Adriano Machado

O uso da máquina pública para atrair parlamentares para a base aliada do governo deu resultados concretos para o presidente da República. Graças à janela partidária, que é o prazo de trinta dias que os deputados tiveram para trocar de legenda sem o risco de perder o mandato e que foi fechada no último sábado, 2, os partidos do Centrão (PL, PP e Republicanos) aumentaram suas bancadas, provocando mudanças no cenário político às vésperas das eleições mais importantes das últimas décadas no país. O PL, partido de Valdemar Costa Neto e do presidente Jair Bolsonaro, cresceu 70% e ganhou 42 novos deputados, totalizando 75 parlamentares, tornando-se a maior bancada na Câmara. O PP, partido do ministro Ciro Nogueira (Casa Civil), passou de 41 para 56 deputados e o Republicanos saltou de 33 para 43.

Para o deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ), o crescimento dos partidos da base do governo é resultado do uso de dinheiro público, através do orçamento secreto liberado por meio das emendas de relator, que serviram para comprar apoio parlamentar. “O que aconteceu foi consequência do velho toma lá, dá cá em troca de verbas de emendas parlamentares e de cargos na máquina pública. Não é o Centrão que está nas mãos de Bolsonaro, é o presidente que está nas mãos do Centrão”, denunciou o parlamentar.

O governo já contava com uma base importante e essa correlação de forças apenas ampliou o poder de fogo do mandatário na disputa pela reeleição. Na verdade, o PL cresceu após receber a ala do PSL que era bolsonarista, sob a liderança de deputados umbilicalmente ligados ao presidente, como seu filho 03, o deputado Eduardo. Esse movimento de mudanças nos partidos em direção às siglas governistas já era esperado. Afinal, além da questão do uso da máquina governamental e empregos para apadrinhados, existe um outro fator atrativo para a mudança para as legendas do Centrão, que é a promessa de maiores recursos do fundo eleitoral.

“Não é o Centrão que está nas mãos de Bolsonaro, é o presidente que está nas mãos do Centrão” Marcelo Freixo, deputado do PSB-RJ

De acordo com o cientista político Paulo Baía, os partidos que têm maior fundo eleitoral são aqueles que mais se beneficiam com a possibilidade de mudanças de parlamentares dentro da janela partidária. “As máquinas dos governos federal e estaduais ajudam nessa atração na medida em que têm cargos e verbas públicas para impulsionar as campanhas. Esses benefícios, contudo, estão sendo concedidos de maneira muito camuflada, por que se forem explícitos podem caracterizar abuso do poder econômico e abuso do poder político, tornando os candidatos inelegíveis”.

De toda forma, toda essa movimentação, principalmente em função do fundo eleitoral e do fundo partidário, fez com que partidos como o PL e o União Brasil se beneficiassem. O PL, além de um grande fundo eleitoral, conta com o presidente da República e vários governadores, o que também facilitou estimulou a mudança. O que se ouve nos corredores do Congresso em Brasília é que o PL saiu vitorioso por ter recursos pouco ortodoxos para movimentar na campanha eleitoral.

PODER EVANGÉLICO O Republicanos, do pastor Marcos Pereira, ganhou 15 novos deputados, mas perdeu cinco (Crédito:Adriano Machado)

Na opinião do senador Carlos Portinho (PL-RJ), líder do PL no Senado, essa dança das cadeiras, na verdade, nada mais é do que o crescimento da base aliada do presidente. “Esse crescimento reflete o apoio dos partidos e dos parlamentares que representam suas bases junto a Bolsonaro na campanha. Por outro lado, a redução da representatividade de outros partidos, inclusive dos adversários do presidente, mostra a fragilidade da oposição. Teremos uma campanha em que a capilaridade dos partidos nos municípios e nos estados será determinante. E as pesquisas vêm alinhadas a esse novo cenário”.

A verdade é que estão em jogo uma série de benesses: oferta de verbas milionárias de campanhas, tempo de propaganda de TV, controle de diretórios regionais, empregos em estatais, emendas de relator, etc. Para o senador Paulo Paim (PT-RS) essa troca partidária tem dois olhares. Um para dentro da máquina pública e outro para a rua.

“A máquina facilita o voto. No caso do governo, ganhando ou não a eleição, esses partidos que inflaram têm tudo para eleger um novo presidente da Câmara, por exemplo”. O senador explica que esse movimento é natural na política porque os deputados querem buscar as melhores condições para se elegerem. A estrutura do governo conta muito para as eleições e por isso houve esse deslocamento na base. “O poder atrai, essa é a verdade. O que o pessoal está de olho é na estrutura. Isso é falta de compromisso com a ideologia, mas é assim que tem funcionado nosso parlamento, infelizmente”.