Alemanha já não pode mais bancar Estado de bem-estar social, diz premiê

Alemanha já não pode mais bancar Estado de bem-estar social, diz premiê

""OFriedrich Merz quer cortar benefícios sociais sem elevar impostos. Proposta põe líder conservador em rota de colisão com os social-democratas, de cujo apoio ele depende para governar.O chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz, defendeu a reforma do Estado de bem-estar social do país e descartou cobrar mais impostos de empresas de médio porte.

"Não vou me deixar irritar por palavras como desmonte social e devastação", declarou Merz neste sábado (23/08) durante um evento do partido dele, a União Democrata Cristã (CDU). "O Estado de bem-estar social, da forma como o temos hoje, já não é mais financiável com o que conseguimos produzir economicamente."

As falas põem o líder conservador em rota de colisão com o Partido Social Democrata (SPD), de cujo apoio no parlamento ele depende para governar, mas que resiste a essa agenda.

Confrontados com os custos crescentes dos gastos do governo e o déficit nas contas públicas, CDU e SPD concordaram em reformar o sistema de seguridade social, que abrange o sistema público de saúde, as aposentadorias e o auxílio a desempregados, e é em boa parte financiado por impostos descontados da renda dos trabalhadores.

Mas, diferentemente da CDU, políticos do SPD têm defendido o aumento de impostos como solução para cobrir esses gastos.

Falando a correligionários, Merz admitiu que o SPD – que pende mais à esquerda e tem perdido apoio popular desde que chegou ao governo – teria dificuldades em aceitar cortes na área social, mas conclamou os dois partidos a trabalharem juntos.

Ao mesmo tempo, o chanceler federal frisou que seu governo não fará "nenhum aumento" na taxação de empresas de médio porte, ainda que alguns colegas social-democratas "se alegrem em discutir aumento de impostos".

Merz disse querer a continuidade na aliança de um "caminho crítico à migração e amigável à indústria, para que este país tenha uma chance". "E, acima de tudo, para que possamos mostrar que a Alemanha é governada com sucesso pelo centro."

O premiê alemão queixou-se do que vê como um alto número de beneficiários do Bürgergeld, que assegura uma renda mínima a desempregados, e sugeriu que as pessoas estariam deixando de trabalhar por causa disso. "Não dá para continuar assim: 5,6 milhões de beneficiários", disse. "O que está acontecendo nesses sistemas?"

"Não vou censurar os que usam [o benefício]. A censura é contra nós: nós fazemos ofertas que um ou outro olha e diz: 'Eu seria estúpido se não aceitasse'", afirmou, prometendo que seu governo mudaria isso, para que "voltar ao mercado de trabalho regular valha a pena".

Tema é polêmico dentro da coalizão de governo

Merz não citou ninguém nominalmente, mas seu vice, Lars Klingbeil (SPD), declarou horas antes não descartar aumentar a taxação de patrimônio e das faixas de renda mais altas. "Nenhuma opção está fora da mesa", disse ele à emissora ZDF.

"Precisamos de reformas estruturais para estabilizar as contribuições sociais", afirmou Klingbeil neste sábado aos jornais do grupo Funke. "Mas eu espero de todos os responsáveis mais criatividade que apenas cortar benefícios dos trabalhadores."

"Continuaremos a ser um país que ajuda as pessoas que estão passando necessidade, que adoecem e precisam de ajuda", acrescentou.

Cortes sociais também são amplamente reprovados pela base jovem social-democrata.

Merz tem penado para atrair sua base desde que assumiu o governo, e por isso os comentários deste sábado podem ser vistos como um aceno ao eleitorado tradicional da CDU, bem como aos eleitores desgarrados que se voltaram para o partido anti-imigração Alternativa para a Alemanha (AfD).

"Não estou satisfeito com o que alcançamos até agora", disse Merz. "Tem que ser mais."

ra (dpa, AFP, ots)