A divisão de gênero na indústria da beleza começou com o perfume, as colônias e as águas de cheiro: “Pour Homme”, em francês, para dar luxo à fragrância e “Pour Femme”, quando destinados às mulheres. Mas, por muito tempo, os setores voltados à beleza e aos cosméticos no País ignoraram o lucrativo mercado masculino. As linhas “Homem” das principais marcas brasileiras como Natura, Boticário e Avon, eram pequenas até meados dos anos 2000 e se baseavam basicamente nos desodorantes, produtos para a barba, xampu e o condicionador. A partir de 2010, marcas como a Dove, da gigante Unilever, e suas concorrentes, começaram a expandir a vasta gama de produtos de beleza para os homens. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), o Brasil é segundo País do mundo que mais consome produtos e fragrâncias masculinas.

“Lembro do meu pai, depois de jogar futebol com amigos, ir para o vestiário com uma toalha e um sabonete em barra qualquer. Hoje, a nécessaire é um item amplamente aceito entre os homens”, diz Alain Muramatsu, um dos fundadores da startup Kásia Cosméticos. A marca trouxe conceitos inéditos para o mercado nacional, como a argila modeladora para cabelos e o xampu prebiótico, que controla a saúde do couro cabeludo. A existência de uma startup fundada por dois ex-funcionários, um da Natura e outro da Cless Cosméticos, chama a atenção. “A empresa surgiu para produtos masculinos com o nome Go Man, mas a demanda foi tanta que virou o braço de uma marca maior, que atenderá outros públicos”, afirma Bruno Weiers.

De acordo com o último “Caderno de Tendências” da ABIHPEC, a expectativa pré-pandemia era de que o mercado brasileiro masculino de cuidados pessoais passasse a marca de US$ 6,7 bilhões comercializados até 2020. “A maioria dos cosméticos são vendidos em farmácias, mercados ou pelo e-commerce, lugares abertos durante a pandemia. O impacto, para nós, não será grande”, diz Weiers. O corretor de imóveis de luxo, Dante Manfrim, divide o espaço do banheiro com a mulher quando o assunto é cosmético. “Eu uso protetor solar, produtos para a barba, protetor labial, creme para o rosto e para corpo, mais perfume e desodorante”. Manfrim, contudo, segue à risca o movimento de muitos brasileiros que ainda focam no perfume. Com 14 frascos, descarta apenas a maquiagem, mas não nega a possibilidade de vir a pintar o cabelo no futuro, por exemplo.

“Hoje, a nécessaire é um item amplamente aceito entre os homens”  Alain Muramatsu, empresário

Entretanto, outra tendência do mercado é ampliar o leque ainda mais: tirar o gênero do rótulo de vários produtos, diminuir o tamanho das embalagens e deixá-las com cores neutras e com informações claras. A explosão das barbearias com mesas de sinuca e cerveja artesanal foi um movimento forte no Brasil. Produtos em formato de bebidas, caveiras, motocicletas e vários elementos ligados ao imaginário do “macho alfa” não devem prosperar. Manfrim, aos 37 anos, diz que usa produtos de beleza desde os 12 e seu filho de 16 segue seus passos. “Não tenho vergonha de ser vaidoso e como diria aquela música: use filtro solar”, diz.