Ministro de Israel anunciou construção de 3.400 unidades habitacionais para colonos, com objetivo declarado de dividir Cisjordânia em dois enclaves e dificultar criação de Estado palestino. Berlim pede suspensão.O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha classificou como ilegal o projeto de Israel de ampliar uma colônia israelense na Cisjordânia ocupada em uma área próxima a Jerusalém Oriental. O projeto pode criar um corredor que dividiria o território palestino, fragmentando-o em dois enclaves.
"A construção de assentamentos viola o direito internacional e as resoluções relevantes do Conselho de Segurança da ONU", disse um porta-voz da pasta na noite de quinta-feira (14/08), horas após o projeto ser anunciado pelo ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, de extrema direita.
O plano de Smotrich, ele próprio um colono que vive na Cisjordânia ocupada, é construir 3.400 unidades habitacionais em território palestino, na chamada área E1, que vai de Jerusalém Oriental ao assentamento Maale Adumim. Segundo seu gabinete, o projeto "enterra" a possibilidade de um Estado palestino independente.
A Alemanha criticou este posicionamento. "Ela [a construção] complica uma solução negociada de dois Estados e o fim da ocupação israelense da Cisjordânia, conforme exigido pelo Tribunal Internacional de Justiça", disse o ministério de Relações Exteriores
"O governo alemão pede ao governo israelense que interrompa a construção de assentamentos e só reconhecerá alterações às fronteiras de 4 de junho de 1967 que tenham sido acordadas pelas partes do conflito”, completou.
Israel assumiu o controle da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental em 1967. Mais de 700 mil colonos vivem atualmente entre aproximadamente 3 milhões de palestinos, que reivindicam essas áreas para a criação de um Estado próprio, com Jerusalém Oriental como capital. As colônias na região já foram julgados ilegais pela Corte Internacional de Justiça (CIJ).
Assentamento proposto em região polêmica
O governo de Israel já vem ampliando suas colônias judaicas na Cisjordânia. Em maio, por exemplo, anunciou a maior expansão em território palestino em três décadas, com o projeto de construção de 22 novos assentamentos.
Apesar de não fazerem oficialmente parte do território de Israel, os assentamentos contam com apoio do país, como o acesso à água, eletricidade e proteção do Exército.
A construção na área E1, porém, é especialmente controversa, pois a região liga as principais cidades da Cisjordânia – Ramallah e Belém. O assentamento dividiria o território palestino em regiões norte e sul, tornando inviável a criação de um território contíguo, considerado importante para um futuro Estado independente.
A manobra ocorre em meio à crise humanitária em Gaza, agravada pela campanha militar israelense contra o grupo militante Hamas, classificado como organização terrorista pela União Europeia e pelos EUA.
ONU e União Europeia criticam o projeto
Segundo um porta-voz do escritório de direitos humanos da ONU, o projeto de isolar dois enclaves na Cisjordânia "é um crime de guerra para uma potência ocupante transferir sua própria população civil para o território que ocupa".
A ONU também afirma que o assentamento é ilegal e força o despejo de palestinos vizinhos. Israel rejeita essa interpretação, afirmando que a Cisjordânia é um território "disputado" e não "ocupado".
A chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, argumentou que o plano "mina ainda mais a solução de dois Estados, além de violar o direito internacional" e fez apelos para Israel desistir da iniciativa. O bloco vem tomando medidas mais incisivas contra a proliferação de assentamentos e a violência na região.
Em 2024, o bloco sancionou colonos israelenses pela primeira vez por graves violações de direitos humanos. Como a DW mostrou, a abertura de "postos avançados" de colonos israelenses tem ampliado a violência contra palestinos.
Em julho, uma equipe de jornalistas da DW foi agredida quando cobria um protesto contra uma cerca que restringia a movimentação de palestinos.
gq (Reuters, DW, DPA, AFP)