Alta de cirurgia de fimose em adolescentes brasileiros alerta especialistas

Nos últimos dez anos, as internações cirúrgicas por problemas relacionados à fimose em adolescentes cresceram mais de 80% no Sistema Único de Saúde (SUS), segundo levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a partir de dados dos SUS. Esse aumento acendeu um alerta entre urologistas, que veem na tendência um sinal de que o diagnóstico pode estar acontecendo tarde demais, quando a cirurgia é mais dolorosa, a recuperação é mais lenta e as complicações são mais frequentes.

A fimose é caracterizada pelo excesso de pele que recobre a cabeça do pênis e dificulta a retração do prepúcio. Ela é bastante comum nos primeiros anos de vida, inclusive recebe o nome de “fimose fisiológica”, e costuma se resolver espontaneamente até os 3 anos. O problema surge quando o prepúcio (essa pele que recobre a glande) não consegue ser retraído. Isso dificulta a higiene, favorece infecções e, mais tarde, pode causar constrangimento e dor durante as ereções. 

Quando não há uma resolução natural do quadro até os 7 anos de idade, é possível tratar com pomadas de corticoide. “Após esse período, se o problema persistir, a cirurgia é recomendada e é sempre melhor operar na primeira infância do que na adolescência”, explica o urologista Daniel Suslik Zylbersztejn, do Einstein Hospital Israelita.

A investigação da SBU com dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS mostra que as internações por fimose, parafimose e prepúcio redundante na faixa de 10 a 19 anos saltaram de 10.677, em 2015, para 19.387, em 2024. Isso pode ser explicado por múltiplas causas: falhas no diagnóstico precoce, dificuldade de acesso aos serviços de saúde e um afastamento típico dos meninos do consultório médico depois que deixam o pediatra, especialmente nos primeiros anos da puberdade. A pandemia de Covid-19 também contribuiu: cirurgias eletivas foram adiadas e parte das consultas deixou de acontecer, empurrando a resolução do problema para mais tarde.

Além do desconforto físico, a fimose não tratada eleva o risco de infecções urinárias, infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e até câncer de pênis. “Na adolescência, o pênis é maior, a pele já tem mais fibrose e pode sangrar mais. O menino tem mais ereções devido à testosterona, e a recuperação tende a ser mais desconfortável e demorada”, adverte Zylbersztejn, que é diretor do departamento de Urologia do Adolescente da SBU. “Pela masturbação e pela iniciação sexual, muitos acabam precisando do procedimento nessa fase.”

O procedimento pode ser feito em qualquer idade. “As principais complicações são sangramento e hematoma. Infecção é muito rara, e a maioria dos meninos se recupera bem com cuidados simples”, assegura o urologista.

Cirurgias também reduziram nos EUA

A realidade brasileira se conecta a uma tendência observada também fora do país. Nos Estados Unidos, um estudo publicado recentemente no periódico Pediatrics revela que as taxas de circuncisão neonatal, procedimento indicado pelos pediatras estadunidenses nos primeiros dias de vida, caíram abaixo de 50% pela primeira vez: passaram de 54% em 2012 para 49% em 2022. 

A queda, porém, não foi uniforme: ela aconteceu principalmente entre famílias brancas e de maior renda, enquanto as taxas permanecem estáveis entre famílias negras e hispânicas. Segundo os pesquisadores, fatores como ceticismo em relação às recomendações médicas e redução da cobertura de seguros de saúde explicam parte da mudança.

“O contexto americano é diferente, pois no Brasil não há recomendação para circuncisão neonatal de rotina. Por aqui, o procedimento é restrito a casos de indicação médica ou motivos religiosos”, explica Daniel Zylbersztejn. “Mas tanto aqui quanto lá, o mais importante é garantir informação clara às famílias e assegurar que crianças e adolescentes tenham acesso a diagnóstico precoce e acompanhamento adequado.”

Fonte: Agência Einstein

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