O chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz, anunciou nesta sexta-feira (08/08) a suspensão das exportações para Israel de equipamentos militares que possam ser usados em Gaza. A decisão vem na esteira da aprovação pelo governo israelense de um plano para ocupar a Cidade de Gaza.
Em nota, Merz enfatizou que Israel “tem o direito de se defender do terror do Hamas” e que a libertação de reféns israelenses e negociações resolutas para um cessar-fogo são as prioridades da Alemanha.
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“A ação militar ainda mais dura do Exército israelense na Faixa de Gaza, aprovada pelo gabinete israelense ontem à noite, torna cada vez mais difícil para o governo alemão ver como esses objetivos serão alcançados”, disse.
O Hamas é considerado uma organização terrorista pela União Europeia (UE), Alemanha, Estados Unidos (EUA) e outros.
A planejada escalada militar israelense atrai crítica internacional. O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, instou Israel a reconsiderá-la.
“Nossa mensagem é clara: uma solução diplomática é possível, mas ambas as partes devem sair do caminho da destruição,” ele disse.
Carta aberta de artistas alemães
Merz vem enfrentando pressão cada vez maior para adotar uma postura mais crítica em relação ao governo israelense.
Na última semana, cerca de 400 atores, músicos, escritores e profissionais da mídia da Alemanha assinaram uma carta aberta pedindo que o chefe de governo alemão interrompa o fornecimento de armas alemãs a Israel.
No documento, intitulado “Não deixe Gaza morrer, Sr. Merz”, os artistas elogiaram o fato de o chefe de governo alemão ter nos últimos dias feito críticas ao governo israelense. Mas afirmam: “Palavras por si só não salvam vidas”.
Entre os signatários estão os atores Daniel Brühl (famoso por filmes como Adeus, Lênin, de 2003, e Edukators, de 2004) e Jürgen Vogel (protagonista do filme A Onda, de 2008), bem como Liv Lisa Fries, Benno Führmann e Meret Becker, protagonistas da série Babylon Berlin, sucesso de público na Alemanha.
Os signatários citam o sofrimento das crianças na Faixa de Gaza e enfatizam: “Nós também condenamos os crimes horríveis do Hamas nos termos mais veementes possíveis. Mas nenhum crime justifica punir coletivamente milhões de pessoas inocentes da maneira mais brutal”.
Compromisso com Israel
Após relatos da intenção do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de ocupar Gaza por completo, Lea Reisner, porta-voz do partido de oposição A Esquerda, exigiu: “É necessária pressão política, inclusive contra aliados”.
Ela descreveu a atual postura do governo alemão em relação a Israel como uma “declaração de falência da política externa alemã”.
Há repetidos apelos também para que Berlim ponha na mesa o possível reconhecimento da Palestina, medida anunciada recentemente por países como a França, Reino Unido e Canadá, entre outros.
A Alemanha até agora ainda está longe de adotar a medida, dada a responsabilidade especial do país em relação a Israel por causa do Holocausto, o assassinato de milhões de judeus durante a era nazista.
Essa responsabilidade levou a Alemanha a se comprometer com a defesa da segurança de Israel, transformando esse princípio em “razão de Estado”.
Merz afirma que o reconhecimento da Palestina só pode ocorrer ao final de um processo rumo a uma solução de dois Estados entre Israel e os palestinos. Ele diz que não considera o reconhecimento atualmente “o passo certo”.
(DPA, AP)