A rodada mais recente de pesquisas eleitorais da Genial Investimentos e da Quaest, divulgada na sexta-feira, 22, mostrou dificuldades para aliados do presidente Lula (PT) que disputarão governos estaduais em 2026.
Em apenas dois dos oito estados em que o instituto fez entrevistas — que correspondem a 66% do eleitorado do país –, políticos que devem dar palanque ao projeto de reeleição do petista lideram a corrida. Neste texto, a IstoÉ detalha os cenários e explica como eles se relacionam com a próxima disputa presidencial.
São Paulo
No maior colégio eleitoral do país, com mais de 34 milhões de votantes, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem 43% das intenções de voto para se reeleger, em ampla vantagem sobre os 21% do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
A deputada Erika Hilton (PSOL) marcou 8%; Paulo Serra (PSDB), ex-prefeito de Santo André, teve 3%; o ex-presidenciável Felipe D’Ávila (Novo), 2%. Outros 7% não decidiram em quem votar, e 16% não querem escolher um candidato.
Ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL), Tarcísio é cotado para representar o grupo do ex-presidente, que está inelegível, como candidato ao Palácio do Planalto em 2026, mas reitera que seu plano é concorrer à reeleição.
Alckmin, que já governou o estado quatro vezes, seria o “palanque dos sonhos” no estado para o projeto de reeleição de Lula. Petistas avaliam que, em 2022, o bom desempenho do ministro Fernando Haddad, que enfrentou Tarcísio no segundo turno, foi fundamental para o chefe do Planalto garantir a eleição em disputa apertada contra Bolsonaro. Alckmin e o PSB, no entanto, trabalham para manter a vaga na vice.
Minas Gerais
Com mais de 16 milhões de eleitores, o estado é considerado decisivo para a definição presidencial: desde a redemocratização, quem tem mais votos em Minas vira presidente. Neste momento, a corrida pelo governo é liderada pelo senador Cleitinho Azevedo (Republicanos), com 28% das intenções de voto.
Ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (sem partido) marcou 16%, à frente do senador Rodrigo Pacheco (PSD), com 9%. O vice-governador Mateus Simões (Novo), que deve suceder o governador Romeu Zema (Novo), em segundo mandato, marcou 4%. Outros 17% não decidiram em quem votar, e 26% não querem escolher um candidato.
Aliado de Bolsonaro, Cleitinho encampa o discurso da “antipolítica” e tem forte engajamento digital. O grupo ainda pode endossar o vice-governador, já que Zema, pré-candidato a presidente, é aliado de Bolsonaro.
Lula pode ter o palanque mineiro garantido por Pacheco, a quem o presidente se referiu mais de uma vez como “seu candidato” ao Palácio da Liberdade. Em segundo lugar na pesquisa, Kalil deu palanque ao presidente em 2022, quando perdeu a eleição para o governo no primeiro turno, mas afirmou publicamente que a aliança não se repetirá.

Cleitinho, parlamentar aliado de Bolsonaro, lidera com folga pesquisa pelo governo de Minas Gerais
Rio de Janeiro
Embora não se declare candidato, o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), lidera a corrida pelo Palácio da Guanabara com 35% das intenções de voto, à frente do presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), Rodrigo Bacellar (União Brasil), que teve 9%.
Com mais de 13 milhões de eleitores, o estado ainda tem o ex-prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB), com 5% das intenções de voto, a deputada Monica Benicio (PSOL), com 4%, e o influenciador Italo Marsili (Novo), 2%. Outros 15% não decidiram em quem votar, e 30% não querem escolher um candidato.
Paes apoiou Lula em 2022 e teve o PT em sua chapa de reeleição municipal, mas evitou fazer acenos públicos ao petismo para não “herdar” a rejeição ao petismo no estado, considerado o berço do bolsonarismo. A estratégia deve se repetir em 2026, contra um dos aliados de Bolsonaro: Bacellar, candidato do grupo do atual governador, Cláudio Castro (PL), e Reis, que se coloca como o representante legítimo da direita, mas está inelegível.
Bahia
A Bahia é o maior estado governado pelo PT, com mais de 11 milhões de eleitores, mas o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil), foi quem liderou a pesquisa, com 41% das intenções de voto, à frente justamente do atual mandatário, Jerônimo Rodrigues (PT), que teve 34%.
João Roma (PL), ex-ministro de Bolsonaro, marcou 4%, ante 2% de Kleber Rosa (PSOL) e 1% de José Aleluia (Novo). Outros 4% não decidiram em quem votar, e 14% não querem escolher um candidato.
Opositor do PT, ACM não integra o grupo de Bolsonaro, mas é uma das lideranças mais vocais do União Brasil a defender que o partido deixe o governo federal, onde chefia três ministérios — considerando as indicações do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) –, mas tem uma postura majoritária de oposição no Congresso.
Jerônimo, por sua vez, será encarregado de ampliar a prevalência estadual do partido para 24 anos — antes do seu mandato, foram dois do senador Jaques Wagner e outros dois do ministro da Casa Civil, Rui Costa. No núcleo mais fiel ao bolsonarismo, João Roma busca se credenciar a concorrer ao Palácio Rio Branco, mas poderá ser preterido em relação a uma aliança do PL com ACM.
Rio Grande do Sul
Em um cenário aberto, o quinto maior colégio eleitoral do país tem a deputada estadual Juliana Brizola (PDT), com 21%, e o federal Tenente-Coronel Zucco (PL), com 20%, em empate técnico na liderança da corrida pelo Palácio Piratini.
Na segunda fileira, o presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e ex-deputado Edegar Pretto (PT) marcou 11%, acima dos 5% do vice-governador Gabriel Souza (MDB) e dos 4% do deputado estadual Felipe Camozzato (Novo). Outros 19% não decidiram em quem votar, e 20% não querem escolher um candidato.
Neta do ex-governador Leonel Brizola (morto em 2004), Juliana integra um partido de esquerda, mas tem uma trajetória de embates com o petismo em eleições e não deve dar palanque a Lula. Zucco, por sua vez, lidera a oposição na Câmara e é considerado um postulante do “núcleo duro” bolsonarista.
O apoio à reeleição presidencial deve ficar com Pretto, cujo desempenho ao disputar o cargo em 2022 — teve 26,77% dos votos no primeiro turno, em terceiro lugar — o credencia para uma nova empreitada. Na ocasião, ele ficou a menos de 3 mil votos de ir ao segundo turno, logo atrás do governador Eduardo Leite (PSD), que pretende disputar o Palácio do Planalto e deve ter o vice, Gabriel Souza, como candidato à sucessão.
Paraná
Em um colégio eleitoral de 8 milhões de eleitores, o líder da corrida é o senador Sergio Moro (União Brasil), com 38% das intenções de voto e ampla vantagem sobre os 8% de Paulo Eduardo Martins (Novo), 7% de Enio Verri (PT) e 6% de Guto Silva (PSD). Outros 13% não decidiram em quem votar, e 28% não querem escolher um candidato.
Ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e juiz responsável pelas sentenças que levaram Lula à prisão na Operação Lava Jato, Moro chegou a romper com o ex-presidente, mas retomou a aliança em 2022, quando não foi adiante no plano de concorrer ao Planalto e chegou a acompanhá-lo em debates presidenciais.
A distância em relação aos demais pré-candidatos passa pela indefinição de quem será ungido à sucessão do governador Ratinho Júnior (PSD), que conclui seu segundo mandato e é pré-candidato a presidente.
Mas a popularidade do mandatário e sua proximidade com Bolsonaro geram a projeção de uma corrida disputada entre diferentes representantes da direita. Na raia lulista, por sua vez, a pré-candidatura de Verri reflete a falta de alternativas em um estado que rejeita amplamente o partido. Em 2022, o PT filiou o ex-governador Roberto Requião, que tinha longa trajetória no MDB, e ainda assim não provocou sequer uma disputa de segundo turno contra Ratinho, reeleito com larga vantagem.

João Campos, prefeito do Recife: aliado de Lula à frente na corrida pelo governo de Pernambuco
Pernambuco
O estado de 7 milhões de eleitores volta a colocar um aliado de Lula na liderança da corrida pelo governo: o prefeito do Recife, João Campos (PSB), tem 55% das intenções de voto e ampla vantagem sobre os 24% de Raquel Lyra (PSD), candidata à reeleição.
O ex-ministro Gilson Machado (PL) marcou 6%, e Eduardo Moura (Novo), 4%. Outros 4% não decidiram em quem votar, e 7% não querem escolher um candidato.
Filho do ex-governador Eduardo Campos (morto em 2014), o pessebista chegou a se opor ao PT em sua primeira eleição para a prefeitura, contra Marília Arraes (hoje no Solidariedade), mas protagonizou uma reaproximação com Lula inclusive a nível nacional, já que atualmente preside a sigla.
A governadora, por sua vez, trocou o PSDB pelo PSD em estratégia para se dissociar da oposição ao governo federal, feita pelo antigo partido, o que sugere que o petista terá dois palanques amistosos no estado em 2026. O cenário reflete a popularidade do presidente em Pernambuco, onde teve 66,9% dos votos no segundo turno de 2022.
Goiás
No derradeiro estado mapeado pela Quaest, a corrida pelo governo é liderada pelo vice-governador Daniel Vilela (MDB), com 26% das intenções de voto, em empate técnico com Marconi Perillo (PSDB), que registrou 22%.
O senador Wilder Morais (PL) marcou 10%; a deputada Adriana Accorsi (PT) teve 8%; e Telêmaco Brandão (Novo), 1%. Outros 14% não decidiram em quem votar, enquanto 19% não querem escolher um candidato.
Companheiro de chapa de Ronaldo Caiado (União Brasil), que conclui seu segundo mandato e é pré-candidato à Presidência da República, Vilela deve assumir o governo em abril, com a desincompatibilização do titular, e se promover a partir da popularidade do governo. Embora Caiado seja um dos postulantes ao espólio de Bolsonaro, foi também o primeiro presidenciável do campo a fazer críticas públicas ao ex-presidente e defender a construção de candidaturas sem a exigência de seu aval.
Perillo, que governou o estado quatro vezes, não está associado a Lula ou Bolsonaro e, como presidente nacional do PSDB, investe no discurso da “terceira via” que deve entoar na corrida estadual.
Na segunda fileira, Wilder deve representar o campo bolsonarista — embora já tenha sido atacado pelo ex-presidente –, enquanto Accorsi se credenciou para dar palanque estadual a Lula depois de ter 24,4% dos votos na eleição pela prefeitura de Goiânia, em 2024, com a estratégia de se aproximar do eleitorado de centro.
Todos os levantamentos foram baseados em entrevistas presenciais e têm margem de erro de três pontos percentuais, para mais ou para menos.