Aliados de Lula largam atrás na corrida pelos governos estaduais em 2026

Lula
Lula durante cerimônia de anúncio de medidas para ajudar empresas afetadas por tarifaço dos EUA Foto: 13/08/2025 REUTERS/Adriano Machado

A rodada mais recente de pesquisas eleitorais da Genial Investimentos e da Quaest, divulgada na sexta-feira, 22, mostrou dificuldades para aliados do presidente Lula (PT) que disputarão governos estaduais em 2026.

Em apenas dois dos oito estados em que o instituto fez entrevistas — que correspondem a 66% do eleitorado do país –, políticos que devem dar palanque ao projeto de reeleição do petista lideram a corrida. Neste texto, a IstoÉ detalha os cenários e explica como eles se relacionam com a próxima disputa presidencial.

São Paulo

No maior colégio eleitoral do país, com mais de 34 milhões de votantes, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem 43% das intenções de voto para se reeleger, em ampla vantagem sobre os 21% do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).

A deputada Erika Hilton (PSOL) marcou 8%; Paulo Serra (PSDB), ex-prefeito de Santo André, teve 3%; o ex-presidenciável Felipe D’Ávila (Novo), 2%. Outros 7% não decidiram em quem votar, e 16% não querem escolher um candidato.

Ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL), Tarcísio é cotado para representar o grupo do ex-presidente, que está inelegível, como candidato ao Palácio do Planalto em 2026, mas reitera que seu plano é concorrer à reeleição.

Alckmin, que já governou o estado quatro vezes, seria o “palanque dos sonhos” no estado para o projeto de reeleição de Lula. Petistas avaliam que, em 2022, o bom desempenho do ministro Fernando Haddad, que enfrentou Tarcísio no segundo turno, foi fundamental para o chefe do Planalto garantir a eleição em disputa apertada contra Bolsonaro. Alckmin e o PSB, no entanto, trabalham para manter a vaga na vice.

Minas Gerais

Com mais de 16 milhões de eleitores, o estado é considerado decisivo para a definição presidencial: desde a redemocratização, quem tem mais votos em Minas vira presidente. Neste momento, a corrida pelo governo é liderada pelo senador Cleitinho Azevedo (Republicanos), com 28% das intenções de voto.

Ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (sem partido) marcou 16%, à frente do senador Rodrigo Pacheco (PSD), com 9%. O vice-governador Mateus Simões (Novo), que deve suceder o governador Romeu Zema (Novo), em segundo mandato, marcou 4%. Outros 17% não decidiram em quem votar, e 26% não querem escolher um candidato.

Aliado de Bolsonaro, Cleitinho encampa o discurso da “antipolítica” e tem forte engajamento digital. O grupo ainda pode endossar o vice-governador, já que Zema, pré-candidato a presidente, é aliado de Bolsonaro.

Lula pode ter o palanque mineiro garantido por Pacheco, a quem o presidente se referiu mais de uma vez como “seu candidato” ao Palácio da Liberdade. Em segundo lugar na pesquisa, Kalil deu palanque ao presidente em 2022, quando perdeu a eleição para o governo no primeiro turno, mas afirmou publicamente que a aliança não se repetirá.

Aliados de Lula largam atrás na corrida pelos governos estaduais em 2026

Cleitinho, parlamentar aliado de Bolsonaro, lidera com folga pesquisa pelo governo de Minas Gerais

Rio de Janeiro

Embora não se declare candidato, o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), lidera a corrida pelo Palácio da Guanabara com 35% das intenções de voto, à frente do presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), Rodrigo Bacellar (União Brasil), que teve 9%.

Com mais de 13 milhões de eleitores, o estado ainda tem o ex-prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB), com 5% das intenções de voto, a deputada Monica Benicio (PSOL), com 4%, e o influenciador Italo Marsili (Novo), 2%. Outros 15% não decidiram em quem votar, e 30% não querem escolher um candidato.

Paes apoiou Lula em 2022 e teve o PT em sua chapa de reeleição municipal, mas evitou fazer acenos públicos ao petismo para não “herdar” a rejeição ao petismo no estado, considerado o berço do bolsonarismo. A estratégia deve se repetir em 2026, contra um dos aliados de Bolsonaro: Bacellar, candidato do grupo do atual governador, Cláudio Castro (PL), e Reis, que se coloca como o representante legítimo da direita, mas está inelegível.

Bahia

A Bahia é o maior estado governado pelo PT, com mais de 11 milhões de eleitores, mas o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil), foi quem liderou a pesquisa, com 41% das intenções de voto, à frente justamente do atual mandatário, Jerônimo Rodrigues (PT), que teve 34%.

João Roma (PL), ex-ministro de Bolsonaro, marcou 4%, ante 2% de Kleber Rosa (PSOL) e 1% de José Aleluia (Novo). Outros 4% não decidiram em quem votar, e 14% não querem escolher um candidato.

Opositor do PT, ACM não integra o grupo de Bolsonaro, mas é uma das lideranças mais vocais do União Brasil a defender que o partido deixe o governo federal, onde chefia três ministérios — considerando as indicações do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) –, mas tem uma postura majoritária de oposição no Congresso.

Jerônimo, por sua vez, será encarregado de ampliar a prevalência estadual do partido para 24 anos — antes do seu mandato, foram dois do senador Jaques Wagner e outros dois do ministro da Casa Civil, Rui Costa. No núcleo mais fiel ao bolsonarismo, João Roma busca se credenciar a concorrer ao Palácio Rio Branco, mas poderá ser preterido em relação a uma aliança do PL com ACM.

Rio Grande do Sul

Em um cenário aberto, o quinto maior colégio eleitoral do país tem a deputada estadual Juliana Brizola (PDT), com 21%, e o federal Tenente-Coronel Zucco (PL), com 20%, em empate técnico na liderança da corrida pelo Palácio Piratini.

Na segunda fileira, o presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e ex-deputado Edegar Pretto (PT) marcou 11%, acima dos 5% do vice-governador Gabriel Souza (MDB) e dos 4% do deputado estadual Felipe Camozzato (Novo). Outros 19% não decidiram em quem votar, e 20% não querem escolher um candidato.

Neta do ex-governador Leonel Brizola (morto em 2004), Juliana integra um partido de esquerda, mas tem uma trajetória de embates com o petismo em eleições e não deve dar palanque a Lula. Zucco, por sua vez, lidera a oposição na Câmara e é considerado um postulante do “núcleo duro” bolsonarista.

O apoio à reeleição presidencial deve ficar com Pretto, cujo desempenho ao disputar o cargo em 2022 — teve 26,77% dos votos no primeiro turno, em terceiro lugar — o credencia para uma nova empreitada. Na ocasião, ele ficou a menos de 3 mil votos de ir ao segundo turno, logo atrás do governador Eduardo Leite (PSD), que pretende disputar o Palácio do Planalto e deve ter o vice, Gabriel Souza, como candidato à sucessão.

Paraná

Em um colégio eleitoral de 8 milhões de eleitores, o líder da corrida é o senador Sergio Moro (União Brasil), com 38% das intenções de voto e ampla vantagem sobre os 8% de Paulo Eduardo Martins (Novo), 7% de Enio Verri (PT) e 6% de Guto Silva (PSD). Outros 13% não decidiram em quem votar, e 28% não querem escolher um candidato.

Ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e juiz responsável pelas sentenças que levaram Lula à prisão na Operação Lava Jato, Moro chegou a romper com o ex-presidente, mas retomou a aliança em 2022, quando não foi adiante no plano de concorrer ao Planalto e chegou a acompanhá-lo em debates presidenciais.

A distância em relação aos demais pré-candidatos passa pela indefinição de quem será ungido à sucessão do governador Ratinho Júnior (PSD), que conclui seu segundo mandato e é pré-candidato a presidente.

Mas a popularidade do mandatário e sua proximidade com Bolsonaro geram a projeção de uma corrida disputada entre diferentes representantes da direita. Na raia lulista, por sua vez, a pré-candidatura de Verri reflete a falta de alternativas em um estado que rejeita amplamente o partido. Em 2022, o PT filiou o ex-governador Roberto Requião, que tinha longa trajetória no MDB, e ainda assim não provocou sequer uma disputa de segundo turno contra Ratinho, reeleito com larga vantagem.

João Campos (PSB), prefeito do Recife | Rodolfo Loepert/PCR

João Campos, prefeito do Recife: aliado de Lula à frente na corrida pelo governo de Pernambuco

Pernambuco

O estado de 7 milhões de eleitores volta a colocar um aliado de Lula na liderança da corrida pelo governo: o prefeito do Recife, João Campos (PSB), tem 55% das intenções de voto e ampla vantagem sobre os 24% de Raquel Lyra (PSD), candidata à reeleição.

O ex-ministro Gilson Machado (PL) marcou 6%, e Eduardo Moura (Novo), 4%. Outros 4% não decidiram em quem votar, e 7% não querem escolher um candidato.

Filho do ex-governador Eduardo Campos (morto em 2014), o pessebista chegou a se opor ao PT em sua primeira eleição para a prefeitura, contra Marília Arraes (hoje no Solidariedade), mas protagonizou uma reaproximação com Lula inclusive a nível nacional, já que atualmente preside a sigla.

A governadora, por sua vez, trocou o PSDB pelo PSD em estratégia para se dissociar da oposição ao governo federal, feita pelo antigo partido, o que sugere que o petista terá dois palanques amistosos no estado em 2026. O cenário reflete a popularidade do presidente em Pernambuco, onde teve 66,9% dos votos no segundo turno de 2022.

Goiás

No derradeiro estado mapeado pela Quaest, a corrida pelo governo é liderada pelo vice-governador Daniel Vilela (MDB), com 26% das intenções de voto, em empate técnico com Marconi Perillo (PSDB), que registrou 22%.

O senador Wilder Morais (PL) marcou 10%; a deputada Adriana Accorsi (PT) teve 8%; e Telêmaco Brandão (Novo), 1%. Outros 14% não decidiram em quem votar, enquanto 19% não querem escolher um candidato.

Companheiro de chapa de Ronaldo Caiado (União Brasil), que conclui seu segundo mandato e é pré-candidato à Presidência da República, Vilela deve assumir o governo em abril, com a desincompatibilização do titular, e se promover a partir da popularidade do governo. Embora Caiado seja um dos postulantes ao espólio de Bolsonaro, foi também o primeiro presidenciável do campo a fazer críticas públicas ao ex-presidente e defender a construção de candidaturas sem a exigência de seu aval.

Perillo, que governou o estado quatro vezes, não está associado a Lula ou Bolsonaro e, como presidente nacional do PSDB, investe no discurso da “terceira via” que deve entoar na corrida estadual.

Na segunda fileira, Wilder deve representar o campo bolsonaristaembora já tenha sido atacado pelo ex-presidente –, enquanto Accorsi se credenciou para dar palanque estadual a Lula depois de ter 24,4% dos votos na eleição pela prefeitura de Goiânia, em 2024, com a estratégia de se aproximar do eleitorado de centro.

Todos os levantamentos foram baseados em entrevistas presenciais e têm margem de erro de três pontos percentuais, para mais ou para menos.