Alguns sorriem, como Crisanto e María, agricultores que receberam terras, e outros choram, como Yaneth, viúva de um policial assassinado em meio à violência: duas faces da mesma moeda em um país dividido descrevem a chegada ao poder de Gustavo Petro, o político que mudou a história política da Colômbia.

O primeiro presidente esquerdista do país encerra seu primeiro ano de governo na segunda-feira (7) encurralado por escândalos de corrupção e dores de cabeça em temas como segurança, mas com o apoio das bases que acreditam em sua capacidade para transformar uma das sociedades mais desiguais da América Latina.

Em Villapinzón, a quase 80 quilômetros de Bogotá, Crisanto Heredia e María Romero receberam as escrituras de um pequeno prédio após anos de espera.

Agricultor, o marido, de 55 anos, foi testemunha dos confrontos entre o Exército e os guerrilheiros das desaparecidas FARC quando avançavam para a capital, no início do século.

Em 2005, quando a força de segurança pública retomou o controle da região, ele iniciou um processo para obter os documentos da terra e retomar a produção. No final de junho, após 18 anos e três governos, recebeu o título.

“Sentimos uma grande emoção, alegria ao ver que o título volta ao nosso poder”, diz à AFP coberto com uma ruana, um traje típico colombiano.

O presidente afirma que o Estado tem uma dívida histórica com os agricultores. A desigualdade na distribuição da terra está no coração de um conflito armado que dura mais de seis décadas.

Petro se vangloria de ter distribuído mais de um milhão de hectares para agricultores e indígenas em seus primeiros sete meses de governo graças ao fortalecimento da Agência Nacional de Terras, contra 1,4 milhão de hectares entregues por seu antecessor Iván Duque durante todo seu mandato (2018-2022).

– O outro lado da moeda –

Longe dessa alegria, Yaneth Calvo ainda chora por seu marido, assassinado em 2 de março em um protesto de indígenas e camponeses, acusados de serem influenciados por dissidentes da guerrilha das FARC que não entregaram as armas em 2017, contra uma empresa do setor de petróleo em San Vicente del Caguán (sul).

Antes de ser detido ao lado de outros 70 militares e depois esfaqueado, Ricardo Arley Monroy havia expressado preocupação à mãe de seus dois filhos. “No início deste governo, (ele) sentia que a força pública estava sendo abandonada e que estavam sendo privados de muitas maneiras de se defender”, disse a mulher à AFP.

Petro lançou um ambicioso plano batizado de “Paz Total”, com o qual pretende encerrar o conflito armado com diálogos. Nos primeiros 12 meses, ele anunciou acordos de cessar-fogo com guerrilheiros, paramilitares e gangues.

A oposição direitista e reservistas das Forças Armadas afirmam que o presidente entregou o o país ao crime e sacrificou a segurança.

“Cederam demais aos grupos à margem da lei”, queixa-se Yaneth.

– Do pranto à alegria –

Petro prometeu transformações profundas em um país historicamente governado por elites liberais e conservadoras. Mas sua vontade se choca com pouco planejamento e um ambiente conturbado.

“A chegada de Petro gerou expectativas muito elevadas, as pessoas imaginavam que tudo ia mudar e a desilusão é profunda”, diz Eugenie Richard, analista da Universidade Externado.

Aqueles que experimentaram uma mudança de opinião pensam o contrário. Em abril de 2022, policiais fortemente armados capturaram em Medellín (noroeste) Laura Ramírez, uma contadora de 25 anos que participou dos protestos em massa contra Duque. Ela foi acusada de formação de quadrilha e terrorismo e passou quase oito meses na prisão.

Após a explosão social, Petro ficou do lado de seus simpatizantes. Alguns deles, como Ramírez, conseguiram a liberdade e agora trabalham para o governo.

“Pelo presidente Gustavo Petro me senti muito protegida”, diz Ramirez, “porta-voz” do Escritório do Alto Comissariado para a Paz nas favelas da cidade.

“Não podemos dizer que tudo está perfeito, mas Petro devolveu a credibilidade aos jovens”, avalia.

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