Os alimentos contaminados, seja por bactérias, vírus, parasitas ou produtos químicos prejudiciais representam um problema crucial sanitário e socioeconômico que causa 420.000 mortes em todo o mundo a cada ano e que será debatido em uma conferência internacional que começou nesta terça-feira (12) em Adis Abeba.

“Atualmente, são produzidos alimentos suficientes para todo mundo”, mas além do fato de que esses alimentos estão mal distribuídos, uma parte importante deles “não é saudável”, declarou José Graziano Da Silva, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), na abertura desta conferência.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que uma pessoa em cada dez no mundo fica doente após consumir alimentos contaminados, sendo as crianças menores de cinco anos as principais vítimas.

Segundo a OMS, o consumo de alimentos contaminados é a causa de mais de 200 doenças, desde as doenças diarreicas, as mais mortíferas, até o câncer.

Mas o desafio é também socioeconômico, já que as doenças de origem alimentar demandam “muito dos sistemas de saúde” e causam “dano às economias nacionais, ao turismo e ao comércio”, analisa a OMS.

O impacto financeiro é de 95 bilhões de dólares por ano nas economias com rendimentos baixos ou médios, segundo a FAO.

– A duas velocidades –

“A segurança sanitária dos alimentos é uma questão de primeira ordem para o conjunto do globo, mas é aqui, na África, onde o impacto desta catástrofe se ressente mais”, lamentou o presidente da Comissão da União Africana (UA), Mussa Faki, ressaltando que um terço das vítimas são africanas.

Para um país em situação de seca ou de fome, o desafio é evitar que a população se oriente, por escassez, para fontes de águas contaminadas por cólera ou alimentos impróprios para o consumo, aponta à AFP Bayuku Konteh, ministro do Comércio e Indústria de Serra Leoa.

Outros países querem poder exportar alimentos respeitando as normas sanitárias internacionais.

Konteh alerta sobre uma segurança alimentar a duas velocidades: de um lado, produtos saudáveis destinados à exportação, e do outro, produtos impróprios para o consumo que se comercializam no mercado local.

O diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, lembrou que “a segurança sanitária dos alimentos está vinculada a muitos objetivos de desenvolvimento sustentável”, incluindo a luta contra o aquecimento global ou contra o desperdício alimentar.

Segundo a FAO, 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas por ano, ao mesmo tempo em que 815 milhões de pessoas estão subalimentadas.

– Enfoque transversal –

A OMS, a FAO e a UA querem com esta conferência chamar a atenção sobre a segurança sanitária dos alimentos.

Um total de 125 países assistem a esta conferência, na qual participam cerca de 20 ministros, assim como autoridades sanitárias.

A conferência se desenvolve na terça e na quarta-feira e se espera “uma declaração consensual não vinculativa, que enumere como se pode intensificar os esforços”, explicou à AFP Kazuaki Miyagishima, que dirige o departamento da OMS encarregado da segurança sanitária dos alimentos.

Miyagishima defende um enfoque transversal: estabelecer sólidos marcos legislativos, reforçar as capacidades técnicas, formar especialistas, estabelecer sistemas sanitários capazes de detectar focos de doença e potenciais riscos, ou inculcar que se compartilhe informações entre as autoridades do mesmo país ou entre países.

“Se um desses pilares da luta contra os alimentos contaminados cai, todo o sistema pode desmoronar”, diz.