03/04/2018 - 10:42
Os dias passam entre conflitos, patrulhas e a cavação de trincheiras. Na cidade síria de Manbij, os soldados da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos e os curdos consolidam posições diante da ameaça de uma ofensiva da Turquia.
Há semanas, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, não dá o braço a torcer. Quer lançar uma operação contra a zona de Manbij, apesar da presença de tropas americanas que apoiam os combatentes curdos, fundamentais na luta contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI).
Uma ameaça para se levar a sério. O Exército turco e os rebeldes sírios aliados a ele conquistaram recentemente Afrin (noroeste), após a ofensiva lançada em 20 de janeiro contra a milícia curda das Unidades de Proteção Popular (YPG), consideradas “terroristas” por Ancara, mas aliadas de Washington.
A região de Manbij, com suas pequenas colinas a perder de vista e suas oliveiras, está a cerca de 30 quilômetros da fronteira turca e é estratégica.
Apenas algumas centenas de metros separam o território controlado por uma força curdo-árabe das regiões em poder de rebeldes pró-turcos. A oeste está a cidade de Al-Bab e ao norte, a de Yarabulus.
A presença de tropas americanas e da coalizão permite manter os dois bandos à distância.
– Reforços –
Quase 350 soldados da coalizão internacional anti-EI, essencialmente americanos e franceses, estão posicionados em Manbij, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
A coalizão enviou reforços, deslocou artilharia pesada e equipamento militar, segundo o OSDH, assim como comandos militares.
“As forças da coalizão efetuam patrulhas diariamente” e ultimamente mais, diz Khalil Mustafá, comandante das Forças Democráticas Sírias (FDS), aliança de combatentes curdos e árabes dominada pelas YPG.
Um jornalista da AFP viu patrulhas de forças da coalizão por Manbij e arredores.
A agência oficial de notícias turca afirmou nesta terça que Washington começou a construir duas bases na região de Manbij e enviou para lá reforços militares.
Após o percurso, um comboio de blindados com a bandeira americana entrou em uma base próxima à cidade, enquanto um helicóptero decolava para sobrevoar o setor.
Uma efervescência no terreno que contrasta com as declarações recentes do presidente americano, Donald Trump, que nesta terça-feira reiterou o desejo de retirar as tropas da Síria, assegurando que tomará uma decisão “muito em breve” sobre o que os americanos devem fazer neste país.
Diante de um eventual ataque turco, as forças curdo-árabes também reforçaram seu dispositivo de segurança. O correspondente da AFP no local viu trincheiras escavadas na entrada de Manbij.
“Há muitas mais escaramuças desde o fim da operação” em Afrin, reconhece o comandante Khalil Mustafa.
Na entrada da cidade, a polícia local instalou blitzes para verificar a identidade dos viajantes.
“Levamos muito a sério as ameaças turcas”, afirma Mohamed Abu Adel, chefe do conselho militar de Manbij, uma facção subordinada às FDS.
– ‘Estado de alerta’ –
Este último confirma que “a coalizão internacional reforçou suas forças em Manbij no front” e prometeu-lhes “artilharia pesada”. “Há patrulhas regularmente”, assegura.
Na quinta-feira, um americano e um britânico membros da coalizão morreram na explosão de um artefato em Manbij, segundo o OSDH e fontes oficiais. Os responsáveis pelo ataque não foram identificados.
“Continua havendo terrorismo”, adverte Abdel Karim Omar, encarregado de assuntos estrangeiros do governo semiautônomo curdo. Embora muito debilitado, o EI ainda tem capacidade para realizar ataques no país.
Segundo ele, seria “prematuro falar de uma retirada americana do setor”.
A França, atingida por atentados de extremistas islâmicos do EI, afirmou na sexta-feira não excluir “reajustar sua intervenção na Síria (…) para alcançar seus objetivos, unicamente no âmbito da coalizão” internacional.
Na linha de frente se vê uma casa abandonada com fachada crivada de balas. Em seu interior há combatentes do Conselho Militar de Manbij. “Estamos em estado de alerta. Continua havendo escaramuças à noite. Lançam obuses e bombardeiam nossas posições com artilharia”, relata o combatente curdo Chiyar Kobané.