Se já havia sérias dúvidas sobre a viabilidade eleitoral do ex-governador Geraldo Alckmin, do PSDB, seu projeto presidencial pode ter levado um tiro de misericórdia na quinta-feira 21, quando a Polícia Federal deflagrou a operação Pedra no Caminho, que prendeu representantes de empreiteiras e também Laurence Casagrande, ex-secretário do tucano e ex-presidente da Dersa, estatal responsável pelos pedágios paulistas. Apenas num dos trechos do Rodoanel, maior obra realizada em São Paulo, foram apontados desvios de R$ 600 milhões.

Alckmin reagiu dizendo que a prisão de um dos principais quadros de sua administração não terá qualquer efeito sobre sua campanha, mas a operação ocorreu no momento em que até seus aliados já se bandeiam para outras candidaturas. Dois dias antes das prisões, representantes do DEM, do PP e do PRB jantaram com Ciro Gomes, do PDT, que se movimenta sem cerimônia rumo à centro-direita. Pouco depois, o PPS, outro tradicional aliado do PSDB, se aproximou de Marina Silva, da Rede. A tendência é que Alckmin seja “cristianizado” — numa referência ao político mineiro Cristiano Machado, que concorreu em 1950 à Presidência pelo antigo PSD, mas foi abandonado por aliados, que apoiaram Getúlio Vargas.

A fragilidade de Alckmin se explica por diversas razões. O governo Temer, o mais rejeitado da história do Brasil, na realidade é uma administração do PSDB, que liderou o golpe contra a presidente Dilma Rousseff e indicou ministros, assim como os presidentes das duas principais estatais, Petrobras e Eletrobrás, com a finalidade de negociá-las na bacia das almas. Também vem do PSDB outro quadro, o chanceler Aloysio Nunes, que representa o momento mais vil da diplomacia brasileira em toda a sua história. Nunca fomos tão capachos — e isso ficou evidente no episódio das 49 crianças brasileiras separadas de seus pais nos Estados Unidos.

A administração tucana, que tem Temer como uma marionete, é portanto um fracasso sob qualquer medida. Na economia, um fiasco. Na ética, sem comentários. Na diplomacia, um vexame global. Por isso mesmo, Alckmin não decola e os partidos que se uniram ao PSDB para atacar a democracia brasileira agora buscam uma nova saída estratégica, que poderá vir com Ciro ou Marina.

Enquanto isso, uma pesquisa Datafolha aponta que, para 32% dos brasileiros, o ex-presidente Lula é quem reúne melhores condições para retirar o Brasil do atoleiro econômico. Mais do que isso, há também uma crescente percepção de que Lula conseguirá ser candidato. Por isso mesmo, a sucessão presidencial terá uma batalha decisiva, na terça-feira 26, quando a segunda turma do Supremo Tribunal Federal vier a julgar o pedido de liberdade de Lula, que pode também ter efeito suspensivo sobre a sua condenação. Com Lula livre e elegível, a disputa de 2018 já estará praticamente decidida.

Se o tucano já não conseguia decolar, depois do Rodoanel seu projeto ficou quase impossível