Alemanha promete apoio a fundo climático da COP30, mas não cita valor

Alemanha promete apoio a fundo climático da COP30, mas não cita valor

"MerzApós reunião com Lula, premiê Friedrich Merz anunciou aporte "significativo" ao Fundo Florestas para Sempre, lançado pelo Brasil. Promessa vaga frustrou governo brasileiro e ambientalistas.Pouco tempo após participar de uma reunião bilateral com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o chanceler federal alemão Friedrich Merz prometeu nesta sexta-feira (07/11) que a Alemanha contribuirá com um "valor significativo" para o Fundo Florestas para Sempre (TFFF), lançado como a principal aposta do governo brasileiro para a COP30.

Merz porém, não especificou um valor para a contribuição, o que frustrou as expectativas do Palácio do Planalto, que chegou a mandar uma delegação à Alemanha para discutir a proposta. A ausência de um anúncio mais concreto foi tomada por organizações como uma forma de não se comprometer de fato com a proposta, que pretende remunerar países que preservam suas florestas tropicais (leia mais abaixo).

"Contribuiremos de forma significativa para o sucesso desta iniciativa", disse o chanceler federal alemão aos participantes da Cúpula de Líderes, que acontece em Belém, às vésperas das negociações da COP30.

"Nosso anfitrião Brasil aposta no princípio do 'mutirão', fazer juntos, e lá estamos nós, estou eu, está a Alemanha envolvida", assegurou Merz em seu discurso. "Todos os países com capacidade econômica e altas emissões, e nós somos um deles, podem ser chamados a fazer sua parte."

Merz ainda reafirmou o compromisso de seu governo para alcançar metas climáticas, mas defendeu que nações ricas do Sul e do Norte Global devem compartilhar a responsabilidade.

O fundo lançado por Lula na quinta-feira pretende reunir 25 bilhões de dólares (R$ 133 bilhões) em recursos públicos e outros 100 bilhões de dólares (R$ 533 bilhões) em aportes privados. O objetivo é distribuir o rendimento entre investidores e 70 países em desenvolvimento que abrigam florestas tropicais.

"Para alcançar nossas metas climáticas, a floresta tropical deve ser preservada enquanto mais financiamento do setor privado é mobilizado", disse Merz.

Apesar de defender o modelo do TFFF, ele não quis dizer concretamente quanto a Alemanha aportará no fundo. Segundo o chanceler federal, o assunto ainda será discutido dentro da coalizão governo e com seu ministro de Finanças.

"Estamos em uma encruzilhada", disse ele. "Nossa economia não é o problema; nossa economia é a chave para proteger ainda melhor o nosso clima. […] Estamos desenvolvendo novos setores econômicos e modelos de negócios", continuou, defendendo que proteção climática e economia devem andar juntas.

Segundo ele, Berlim aposta "na inovação e na tecnologia" para combater o aquecimento global e apoiou outros países com cerca de 6 bilhões de euros (R$ 37 bilhões) em financiamento climático público em 2024. "A Alemanha é um país no qual se pode confiar", concluiu.

O chanceler ainda defendeu a meta climática adotada pela União Europeia para 2040, menos rigorosa do que a originalmente proposta.

Fundo exige aportes maiores para ser viabilizado

O discurso de Merz frustrou a expectativa brasileira de alcançar com mais facilidade a meta de 10 bilhões de dólares aportados ao TFFF em seu primeiro ano. Até o momento, Brasil, Indonésia, Noruega, França e Portugal anunciaram aportes que ultrapassam metade deste objetivo.

De acordo com o plano, países que preservarem suas florestas receberiam 4 dólares (R$ 21) por hectare anualmente, enquanto aqueles que destruírem áreas florestadas pagariam 140 dólares (R$ 747) por hectare em penalidades, verificadas por monitoramento via satélite.

O fundo é considerado inovador por funcionar dentro da estrutura do Banco Mundial e não depender de doações, mas de investimentos com retornos prometidos.

Ambientalistas criticaram o fato de Merz não ter mencionado um valor concreto de financiamento. "Com sua promessa vaga ao fundo do clima para a Amazônia, Friedrich Merz deixa o anfitrião Brasil na mão", declarou Martin Kaiser, diretor-executivo do Greenpeace na Alemanha.

Sabine Minninger, da organização alemã Brot für die Welt, criticou o fato de o chanceler ter deixado deliberadamente em aberto "se a Alemanha realmente cumprirá sua promessa de contribuir, neste ano e no futuro, com pelo menos seis bilhões de euros por ano" em ajuda climática para países em desenvolvimento.

Já a organização humanitária Oxfam declaoru que o corte do governo alemão na ajuda ao desenvolvimento também impacta negativamente o auxílio climático aos países mais pobres.

A chefe de clima da organização ambientalWWF na Alemanha, Viviane Raddatz, afirmou que em Belém não houve "um início bem-sucedido do novo governo alemão no cenário climático internacional".

Lula pede transição verde

A cúpula de dois dias em Belém, com cerca de 50 chefes de Estado e de governo, se encerra nesta sexta-feira e antecede a COP30, que começa na segunda-feira (10/11) em Belém.

O presidente brasileiro abriu a cúpula na quinta-feira com o alerta de que a "janela de tempo para agir" contra o aquecimento global "está se fechando rapidamente".

Nesta sexta-feira, Lula disse que o mundo não pode mais sustentar um modelo baseado no uso de combustíveis fósseis prejudiciais ao meio ambiente.

Lula, que defendeu a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, pediu que parte dos lucros da exploração de petróleo seja investida na transição para energia verde. As decisões tomadas agora sobre o tema energia determinarão o "êxito ou fracasso" da humanidade na luta contra a mudança climática, ressaltou.

gq/ra (ots)