Aliado chama prefeita de Roma de ‘despreparada’

ROMA, 08 FEV (ANSA) – Parece não ter fim o calvário da prefeita de Roma, Virginia Raggi. Investigada por abuso de poder e falso testemunho e com aprovação em queda, a líder da capital e maior cidade da Itália foi obrigada a ler nesta quarta-feira (8), por meio da imprensa, críticas feitas por um de seus assessores.   

Em conversa flagrada pelo diário “La Stampa”, o secretário de Urbanismo da “cidade eterna”, Paolo Berdini, afirmou que Raggi é “inadequada para o cargo que ocupa”. “As grandes instâncias do Estado, que devo frequentar por dever, a veem como despreparada.   

Mas despreparada estruturalmente, não pela idade”, disse.   

Eleita em junho de 2016 para ser a primeira prefeita mulher na história de Roma, Raggi tem 38 anos e é a principal aposta do partido populista e antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) para mostrar sua capacidade administrativa. Contudo, até aqui, seu mandato vem sendo marcado por crises políticas.   

“Se ela confiasse nas pessoas certas… Mas ela se colocou no meio de uma ‘corte dos milagres’. Eu disse a ela: ‘Prefeita, coloque ao seu redor o melhor do melhor de Roma. Mas ela se aproximou de um bando”, acrescentou Berdini.   

Ao ver suas declarações publicadas, o secretário de Urbanismo afirmou que as frases foram tiradas de uma conversa com dois amigos e descontextualizadas pelo jornalista, a quem chamou de “desonesto”. “Todos na Prefeitura somos despreparados, inclusive eu, já tinha dito isso. Não imaginava o caixão que encontraria, a cidade está de joelhos”, justificou-se.   

O jornal respondeu ao assessor e garantiu a veracidade das informações. “Se é possível entender o embaraço do secretário, isso não justifica de modo algum os inaceitáveis juízos que Berdini pronunciou sobre o jornalista para desmentir o que dissera”, afirma uma nota do “La Stampa”.   

Crise – Raggi é investigada por suspeita de abuso de poder e falso testemunho na nomeação de dois assessores, o seu ex-chefe de gabinete Salvatore Romeo e o funcionário da Secretaria de Turismo Renato Marra, irmão do ex-chefe do departamento de pessoal Raffaele Marra, preso em dezembro passado por corrupção.   

A prefeita deve responder por que promoveu Romeo de um simples funcionário da Prefeitura, quando ganhava 39 mil euros por ano, para chefe de gabinete, com salário de 110 mil euros – o valor foi reduzido para o patamar anterior após uma intervenção da Autoridade Nacional Anticorrupção (Anac).   

No ato de nomeação, assinado em 9 de agosto, o aumento não estava indicado claramente, o que configuraria abuso de poder.   

Além disso, o documento não foi submetido aos órgãos técnicos da Prefeitura para avaliar sua legitimidade. Romeo renunciou ao cargo de chefe de gabinete em dezembro passado, após pressões do M5S, que o acusava de excluir outros membros do movimento das decisões municipais e de restringir o acesso a Raggi a um círculo restrito de aliados.   

A prefeita também responde pela nomeação de Renato Marra para um cargo na Secretaria de Turismo. Seu irmão, Raffaele, fazia parte do núcleo duro do governo municipal e era “braço direito” de Raggi, mas acabou na cadeia em um inquérito que o acusa de ter recebido suborno de uma empreiteira em 2013.   

Em depoimento dado no fim do ano passado, a prefeita havia negado qualquer participação na indicação de Renato, mas mensagens descobertas pelos investigadores no celular de Raffaele mostraram que os dois chegaram até a conversar sobre o salário do assessor da Secretaria de Turismo.   

Uma pesquisa divulgada no dia 5 de fevereiro mostrou que, se as eleições municipais fossem hoje, Raggi teria apenas 22,3% dos votos no primeiro turno, mais de 10 pontos a menos que os 35,3% conquistados em junho do ano passado. Além disso, 41% dos eleitores da prefeita não votariam nela novamente. (ANSA)