O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, deve adotar um tom moderado em relação ao governo Michel Temer na convenção do PSDB que deve aclamá-lo como presidente nacional da sigla, no próximo dia 9, em Brasília. Segundo aliados e auxiliares do tucano, que é pré-candidato à Presidência da República, a expectativa é que ele defenda a reforma da Previdência e tente evitar hostilidades contra o peemedebista no evento e nos encontros posteriores que definirão as diretrizes da nova Executiva.

Pelo roteiro programado, dois dos três ministros do PSDB – Luislinda Valois, titular dos Direitos Humanos, e Antonio Imbassahy, da Secretaria de Governo, – devem deixar seus cargos antes da convenção, o que esvaziaria o debate em torno do desembarque tucano do governo. Apenas ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, deve ficar no cargo pelo menos até abril do ano que vem, quando pode sair para disputar a reeleição no Senado.

Alckmin e Temer estarão juntos hoje em São Paulo. Os dois vão se encontrar no aeroporto de Viracopos, em Campinas, onde o presidente vai pousar. De lá, a previsão é que sigam juntos de helicóptero para duas cidades, Limeira e Americana, onde vão inaugurar obras do programa Minha Casa. Minha Vida e também do Casa Paulista.

A ideia original era que as novas moradias fossem anunciadas apenas pelo governador e seu secretário estadual da Habitação, Rodrigo Garcia (DEM). Isso estaria definido até a última terça-feira de noite, quando interlocutores do Planalto entraram em contato com o governo de São Paulo para comunicar que Temer também participaria das agendas. A iniciativa partiu do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, na segunda-feira passada, um dia após Alckmin ser escolhido para presidir o PSDB.

A última vez que Temer participou de evento para entregar unidades do Minha Casa Minha Vida em São Paulo foi em março, quando esteve em São José do Rio Preto. De lá pra cá, as inaugurações se deram com a presença de representantes da Caixa Econômica Federal ou do Ministério das Cidades.

Gesto. “Não tem cabimento ser hostil ao governo. Não há possibilidade hostilidade na convenção”, disse ao Estado o ex-governador Alberto Goldman, presidente interino do PSDB. Ele não descarta a possibilidade de tucanos e peemedebistas estarem juntos no mesmo palanque nacional em 2018.

“Por que não? Pode ser. Nada é impossível”, afirmou. “O desembarque do governo não será pauta da convenção”, reforçou o deputado federal Silvio Torres (SP). Aliado de Alckmin, ele é secretário geral do PSDB.

Negociação. Segundo a Coluna do Estadão, o PMDB colocou na mesa algumas condições para apoiar a candidatura de Alckmin em 2018: a adesão do seu partido às reformas da Previdência e tributária e o compromisso em defender o “legado” de Temer durante a campanha. O Planalto defende um “projeto único de poder” em 2018.

Ontem, em entrevista à Rádio Capital, o governador afirmou que a reforma da Previdência terá o apoio de seu partido. Sem dizer quantos dos 43 deputados tucanos votarão a favor da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) – que altera, entre outras coisas, a idade mínima para o brasileiro se aposentar -, nem se vai interferir nessa decisão, Alckmin passou a defender com mais ênfase o projeto, citando os valores médios pagos hoje pelos sistemas público e privado como estratégia para explicar que é preciso combater privilégios.

“Há dois sistemas e os dois têm déficit. Só que o do INSS, que tem déficit de R$ 160 a R$ 170 bilhões para 32 milhões de aposentados, tem distribuição de renda. Ninguém ganha mais de R$ 5 mil e a média é 1 salário mínimo e meio. Mas o déficit do setor público é preocupante. Tem déficit de mais de R$ 80 milhões para menos de 1 milhão de aposentados e pensionistas, com salários muito elevados”, disse ele, definindo o sistema como “Robin Hood às avessas”. “Por isso, tem que ser corrigido. Não pode ter um sistema desses”, completou. O gesto agradou aos peemedebistas.

O tucano, no entanto, avalia que a proposta não será facilmente aprovada pelo Congresso, já que, por ser emenda à Constituição, precisa de 308 votos. “Mas a proposta terá o apoio do PSDB. Nós vamos apoiá-la.”, disse. Depois de assumir a presidência do partido, Alckmin deve atuar juntos aos 43 deputados tucanos. Na quarta, dia 29, o governador já havia afirmado que o PSDB iria apoiar a reforma da Previdência sob qualquer circunstância, em referência a uma eventual saída da sigla da base governista.