Aliados do presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dão como certo o voto da deputada Tia Eron (PRB-BA) contra a cassação do peemedebista no Conselho de Ética. Caso o voto da parlamentar se confirme, Cunha conseguirá se livrar no colegiado da perda de mandato, sofrendo apenas uma pena mais leve.

Nos bastidores, ao menos quatro deputados aliados de Cunha dizem ter recebido informações de que Tia Eron vai votar contra a cassação do peemedebista. Segundo um membro da chamada “tropa de choque” de Cunha, a Universal do Reino de Deus, igreja que a deputada frequenta, teve papel central para fazê-la “votar com ele”.

Eduardo Cunha teria pedido ajuda a líderes da igreja que ela frequenta na Bahia, para convencer Tia Eron. Assim como a parlamentar baiana, o presidente afastado da Câmara é evangélico, só que da igreja Assembleia de Deus. Cunha e Tia Eron têm em suas respectivas igrejas suas principais bases eleitorais.

Preocupação. A certeza dos aliados de Cunha já preocupa adversários do presidente afastado da Câmara. Nessa terça-feira, 7, a preocupação com o risco de derrota ficou clara com as manobras regimentais do presidente do Conselho de Ética, deputado José Carlos Araújo (PR-BA), e do relator, deputado Marcos Rogério (DEM-RO), ambos opositores de Cunha.

Araújo decidiu cancelar a reunião do conselho que aconteceria nesta quarta-feira, 8, na qual o parecer de Marcos Rogério pela cassação de Cunha poderia ser votado. A aliados, o presidente do colegiado disse que as sinalizações dos aliados de Cunha demonstram confiança do grupo deles em relação à votação no Conselho de Ética.

Uma delas foi dada na sessão de terça: o 2º vice-presidente da Câmara, deputado Fernando Giacobo (PR-PR), propôs aos líderes partidários um acordo prevendo que a sessão de votações desta quarta-feira começasse às 9 horas e se encerrasse às 14 horas, para que o conselho pudesse “trabalhar”. A fala gerou alerta nos adversários de Cunha.

Para adversários do presidente afastado da Câmara, o adiamento da votação poderá favorecer o grupo. Eles acreditam que a pressão da imprensa e de parlamentares de oposição ao peemedebista sob Tia Eron  pode fazê-la mudar de voto. Em nenhuma das entrevistas que deu até agora, a deputada baiana revelou seu voto.

Decisiva. A posição de Tia Eron no Conselho de Ética é considerada decisiva, pois, sem o voto dela, o placar atualmente é de 10 votos contra a cassação de Cunha e 9 votos a favor. Caso decida votar contra o peemedebista, ela empatará o placar, dando a José Carlos Araújo a oportunidade de desempatar. Araújo é favorável à cassação.

Caso contrário, o parecer pela cassação será derrotado por 11 votos a 9. Com isso, abrirá caminho para que aliados de Cunha aprovem um outro parecer propondo apenas a suspensão do mandato do peemedebista por três meses. Um voto em separado neste sentido já foi apresentado pelo deputado João Carlos Bacelar (PR-BA), aliado de Cunha.

Mesmo que consiga se salvar no conselho, o processo contra Cunha terá de ser votado no plenário da Câmara, onde a perspectiva é desfavorável ao peemedebista. Ciente disso, seus aliados articulam manobras para alterar as regras da votação do processo em plenário.