A Polícia Federal (PF) prendeu nesta quinta-feira o ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine, que foi nomeado para comandar a empresa com a missão de limpá-la após o início da Operação Lava Jato.

Bendine é o primeiro ex-presidente da Petrobras preso por essa investigação, que desde 2014 é traduzida em duras condenações ou em graves acusações contra dezenas de políticos de quase todos os partidos e de empresários de alto escalão, envolvidos em uma vasta rede de propinas.

Foi nomeado em fevereiro de 2015, quase um ano depois do início da operação, uma das maiores do mundo contra a corrupção, e permaneceu na função até maio de 2016. De 2009 a 2015, foi presidente do Banco do Brasil.

De acordo com o Ministério Público e a PF, Bendine recebeu em 2015 três milhões de reais para favorecer a empreiteira Odebrecht, no centro do escândalo da Petrobras.

As propinas foram entregues em três parcelas de um milhão de reais cada e os pagamentos “só foram interrompidos com a prisão do então presidente do grupo Odebrecht”, Marcelo Odebrecht, em junho de 2015, detalhou a PF.

Bendine foi preso em São Paulo e levado a Curitiba por ordem do juiz Sérgio Moro.

Outras duas pessoas foram detidas na operação, que incluiu uma dúzia de buscas em Pernambuco, no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Brasília.

Moro considerou na ata de acusação que os procedimentos deveriam ser realizados “antes do dia 28/07/2017”, considerando que nessa data Bendine deveria fazer uma viagem a Portugal, “caracterizada como possível fuga”. Segundo o MP, só tinha passagem de ida, embora os seus advogados assegurem que também reservou a passagem de volta.

Antes de estar à frente da Petrobras, Bendine tentou chantagear a empreiteira enquanto presidente do Banco do Brasil, segundo o MP.

“Bendine, ainda como presidente do Banco do Brasil, havia solicitado uma propina de 17 milhões de reais a Odebrecht”, afirmou o procurador da República Athayde Ribeiro Costa em coletiva em Curitiba.

A empresa negou o pedido, mas o funcionário voltou a solicitar o dinheiro ao saber que seria nomeado presidente da Petrobras, com o argumento de que neste cargo estratégico “poderia prejudicar a empreiteira”, acrescentou o procurador.

Desta vez, o seu pedido foi atendido, acrescentou.

O atual presidente da Petrobras, Pedro Parente, assegurou que a empresa tomou medidas para impedir que esses desvios se repitam.

“Bastava uma decisão unilateral de um só diretor para uma decisão ser tomada”, o que agora não acontece, disse Parente, segundo um trecho adiantado de uma entrevista concedida à jornalista Miriam Leitão.

Além disso, “nenhum ocupante de cargo […] pode ser nomeado sem verificação prévia de sua integridade”, acrescentou.

– “Nada contra Dilma” –

Bendine foi nomeado durante a gestão da presidente Dilma Rousseff e “utilizou o nome da presidente da República para se promover diante da empreiteira”, assinalou o procurador. Mas na investigação “nada foi encontrado” que pudesse incriminar a ex-presidente, acrescentou.

Em 2016, Dilma foi destituída pelo Congresso sob a acusação de maquiar as contas públicas.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado recentemente por Moro a nove anos e meio de prisão por corrupção passiva. O ex-líder sindical, que pode apelar em liberdade, nega as acusações e as atribui a uma vontade de bloquear a sua eventual candidatura para as eleições de 2018.

O presidente Michel Temer, por sua vez, foi denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por supostamente se beneficiar de uma propina de 500.000 reais pagos pela JBS. A Câmara dos Deputados deve decidir na próxima semana se encaminhará essa denúncia ao Supremo Tribunal Federal ou se a arquivará.