A região conhecida como o Chifre da África, localizada no Nordeste do continente africano contempla Somália, Etiópia, Eritreia e o Djibouti e essa porção do planeta já passou por diversos momentos de crise humanitária. Agora, no entanto, uma combinação de fatores negativos tornou a situação de fome generalizada.

A pior seca dos últimos quarenta anos e a severa recessão econômica causada pela pandemia, fez o número de pessoas que precisam de ajuda urgente saltar de 13 milhões no inicio do ano para os 80 milhões de hoje. O levantamento foi feito pela Organização das Nações Unidas (ONU). A mesma ONU afirmou que a desnutrição infantil cresceu exponencialmente e, dessa forma, aumenta o risco de surtos de doenças como meningite, sarampo e cólera.

Nesse momento em que as debilidades fizeram até a esperança diminuir, surgiu, na terça-feira 30, no horizonte do Golfo de Aden, o navio MV Brave Comander, fretado pela própria ONU. Ele chegou carregado com 23 toneladas de trigo vindos da Ucrânia. A chegada da carga ao Chifre da África somente foi possível após intensa negociação entre a Rússia, Ucrânia, Turquia e a própria ONU.

O nome do acordo é Programa Mundial de Alimentos (PMA). A vinda dos grãos à África é de vital importância para a população local, pois além de matar parcialmente a fome, ativa o comércio entre as nações. Acontece, porém, que o episódio representa a realização concreta dos interesses particulares da Rússia. Primeiro, o Kremlin deseja melhorar a sua imagem frente à comunidade internacional, já que somente Vladimir Putin poderia permitir a passagem da nau pelo Mar Vermelho, que desde o inicio da guerra está sob sua supervisão.

Depois, ele mostra ao mundo que deseja aumentar as negociações comercias com o continente africano, de acordo com a reunião que teve em junho, em Socchi, na Rússia, com o presidente da União Africana, o senegalês Macky Sall. Nesse contexto, percebe-se que o jogo político e diplomático vai além da pura e simples assistência humanitária.