Imagine uma obra de arte que flutua e que se movimenta. O artista americano Alexander Calder (1898–1976) conseguiu essa mágica com seus móbiles suspensos no ar e seus movimentos livres. Sempre gosto de contar um pouco da história da vida dos artistas, pois acredito que a família determina a nossa essência, mas as escolhas de vida dependem apenas de nós. Nesse quesito, Calder encaixa-se perfeitamente na minha teoria. Nasceu em uma família de artistas, mas, curiosamente, sua mãe e seu pai não queriam que o filho seguisse seus passos. Eles eram famosos. A estátua de George Washington no arco do Washington Square Park, em Manhattan, foi uma das obras produzidas por seu pai.

Formou-se em engenharia mecânica em New Jersey e foi trabalhar na área naval, mas um nascer do sol o motivou a pegar algumas tintas e pincéis e a mudar de vida. A partir daí, não parou mais de criar. Foi estudar na Art Students League (Nova York) e começou sua carreira como ilustrador da revista National Police Gazette, que trabalhava com o Circo Ringling Bros. e Barnum & Bailey. Animais, palhaços e acrobatas inspiraram sua veia artística e o motivaram a pegar arame, madeira, barbante, metal, cortiça e tecido para testar os limites do equilíbrio.

Calder combinou esse interesse recém-descoberto com sua experiência de engenheiro para desenvolver esculturas cinéticas com peças móveis distintas, capazes de se movimentarem com o ar ou com simples toques. Experimentou um pouco de tudo antes de produzir suas obras mais famosas. Em 1906, começou a produção de mais de 2 mil joias. Na década de 1920, mergulhou na pintura e em gravuras. Criou muitos cenários para espetáculos teatrais e de balé.

Um encontro com Piet Mondrian, no estúdio do pintor em Paris (1930), fez com que Calder percebesse que sua própria arte da época, com esculturas rígidas e estacionárias, poderia, de alguma forma, tornar-se animada e com  movimentos. Essa descoberta foi revolucionária e tornou-se um importante componente para compreender sua evolução artística. Em 1943, seu trabalho já era celebrado por museus como MoMA (Museu de Arte Moderna) e sua evolução nunca parou.

Ele redefiniu o conceito de escultura, tornou-se um ícone mundial e mostrou que era capaz de inovar com diferentes materiais, inclusive fibra de vidro. Dizia que suas obras não eram comuns porque podiam se mover. Calder apostava em inovação, velocidade e criatividade para tornar seu trabalho único. Criou uma mesa de desenho portátil para capturar rapidamente cenas que demandavam desenhos fluidos a tinta ou a lápis, incluindo retratos de animais no zoológico de Nova York e espetáculos de circo (tema central de sua obra).

Coletava objetos na rua e restos de materiais para suas produções e para seu mini circo, composto por mais de 300 itens que criou. Na temporada que morou em Paris no final da década de 1920, Jean-Paul Sartre, Jean Arp e Marcel Duchamp eram algumas das personalidades que referenciavam sua criatividade ao assistir a algumas das apresentações com suas miniaturas.

Quem olha uma escultura móvel de Calder tem a sensação de que flutua no mesmo ritmo que a obra. É um deleite e uma experiência que nos remete aos tempos de criança, quando pulávamos dos brinquedos ignorando a gravidade, sem nenhum medo. É um admirar silencioso, profundo e alegre. Aliás, foi Duchamp que usou pela primeira vez o termo “mobile” para explicar o movimento, a agilidade e o equilíbrio das peças criadas por Calder.

Há alguns anos, Jed Perl lançou uma biografia com 700 páginas para contar a vida e a obra de Alexander Calder, enfatizando como sua obra conquistou o espaço e o tempo. O livro “Calder: The Conquest of Time. The Early Years (1898-1940)” é uma descoberta porque Calder, como todo engenheiro, era quieto e falava muito pouco sobre seu trabalho. Calder foi descrito como um urso resmungão que ficava trancado em sua caverna, mas era também um marido e pai amoroso que gostava de reunir amigos em jantares e noitadas de música que iam até a manhã do dia seguinte.

Faleceu em 1976, aos 78 anos, de ataque cardíaco depois de sofrer por anos de Parkinson. Estava sendo homenageado pelo Museu Whitney com uma retrospectiva de seu trabalho. O curador abriu a exposição destacando sua imaginação fértil e sua capacidade de introduzir humor e movimento na arte. O mundo precisa de mais Calders!

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