Alok é um dos maiores DJs do mundo, mas com apenas 32 anos de idade, ele já entendeu que fama e fortuna não significam felicidade.

“Eu tinha 24 anos. Eu era o DJ nº 1 do Brasil. Eu tinha sucesso financeiro, popularidade. E eu sentia um vazio enorme, porque eu dizia que, se esse é o significado da vida para mim, a vida não tem significado”, diz a estrela da música eletrônica brasileira, o primeiro sul-americano a alcançar fama mundial nesse gênero.

Alok estava lutando contra mais um ciclo de depressão, que ele vivera pela primeira vez aos 10 anos. Após embarcar em uma busca por sentido para sua vida, Alok visitou a floresta amazônica para se conectar com a natureza, e conheceu o povo indígena Yawanawá. Ele depois visitou a África com o grupo humanitário Amigos sem Fronteiras, o que mudou sua vida.

Alok, que na época não acreditava em Deus, em grande parte devido à pobreza global disseminada, teve um encontro com uma mulher idosa, cega e tão faminta que havia amarrado uma corda em volta da barriga para sentir menos fome.

“Ela me contou que estava rezando para Deus, para alguém ir lá ajudá-la. E eu disse a ela: ‘Escuta, Deus não existe’… E a resposta dela mudou minha vida para sempre”, diz ele, recordando que a mulher lhe disse que havia rezado, ouvido Deus, e sabia que Ele estava presente. “Eu tinha tudo e estava reclamando (…) a partir daquele momento, não podia mais abandonar (Deus”).” Depois disso, ele passou a se envolver com iniciativas filantrópicas e “comecei a preencher meu coração daquele vazio”.

Considerado o 4º maior DJ do mundo pela revista DJ Mag, Alok, que lançou em setembro a música Jungle, sua tão aguardada parceria com The Chainsmokers e Mae Stephens, tornou uma prioridade fazer do mundo um lugar melhor enquanto faz todo mundo dançar.

Conhecido por parcerias e remixes com artistas como John Legend, Dua Lipa e os Rolling Stones, Alok participou ainda em setembro das festividades da Semana do Clima das Nações Unidas, pelo segundo ano consecutivo. Representando sua organização sem fins lucrativos, o Instituto Alok, ele organizou o painel “O futuro é ancestral: música, uma tecnologia secreta dos povos indígenas”, destacando como a música pode ajudar a preservar a cultura indígena, inclusive as línguas tradicionais.

Recentemente, os povos indígenas brasileiros comemoraram a decisão do Supremo Tribunal Federal de proteger seu direito à terra, em uma ação que tentava retomar do povo Xoleng parte das terras demarcadas.

“Sempre tivemos a ideia de que os povos indígenas são selvagens e têm uma cultura menos desenvolvida (…) o que existe são valores e objetivos diferentes”, diz Alok, que lançou Car Keys com Ava Max no meio deste ano. “Eles nunca tiveram a oportunidade de contar a própria história, ou ela é (geralmente) contada por outros, normalmente um homem branco.”

Alok, que também está envolvido em programas filantrópicos em três países africanos, vem se dedicando a garantir que as comunidades indígenas brasileiras tenham voz, e trabalhando para literalmente amplificar suas vozes em um próximo álbum, chamado The Future is Ancestral (O futuro é ancestral). Ele contará com músicos indígenas, e o lançamento está previsto para o ano que vem.

“Não estou lançando o álbum como Alok, estou lançando como produtor, porque sinto que quem precisa estar à frente? (…) os povos indígenas. E não posso ser eu que os represento, um cara branco”, diz Alok, que fez contato com outros músicos indígenas em todo o Brasil a partir dos Yawanawá. “Estamos sempre falando em proteger a floresta e tal, mas estamos tão desconectados da floresta (…) uma maneira muito boa de fazer isso é ouvir as músicas indígenas.”

O artista de Hear Me Now e All By Myself, que tiveram, respectivamente 700 milhões e 100 milhões de reproduções no Spotify, foi a atração principal do maior show de sua carreira no final de agosto, no aniversário de 100 anos do histórico Copacabana Palace Hotel, no Rio de Janeiro. O evento era gratuito, e milhares de pessoas fizeram a festa na praia, enquanto milhões de outras assistiram à transmissão online ou pela TV. Fogos de artifício dançavam no céu enquanto Alok tocava no alto de uma gigantesca pirâmide futurista.

Mas enquanto faz aparições em festivais internacionais, residências e recentes apresentações nos EUA, ninguém vê o artista, casado e pai de dois filhos, reclamar.

“(Estou) muito cansado, mas muito feliz também, porque, honestamente, estou fazendo o que amo e vendo tantas coisas acontecendo e todos os sonhos se materializando (…) (mas) parece que não durmo há cinco meses”, diz Alok, que também está envolvido em controvérsias de direitos autorais. “Diz mais respeito a como posso encontrar equilíbrio para estar com minha família e fazer tudo isso. Mas estou muito feliz.”

Nascido em Goiânia, no centro da cultura rural do Brasil, ele é filho de dois influentes DJs do psytrance underground, Swarup e DJ Ekanta. Alok e seu irmão gêmeo fraterno, Bhaskar, que também é DJ profissional e produtor, aprenderam ainda crianças a tocar. Alok conta que seus pais não os obrigaram a seguir os negócios da família.

Embora já seja conhecido na América Latina, Europa e China, ele diz que abrir espaço nos EUA é importante porque ainda é significativo receber o selo de aprovação americano.

“Os EUA trazem uma validação (…) sempre aprendemos em nosso país que o que é melhor vem de fora, da América e da Europa, e que somos inferiores”, explica Alok. “Mas isso não é verdade. O que é verdade é que precisamos trabalhar muito para atravessar as fronteiras e estar aqui.”

Ele menciona que os brasileiros se veem representados na TV americana, destacando a vitória de Anitta no VMA por melhor vídeo latino dois anos consecutivos como motivo de orgulho – não apenas para o país, mas para ele.

“Ainda acho que há muitas coisas (a realizar). E toda vez que você acha que já está grande demais, não deixa mais espaço para crescer. E sempre sinto que estou só começando.”