Mesmo sem ser anunciado pré-candidato oficial do PSDB à Presidência da República em 2018, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, já começa a testar discursos e enumerar prioridades. Para o Nordeste, região que visitou semana passada, o tucano definiu a questão da água como peça-chave de um eventual plano de governo, que pode incluir até a proposta de uma nova transposição, desta vez do Rio Tocantins para o Rio São Francisco.

O cardápio a ser oferecido em troca do apoio e, quem sabe, de um vice nordestino na chapa, também vai contemplar um programa de combate à violência, a defesa de um sistema nacional de tributação que destine mais verba aos Estados consumidores, como os da região, e ainda o desenvolvimento de uma vacina contra o zika vírus.

Com exceção da reforma tributária, que depende do Congresso, a estratégia é usar programas adotados no governo paulista como vitrine. No caso da água, o tucano faz propaganda da forma como combateu a crise hídrica de 2014 e 2015, citando a captação de água do chamado volume morto para ampliar a capacidade de abastecimento do Sistema Cantareira. A tecnologia já rende frutos a Alckmin, que emprestou parte das bombas usadas no processo aos governos do Ceará, Paraíba, Sergipe e Pernambuco, além do Distrito Federal.

De olho no Planalto, o governador tem intensificado a troca de experiências com possíveis aliados. O empréstimo das bombas serviu de justificativa para viagem de Alckmin ao eixo leste da obra de transposição do Rio São Francisco, interior pernambucano, no fim de fevereiro. Na semana passada, em Recife, o tucano discursou em favor de outra transposição, a do Rio Tocantins, que nasce em Goiás e segue até o Pará, na bacia amazônica.

“Merece estudo a questão (da transposição) do Rio Tocantins com o São Francisco. Essa é uma tendência futura. Com a energia mais barata, você produz alimento até em Nova York. Nós passamos por grande dificuldade em São Paulo por causa da água (referência à crise hídrica). Acho que esse é um tema nacional. Somos favoráveis à transposição do São Francisco. Ajudamos para que a água chegasse mais depressa. Na Paraíba, pôde chegar 40 dias antes por causa das bombas que emprestamos”, disse Alckmin, que conquistou durante a visita o apoio do deputado federal Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) à sua candidatura presidencial.

“Os problemas de Pernambuco são os problemas do Nordeste. E o maior deles é a água, seja para o consumo ou para a produção de alimentos no agreste, sertão, zona da mata e mesmo a região metropolitana”, disse Jarbas, que governou o Estado por duas vezes.

Os dois também conversaram sobre o desenvolvimento de uma muda de cana de açúcar mais resistente à falta d’água. Pesquisas conduzidas pelo Instituto Agronômico de Campinas e também pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – centros ligados ao governo paulista – serão usadas por Alckmin como trunfo para reduzir perdas no campo e combater o desemprego. O incentivo ao emprego, segundo Alckmin, pode passar ainda pela “liberação regrada” dos jogos de azar no Brasil, demanda antiga dos empresários do setor de turismo.

Violência e vacina

Com a escalada da violência registrada em todo o País, as estatísticas paulistas passaram a ser tratadas como exemplo. São Paulo é, proporcionalmente, o Estado brasileiro menos violento, com 11 assassinatos por 100 mil habitantes. No Sergipe essa relação é de 64 para 100 mil. O Rio tem a maior quantidade absoluta de casos: 6,2 mil.

Para o deputado federal Betinho Gomes (PSDB-PE), o discurso prioritário adotado até aqui vai ao encontro do que o Nordeste precisa. “Ele está no caminho certo. Tem estudado bem a região e sabe que além de abastecimento de água e segurança, ainda precisamos é de um desenvolvimento regional forte”, afirmou.

No aspecto social, Alckmin tem destacado até aqui preocupação com temas relacionados com a saúde pública, como a urgente necessidade de se vacinar a população contra a dengue e o zika vírus, que causa a microcefalia. Aí está outra vitrine que o tucano pretende mostrar: a única vacina para dengue com 90% de eficácia é desenvolvida pelo Instituto Butantã, do governo estadual. Se vingar, o passo seguinte é incluir a sorologia contra o zika na mesma vacina. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.