Aviões sírios e russos voltaram a bombardear Aleppo, nesta quinta-feira (13), onde ataques aéreos mataram ao menos 71 civis em 48 horas, enquanto Moscou ofereceu aos rebeldes uma “retirada segura” na cidade sitiada.

Principal front do conflito sírio, Aleppo vive seu pior ciclo de violência desde que teve início, há três semanas, uma ofensiva do exército sírio, apoiada pela força aérea russa para retomar a parte rebelde desta cidade, dividida desde 2012 em uma parte governamental e outra nas mãos dos insurgentes.

As forças armadas russas anunciaram nesta quinta-feira a disposição de garantir aos rebeldes armados uma saída desta metrópole do norte do país.

“Estamos dispostos a garantir uma retirada segura aos rebeldes com suas armas, a passagem livre de civis da parte leste de Aleppo e seu retorno, assim como o envio de ajuda humanitária”, anunciou o general russo Serguei Rudskoi, em coletiva de imprensa.

Crianças mortas

Esta nova proposta russa de pontos de saída seguros ocorre antes de uma reunião internacional, na manhã de sábado (15), em Lausanne, Suíça, entre russos, americanos e representantes dos países da região para tratar da Síria.

Na parte rebelde, com 250 mil habitantes, mais de 370 pessoas, a maioria civis – inclusive 68 crianças – perderam a vida desde 22 de setembro em bombardeios aéreos e disparos de artilharia, segundo balanço do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Ao menos sete civis foram mortos em bombardeios na manhã desta quinta-feira, segundo o OSDH, enquanto o exército continuava avançando e tomando várias colinas na parte rebelde.

Um correspondente da AFP no leste de Aleppo constatou que os bombardeios foram retomados à tarde na zona rebelde, assediada há quase três meses e onde os hospitais costumam ser atacados. A ONU, a França e os Estados Unidos denunciaram “crimes de guerra” a esse respeito.

A televisão estatal síria reportou a morte de quatro crianças por disparos de foguetes na manhã desta quinta-feira. Os artefatos atingiram uma escola na parte de Aleppo controlada pelo governo de Damasco. Moradores dessa seção contaram ter sido obrigados a sair de seus veículos e a se esconder nos prédios, devido aos bombardeios.

Por outro lado, ao menos 17 pessoas morreram, inclusive 14 insurgentes, nesta quinta-feira na explosão de um carro-bomba em um posto de controle rebelde na província de Aleppo, segundo o OSDH.

Recém-designado secretário-geral da ONU, Antonio Guterres afirmou em Nova York que chegou o momento de superar as divisões da comunidade internacional sobre a Síria.

Lausanne e Londres

Na frente diplomática, a comunidade internacional mostrou-se até agora incapaz de por fim ao banho de sangue nesta cidade, que se transformou em um dos símbolos da guerra que castiga a Síria desde 2011.

Mais de 250 mil pessoas vivem nos bairros rebeldes de Aleppo, situadas há vários meses e onde as escolas e os hospitais são alcançados regularmente por bombas.

Estados Unidos e Rússia, que tinham suspendido há vários dias seus contatos sobre a Síria, anunciaram na quarta-feira duas reuniões internacionais com os países árabes e europeus: a primeira no sábado (15), em Lausanne, e a segunda no domingo (16), em Londres.

Em Moscou, segundo nota divulgada hoje pelo Kremlin, o presidente “Vladimir Putin expressou a esperança de que o encontro previsto para 15 de outubro em Lausanne (…) seja produtivo com o objetivo de contribuir realmente para a solução” para o conflito sírio.

Na semana passada, a Rússia havia vetado uma resolução francesa no Conselho de Segurança da ONU que pedia um cessar-fogo em Aleppo e a proibição de sobrevoo para todos os aviões militares.

Também nesta quinta-feira, o ministro saudita das Relações Exteriores, Adel al-Jubeir, comemorou a aproximação entre Ancara e Moscou.

“Vemos a redução de tensões entre Turquia e Rússia como uma possível oportunidade” para encontrar uma solução na Síria, declarou.

No domingo, em Londres, Kerry deve se reunir com seus contrapartes de Reino Unido, Alemanha e França.

Desde março de 2011, a solução para a guerra civil na Síria se tornou mais complexa, e o conflito se internacionalizou. Mais de 300.000 pessoas morreram, e mais de 13,5 milhões de sírios – entre eles seis milhões de crianças – precisam de ajuda humanitária, segundo a ONU.