Quase 24 horas depois do depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Supremo Tribunal Federal (STF), aliados já admitem a derrota e a condenação dele no inquérito que investiga o plano de golpe de Estado. À ISTOÉ, pessoas próximas do ex-presidente afirmaram que ele “disse muito” e que não conseguiu contradizer a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Bolsonaro prestou depoimento na terça-feira, 10, por mais de 2 horas. Cara a cara com o ministro Alexandre de Moraes, o ex-presidente negou ter planejado uma tentativa de golpe de Estado. Ele ainda reduziu o tom das falas e evitou ataques ao STF, além de tentar usar os adversários para tentar atacar as urnas eletrônicas.
Mesmo negando o plano golpista, Jair Bolsonaro admitiu que se encontrou com a cúpula de militares e que chegou a ver a minuta golpista, mas negou ter editado ela. O ex-presidente também negou qualquer participação ou incitação aos ataques de 8 de janeiro e classificou os apoiadores como “malucos”.
Para aliados, Bolsonaro deu brecha para interpretações e corroborou com a denúncia feita pela PGR ao assumir a reunião com a cúpula militar. Isso, de acordo com eles, o coloca mais próximo da condenação, enquanto outros afirmam que ele está condenado desde que deixou o Palácio do Planalto.
Outro ponto de alerta entre os bolsonaristas foi o discurso político usado por Bolsonaro no interrogatório. Inelegível até 2030, Jair Bolsonaro deu declarações como se estivesse em condições de disputar as eleições do ano que vem, citando viagens e planejamentos para o pleito. Em dado momento, convidou Moraes para ser seu vice em 2026, que declinou da ideia.
Bolsonaristas reclamaram do discurso e cobram um posicionamento do ex-presidente sobre as eleições de 2026. De acordo com eles, é necessário um planejamento prévio para preparar o sucessor de Bolsonaro, aproveitando o descrédito do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Bolsonaristas lamentam… Petistas comemoram
Do outro lado do Congresso Nacional, petistas afirmam que Bolsonaro “atirou contra o próprio pé”. Eles afirmam que é “questão de tempo” para que o ex-presidente seja preso.
Eles pontuaram que as provas da PGR são robustas e que o depoimento do ex-chefe do Planalto não deve ter impacto significativo na decisão da Primeira Turma. Entretanto, eles admitem a possibilidade da pena de Bolsonaro ser cumprida em regime domiciliar. Essa deve ser, inclusive, uma das estratégias da defesa do ex-presidente em caso de condenação.
Próximos passos
Após a fase de interrogatórios, a PGR e as defesas dos sete réus do “núcleo 1” do roteiro golpista terão cinco dias para pedir a anexação de novas provas ao processo. Em seguida, tanto a promotoria como as defesas terão mais 15 dias para apresentar as argumentações finais.
Nos bastidores, o julgamento do ex-presidente e de seus ex-ministros Walter Braga Netto (Defesa e Casa Civil), Anderson Torres (Justiça), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), deve terminar entre setembro e outubro. Além deles, o processo ainda tem o Almirante Almir Garnier, ex-chefe da Marinha, e o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e delator do caso, como réus.