08/08/2024 - 7:00
Após eleição contestada na Venezuela, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não estabeleceu se reconhece ou não a legitimidade da reeleição de Nicolás Maduro. O chavista foi declarado vencedor da disputa pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral) do país, mas a oposição acusa a votação de ser fraudulenta. O Planalto condiciona o reconhecimento do pleito á divulgação das atas eleitorais.
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O PT é historicamente aliado ao chavismo, e Lula tem boa relação com Nicolás Maduro. Em vitórias anteriores, o chefe do Executivo brasileiro reconheceu as vitórias do líder socialista. No pleito atual, embora Lula tenha mantido posição cuidadosa, a executiva do partido classificou a vitória do venezuelano como ‘democrática e soberana’ — causando racha na sigla.
A Venezuela é considerada um país de regime autoritário pelo levantamento “Democracy Index 2023”, da EIU (Economist Intelligence Unit). Além da nação latino-americana, outros países como China, Rússia, Cuba, Arábia Saudita e Vietnã figuram no mesmo nível de autoritarismo, de acordo com o estudo. Veja a relação de Lula com cada um deles:
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China
Em abril do ano passado, Lula fez uma visita à China, país considerado como autoritário sob o regime de Xi Jinping. Na ocasião, o presidente brasileiro estava acompanhado de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, Carlos Fávaro, da Agricultura e Pecuária, e Marina Silva, do Meio Ambiente.
A viagem visava estreitar as relações comerciais entre os dois países, buscando novos investimentos após distanciamento durante o governo de Bolsonaro, e discutir a inserção do Brasil nas possíveis negociações de paz entre Rússia e Ucrânia.
Antes disso, Lula afirmou em uma reunião fechada com Xi Jinping que ninguém iria proibir o aprimoramento das relações entre Brasil e China. Para o presidente, a visita à empresa de tecnologia Huawei, em Xangai, no ano passado, mostra que o País quer “dizer ao mundo que não tem preconceito” nas suas relações comerciais.
Rússia
De acordo com a Ansa Brasil, em março deste ano, Lula fez uma ligação para Vladimir Putin, considerado líder de um governo autoritário na Rússia, após ganhar as eleições realizadas no país transcontinental. O Ocidente acusa as votações realizadas no território governado por Moscou de serem fraudulentas.
Na ocasião, Putin recebeu felicitações de países como Bielorrússia, Bolívia, China, Coreia do Norte, Cuba, Irã e Tajiquistão.
Em outro telefonema entre os dois chefes de estado em junho deste ano, Putin prestou solidariedade às vítimas da tragédia climática que afetou o Rio Grande do Sul e Lula aproveitou para defender as negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia, reforçando a necessidade de uma “ampla reforma do sistema de governança global”.
Posteriormente, Lula reiterou que não faz a defesa de Putin e que o Brasil foi o primeiro país a criticar a invasão à Ucrânia, alegando que o chefe de estado russo e o ucraniano Volodymyr Zelensky estão “gostando da guerra”. “O meu lado é a paz”, pontuou Lula.
Palestina
O governo palestino é considerado como autoritário pelo “Democracy Index 2023”. Após o conflito entre o Hamas e Israel eclodir na Faixa de Gaza, Lula acusou os israelenses de estarem cometendo um genocídio na região. “A solução para essa crise só será duradoura se avançarmos rapidamente na criação de um Estado palestino”, afirmou o presidente em uma cúpula da assembleia anual da União Africana.
Posteriormente, o chefe de estado declarou ser “histórica” a ação de países como Espanha, Irlanda e Noruega em reconhecer a independência da Palestina. “Faz justiça em relação ao pleito de todo um povo […] por seu direito à autodeterminação”, escreveu Lula em um post no X (antigo Twitter).
O Brasil foi um dos primeiros países da América Latina a reconhecer a independência da Palestina. A ação foi tomada em 2010, durante o segundo mandato de Lula.
Catar
Ainda no Oriente Médio, o Catar é considerado como autoritário e, atualmente, o país vive sob domínio do Emir Tamim bin Hamad al-Thani. Em 2022, Lula afirmou que a escolha da nação para sediar a Copa do Mundo de Futebol não deveria ser julgada.
O país foi escolhido como sede do evento em 2010 e, desde então, se tornou alvo de diversas críticas por denúncias de corrupção, abusos de trabalhadores imigrantes, desrespeito aos direitos humanos e impacto ao meio ambiente.
Em novembro do ano passado, Lula se reuniu com a imprensa em Doha, capital do Catar, e afirmou que o país árabe é um parceiro importante no retorno do Brasil à participação na geopolítica mundial. O presidente, além de discutir acordos comerciais, elogiou a postura do país governado por al-Thani na mediação do conflito entre Israel e Palestina e na libertação de reféns na crise entre os dois estados.
Arábia Saudita
Em junho deste ano, Lula defendeu a aproximação entre o Brasil e a Arábia Saudita, governada por Salman bin Abdulaziz Al Saud e considerada como regime autoritário. Na ocasião, o presidente colocou os dois países como “sócios cada vez mais próximos”.
“A Arábia Saudita sempre terá no Brasil um aliado privilegiado”, declarou Lula em evento do FII (Future Investment Initiative), organização apoiada pelo fundo soberano do país do oriente médio.
Em novembro de 2023, Lula se encontrou com o príncipe-herdeiro e primeiro-ministro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, para conversar sobre investimentos do país em diversos setores do Brasil.
Cuba
Em setembro do ano passado, Lula criticou o embargo dos Estados Unidos contra Cuba, classificando a postura americana como ilegal. Ainda, o presidente do Brasil também afirmou que o país caribenho defende uma “governança global mais justa”, em discurso na Cúpula do G77+China, realizada em Havana.
Vietnã
Também em setembro de 2023, Lula recebeu o primeiro-ministro do Vietnã, Pham Minh Chinh, em Brasília, para firmar acordos de cooperação educacional, que, segundo o presidente, permitiriam a mobilidade de estudantes entre os dois países, na agricultura e de defesa, com a exportação de aeronaves.
“Somos dois países do Sul Global comprometidos com a paz, o multilateralismo, o desenvolvimento sustentável e o combate à fome e à pobreza”, destacou Lula.
Nicarágua
Em março de 2023, o governo brasileiro apresentou um documento repudiando a decisão de autoridades da Nicarágua de retirar a nacionalidade de opositores do governo de Daniel Ortega, considerado como autoritário. A nova posição foi declarada após Lula se recusar a assinar um manifesto de 55 países contra o regime da nação.
*Com informações da Reuters, Estadão Conteúdo, Agência Brasil, AFP e Ansa