Quem me acompanha nesta Istoé conhece meu apoio amplo, geral e irrestrito à democracia e, ato contínuo, a todo e qualquer Estado democrático de direito, independentemente de ser governado pela esquerda, direita, centro ou qualquer outro rótulo bocó que inventem.

Sou igualmente um combatente feroz de quaisquer formas de preconceito, além de apoiador de políticas públicas voltadas para a inclusão, seja social, religiosa, de gênero, étnica, enfim, pois acredito incondicionalmente na pluralidade como forma de crescimento.

Ainda que judeu e com fortes laços afetivos e culturais por meu povo e meus antepassados, não professo regularmente a religião. Gostaria de crer e ter fé suficientes, que me levassem à prática religiosa e me tornassem alguém, digamos, mais espiritualizado. Porém…

AMAZONAS OU ALEMANHA NAZISTA

Esta coluna não foi escrita por causa do meu judaísmo, ainda que por ele. Foi escrita em nome de valores civilizatórios e democráticos mínimos, algo que vem faltando recorrentemente – infelizmente! – no País, e já há bastante tempo, aliás.

André Lajst é cientista político, mestre e doutor. É também o responsável pela entidade mundial Stand With Us no Brasil. Palestrante dos bons, foi convidado para falar sobre empreendedorismo na Universidade Federal do Amazonas, em Manaus.

Um dos principais tópicos de sua palestra era sobre energia limpa e renovável, setor em que Israel também é protagonista no mundo. O objetivo era mostrar e incentivar a busca por oportunidades nesta área, para alunos, professores e pesquisadores.

ANTISSEMITISMO EXPLÍCITO

O que era para ser um evento acadêmico e empresarial tornou-se palco de barbárie sob a forma explícita de antissemitismo. André, judeu-israelense, foi hostilizado e quase agredido por uma turba selvagem de mais ou menos 30 pessoas, entre estudantes e não estudantes.

Graças ao policiamento que foi chamado ao local, André não se feriu (ao menos fisicamente) e prosseguiu com seu belo trabalho. Qual? Defender Israel ou atacar os palestinos? Não. Palestrar sobre… empreendedorismo!! Que crime, não é mesmo?

Bandeiras e camisetas, com símbolos e cores de movimentos palestinos e de ódio a Israel, foram vistas à fartura entre os agressores. Palavras de ordem, acusando Lajst de ser fascista, nazista e outras barbaridades ecoaram forte durante a pancadaria com a polícia.

QUE PAÍS QUEREMOS

Não há como negar, relativizar, tergiversar, justificar… O ataque contra Andre foi, sim, de cunho antissemita. A motivação não era impedir uma palestra sobre energia limpa, mas impedir um judeu de palestrar. Há vídeos nas redes sociais que comprovam o que escrevo.

O Brasil, após os inaceitáveis atos terroristas de 8 de janeiro deste ano, vem conseguindo, aos trancos e barrancos, através da firme atuação da Justiça, perseguir e responsabilizar, na forma da lei, os criminosos que atentaram contra a democracia nacional.

Cada vez mais, entes (públicos e privados) engajam-se na defesa de minorias e na luta diária contra as diversas formas de intolerância e autocracia. Nossa sociedade – ainda em desenvolvimento, violenta e despolitizada – vem buscando progredir, crescer, melhorar.

A LEI É PARA TODOS, OU NÃO?

O ministro da Justiça e Segurança Pública, senhor Flávio Dino, está obrigado a tomar ciência, providências e se posicionar pública e imediatamente sobre o caso, sob pena de omissão, no mínimo, ou tácita concordância com atos antissemitas em território nacional.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), senhor Alexandre de Moraes, a quem tanto reconheço mérito pela coragem e resiliência na luta contra os extremistas, precisa agir de igual forma, teor e intensidade, neste caso, como fez com os golpistas em Brasília.

Se de fato buscamos uma sociedade livre, plural e submissa ao ordenamento constitucional, é imperativo impedir, no nascedouro, atos dessa envergadura e motivação, afinal, não existe democracia onde alguém é impedido de trabalhar apenas por ser judeu. Ou será que, mais uma vez, a lei será seletiva no Brasil?