, como a salada de maionese, é na pia o maior ponto de contaminação.

Os utensílios usados para carne devem ser diferentes daqueles utilizados no preparo de vegetais. Além disso, tudo que tiver contato com carne crua deve ser esterilizado em água fervente antes de voltar para a gaveta. Também vale manter os preparos com vegetais, como a maionese, armazenados em geladeira antes de fazer as carnes e aves, para evitar a contaminação cruzada. “Os vegetais também devem ser limpos e postos de molho em uma solução higienizadora para evitar as contaminações”, orienta David Lewi.

O cuidado deve ser ainda maior no caso de quem abate os animais em casa ou usa animais inteiros que não foram limpos previamente, já que o processo de extração das vísceras acaba espalhando as bactérias. Nesse caso, o ideal é fazer a limpeza em outra pia, diferente daquela que terá contato com os demais alimentos.

E atenção! Lavar a pia apenas com bucha e detergente após as preparações não basta. “Muitas das aves provenientes de granjas industriais têm bactérias multirresistentes, por isso, é preciso ter um cuidado maior na limpeza das bancadas de trabalho, usando água sanitária, desinfetantes e, preferencialmente, água fervente”, alerta Lewi.

Fonte: Agência Einstein

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