Aliados de Ciro Gomes (PSDB) ouvidos pela IstoÉ minimizaram o impacto das críticas que Michelle Bolsonaro (PL) fez ao ex-ministro na negociação que deve levar o partido de Jair Bolsonaro a apoiar sua candidatura ao governo do Ceará em 2026 contra Elmano de Freitas (PT), incumbente no cargo.
A ex-primeira-dama disse no domingo, 30, em Fortaleza, que as lideranças locais da sigla “se precipitaram” na aproximação com Ciro e se opôs à aliança com um “homem que é contra o maior líder da direita”, em referência ao próprio marido. A declaração ocorreu no lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo-CE) ao Palácio da Abolição.
Antipetismo pragmático
Um dos articuladores do acordo, o deputado estadual Felipe Mota (União Brasil) afirmou à IstoÉ que a oposição cearense permanece unida em torno do ex-ministro e que, na chapa em formação, uma das duas vagas abertas no Senado está reservada ao PL — o deputado Alcides Fernandes é o mais cotado. “O nome que o deputado André Fernandes [presidente estadual da legenda] apresentar será acatado”, disse.
Na avaliação do parlamentar, no entanto, a ex-primeira-dama fez um “movimento perigoso” que agora exige correção da direção nacional do partido. “[Ao apoiar Girão] ela pode ser responsável por nós deixarmos o PT mais quatro anos governando o estado. Quem tem que agir agora é o diretório nacional [do PL]”, concluiu.
O discurso está alinhado ao de André Fernandes, que reagiu negativamente à fala de Michelle e, ainda no domingo, disse que o próprio Bolsonaro consentiu com o apoio a Ciro em uma ligação com o próprio e o autorizou a articular por isso. Nesta segunda-feira, 1º, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse ao jornal O Povo que a ex-primeira-dama “atropelou” seu pai e defendeu “tapar o nariz” para garantir uma vaga no Senado ao grupo.
Como a IstoÉ contou nesta reportagem, “tapar o nariz” resume bem a aliança entre o bolsonarismo e Ciro, crítico conhecido do ex-presidente. Fortalecidas pela eleição para a prefeitura de Fortaleza — em que o próprio André foi derrotado por Evandro Leitão (PT) por uma margem de pouco mais de 10 mil votos –, as lideranças da oposição local se aproximaram com a pretensão de encerrar um ciclo de 12 anos de petismo no governo e o ex-presidenciável despontou como nome mais competitivo para isso. A movimentação o levou para o PSDB.
Grupo de Ciro reage sem alarde
No entorno de Ciro, a avaliação é de que a fala de Michelle não fecha portas para 2026. Prefeito de Massapê e presidente estadual do PSDB até a filiação do ex-ministro, para quem transferiu o comando do diretório, Ozires Pontes relatou que não houve qualquer alarme ou reação no grupo porque a aliança com o PL está “muito segura”.
“O acordo é conhecido por todos e tem registros muito claros, independentemente do apoio pessoal da Michelle Bolsonaro ao Girão”, disse à IstoÉ. “Não estou desmerecendo a primeira-dama, que tem um peso político enorme, mas me parece que ela está tratando de outros assuntos da família, não da política do Ceará. Acredito que ela não tenha sido nem sequer informada [do teor das negociações]”.